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Quinta, 02 Mai 2024

Armagedom: conheça a cachoeira na Venezuela que é cercada de mitos apocalípticos

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Natureza e mistério: essa é uma dualidade que está constantemente presente em histórias envolvendo a região amazônicaCercada de lendas e belezas naturais, a Quebrada de Jaspe ou Salto de Jaspe é uma das cachoeiras mais populares da região de Gran Sabana, na Venezuela, pertencente à Amazônia Internacional.

Entenda o motivo que a modificação da cachoeira pode estar associada ao fim do mundo ou ao apocalipse conhecido biblicamente como "armagedom":

Foto: Kervoo/Wikimedia Commons

Contexto

No dialeto indígena Kako Paru, o nome da cachoeira significa "o fluxo das pedras de fogo". O nome 'Quebrada de Jaspe' também se deve ao fato do fundo da cachoeira ser feito de uma pedra semipreciosa chamada jaspe, de cor vermelha muito forte.

Quem visita a região, próximo ao meio-dia, pode observar a cor da água e em especial o fundo do rio em uma cor vermelho vivo, uma vez que o sol incide diretamente sobre a pedra de jaspe.

Além disso, a cachoeira é popularmente conhecida por ser um tipo de escorregador natural e já foi chamada de 'El Tobogan de Jasper'. Localizada no setor leste do Parque Nacional Canaima, a 'Quebrada de Jaspe' é uma das 47 atrações na área protegida de 30.000 km².

Lenda

Mas o local também é de grande significado ancestral para o povo Pemón. Segundo os mitos indígenas, a história mais popular é que a pedra foi formada quando o deus Pemon Makunaima se irritou com a decisão de um jovem Pemon de ir contra a tradição e se casou com uma mulher da etnia Macuxi. O castigo foi condená-los a se tornarem duas grandes pedras: Abuela Kueka e Abuelo Kako.

No entanto, a crença do povo indígena se tornou um verdadeiro terror apocalíptico. Isso porque, em 1998, o escultor alemão Wolfgang Von Schwarzenfeld levou a pedra de jaspe conhecida como Avó Kueka, pesando 30 toneladas, para uma exposição em homenagem - ironicamente - à paz, a 'Global Stone', no Parque Municipal Tiergarten em Berlim, Alemanha.

E é nesse ponto que surge a questão do apocalipse.

Foto: Reprodução/El Ciudadano

O armagedom da América

Relatos divulgados pela mídia internacional desde 2018, mostram duas versões: a primeira é que durante o governo de Rafael Caldera, a pedra sagrada foi dada como "doação" pelo então ministro do Meio Ambiente, Hector Hernandez, ao escultor alemão Wolfgang von Schwarzenfeld, que a levou para Berlim e a usou como parte de uma instalação intitulada "Global Stone"; e a segunda é que alguns relatos informam que a pedra, na verdade, teria sido concedida ilegalmente ao alemão.

O problema é que depois de pegar a pedra, o escultor a poliu e cortou, tornando-se um ato doloroso para o povo Pemon, que denunciou que a avó Kueka "foi roubada, esfolada e exposta".

Aa alterações na pedra, para os Pemones, é uma ação inimaginável, uma vez que elas são como seres protetores ou até mesmo, de acordo com estudos antropológicos, quase como uma figura materna. E quando esse 'espírito protetor' está desaparecido, tragédias podem acontecer.

Para eles, inclusive, desde a retirada da pedra, os desastres e desequilíbrios naturais ocorreram em função da falta dela em seu lugar original. E mais: o apocalipse poderia começar exatamente naquela região.

Devolução

Desde então, teria se iniciado uma saga em busca da devolução. Após 20 anos, quando as negociações foram positivas à devolução, representantes da etnia realizaram um "ritual de cura" para limpar o pedra Avó Kueka antes doo processo de repatriação para o Parque Nacional Canaima.

O Parque Nacional Canaima, onde as pedras estavam, foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1994. 

A devolução das pedras só ocorreu após vários esforços diplomáticos. A declaração dAvó Kueka e Avô Kako como Monumento Nacional que faz parte do Patrimônio Cultural da Venezuela, em abril de 2022, coincide com a devolução da pedra sagrada às terras venezuelanas.

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