O verso que inspira a bienal é “faz escuro mas eu canto, porque o amanhã vai chegar” e integra o poema ‘Madrugada Camponesa’
“Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar”. O verso é de 1965, escrito pelo poeta amazonense Thiago de Mello, mas volta ao debate mesmo após 50 anos ao fazer parte da 34º Bienal de São Paulo, que faz uma homenagem ao artista.
O filho do poeta, que também se chama Thiago de Mello, falou sobre a relevância da obra para a família. O poeta, que hoje tem 95 anos, não pôde dar entrevista por problemas de saúde, mas o filho do artista falou sobre a força dos versos atualmente.
“Quando a Bienal entrou em contato conosco mencionando esse desejo de usar o tema ‘Faz escuro mas eu canto’ foi um motivo de muita alegria para todos nós. Essa homenagem, que na verdade eu acho que é mais do que somente uma homenagem, revela a força perene da poesia, da arte e é um verso muito poderoso”, comentou Thiago.
O verso que inspira a bienal faz parte do poema ‘Madrugada Camponesa’. O poema também ganhou uma versão musical, através de uma parceria entre Thiago de Mello e o músico Monsueto Menezes, no mesmo ano em que foi lançado.
“Desde sempre esse verso se desdobrou em muitos perfis e muitas linguagens, além de possibilidades de revelar para o mundo uma vontade de transformação, superação e utopia, mas é também um verso carregado de esperança e alegria. Ele traz um valor de indignação sobre injustiças, mas não uma indignação que nos paralisa, mas uma que nos movimenta, nos lembrando sempre que estamos em movimento e que devemos cantar. Como se a arte, a música, a poesia, sempre tivesse essa força transformadora”, ressalta.
A 34ª Bienal de São Paulo estava prevista para 2020, mas teve que ser adiada por conta da pandemia. A Bienal tem mais de 1.100 trabalhos de 91 artistas de todos os continentes. Desde o dia 4 de setembro, ela está aberta ao público no Parque do Ibirapuera.
Thiago de Mello, nascido em Barreirinha , no interior do Amazonas, é um dos poetas da região mais conhecidos, tanto nacionalmente quanto de forma internacional. Thiago conta que o município do interior do Amazonas, que fica a 350 quilômetros da capital, foi também fonte de inspiração e formação dos filhos do poeta.
“Cresci em Barreirinha, são 24h de barco para sair da capital e chegar até o município. A minha relação com meu pai sempre se deu através da música, da poesia, da arte. Então sempre foi muito natural para mim estar nesse universo artístico”, contou. “Sou muito ligado com esse município e com as memórias que ele nos traz, com a casa cheia de obras de arte, quadros e da relação dele com outros artistas. Essa relação com a arte sempre foi muito familiar”, relembra.
A pandemia
Na família de Thiago a pandemia representou um momento de muitos desafios. Por ter uma doença que atinge o sistema nervoso, os cuidados durante a pandemia tiveram que ser redobrados.
“Meu pai está morando em Manaus e por conta da pandemia tivemos que nos afastar, nos resguardar. Hoje em dia meu pai luta contra uma Neuropatia, que vem debilitando muito a saúde dele”, conta.
Símbolo de esperança
Para os que forem conferir a exposição,Thiago deixa o símbolo de esperança e uma comparação entre o tempo em que o poema foi escrito e os dias atuais.
“A gente vive tempos duros hoje em dia, assim como nos anos 60. Aquela foi uma época de muitos sonhos e esse verso aparecer agora é como se nos dessem a chance de sonharmos e realizarmos eles. Acredito que tem isso em jogo”, afirma.
A visitação na 34ª Bienal de São Paulo é gratuita, mediante apresentação da carteira de vacinação com pelo menos uma dose. Ela funciona de terça à domingo até o dia 5 de dezembro.