Carta para o futuro: Francisco Vera participa do Glocal Experience em Manaus

Com 14 anos, o ativista ambiental é uma liderança com destaque mundial e o primeiro jovem defensor do meio ambiente e da ação climática para a América Latina e Caribe.

A Glocal Experience Amazônia teve início na manhã do sábado (26), ocupando o Centro Histórico de Manaus (AM) com oficinas, palestras, painéis e shows em torno do debate climático pela perspectiva da Amazônia. A manhã do primeiro dia de evento finalizou com o momento de firmar compromissos com as próximas gerações.

Na ocasião foi lida a ‘Carta para o futuro’, com a presença de Francisco Vera, o ativista ambiental de apenas 14 anos que é uma liderança com destaque mundial e o primeiro jovem defensor do meio ambiente e da ação climática para a América Latina e Caribe.

Confira na íntegra Carta para o Futuro: 

Declaração conjunta de crianças e adolescentes: #ecohope (ecoesperança) é a única opção 

O planeta está dividido entre a vida e a morte das espécies que o habitam, devido às alterações climáticas. As medidas que estão a ser tomadas por aqueles que podem mitigar este fenómeno são pouco ambiciosas, se não mesmo insuficientes e vagas.

Este fenômeno tem múltiplos efeitos na vida cotidiana dos seres humanos, mas estes tendem a causar maiores danos a grupos populacionais específicos, como as crianças e os adolescentes nos países do sul global; para garantir os direitos básicos das crianças, precisamos de políticas de mitigação e adaptação às alterações climáticas e da inclusão daqueles de entre nós que sofrem os efeitos mais dramáticos e veem o seu presente e futuro comprometidos.

A partir do Movimento ‘Guardianes por la vida‘, convocamos diversas organizações e plataformas de crianças da América e da Europa para formar a “Coligação Eco Hope” com o objetivo de nos mobilizarmos para exigir o nosso Direito a um Ambiente Saudável como um Direito Humano num contexto de crises planetárias que ameaçam a vida.

A Coalizão Eco Hope parte da ideia de que crianças e adolescentes são sujeitos políticos, com voz potente e uma cidadania que colocamos a serviço da vida. Realizamos ações que buscam fomentar a consciência ambiental dos cidadãos com ecohope [edoesperança] e exigir dos governos que governem para a vida e tomem medidas climáticas responsáveis JÁ!

Apesar dos lentos avanços na inclusão das nossas vozes e agendas nos espaços de participação, representação e incidência política, constatamos com tristeza que continuamos a ser os convidados de pedra daqueles que “nos têm em conta” não só as entidades governamentais mas também as entidades que trabalham “para as crianças e os bebês”;

Parece que o lema é “Pelas crianças, para as crianças, mas sem as crianças”; os espaços de participação dos cidadãos com menos de 14 anos são inexistentes e somos condenados ao silêncio e, no melhor dos casos, à crítica por querermos participar nas decisões que nos envolvem. Por esta razão, e porque acreditamos firmemente que somos os cidadãos poderosos de agora, queremos mobilizar esta Declaração, porque queremos que as crianças tenham uma participação real, representativa, substancial e igualitária.

Não nos vemos incluídos nas Declarações feitas por outras faixas etárias, como os jovens, porque nunca podemos comparar as experiências, expectativas e vivências das crianças e adolescentes com as de outras faixas etárias e afirmamos que quando nos colocam no mesmo espaço de reivindicações e propostas, fazem-no para “preencher” um espaço que não expressa os nossos verdadeiros sentimentos. É por isso que deliberamos e reunimos coletivamente as petições que se seguem, com a certeza de que estamos a contribuir para a construção de uma sociedade que deixe para trás o centrismo adulto que nos silencia e magoa, e que ultrapasse a pior crise que a humanidade enfrenta, que é a crise sem futuro: a crise climática.

SOLICITAÇÕES

Garantia de direitos

Observamos que as crianças do mundo, apesar dos avanços na legislação e nos Acordos internacionais que nos protegem, continuamos a ter os nossos direitos elementares descobertos, especialmente nas regiões do Sul global onde ainda neste momento há crianças que sofrem de fome, insegurança alimentar, doenças devido ao acesso à água potável e ao saneamento básico, não têm acesso à educação por não terem conectividade suficiente em áreas remotas das cidades e até mesmo, em lugares como a América do Sul e África, porque não há estradas em condições adequadas.

Isto requer a vontade política dos governos e da sociedade civil para que a garantia destes direitos, num contexto de crise climática, seja uma prioridade e para que não haja uma única criança no mundo que seja violada ou vulnerável.

Pedimos também que nos seja garantido o verdadeiro direito a um ambiente saudável, que inclui o direito ao ar puro, a zonas verdes nas cidades, a mares livres de plásticos e de poluição, a rios e montanhas, a montanhas cobertas de neve e a charnecas e outros ecossistemas conservados.

Cidadania, clima e educação ambiental

O planeta está a atravessar a pior crise da história recente, a crise climática que ameaça a vida dos seres humanos e de outras espécies; este é o fracasso de uma sociedade que não teve em conta a vida, transmitindo uma educação bélica que é evidente nas muitas ações que praticamos. É por isso que, como crianças que veem o nosso presente comprometido, exigimos aos governos que nos deem:

Educação para a cidadania: Sermos capazes de levantar a voz como sujeitos políticos que compreendem que as ações individuais têm consequência coletivas e que a mobilização para causas que melhorem o mundo é legítima e tem a ver com os nossos direitos.

Educação ambiental: Para nos permitir reconhecer a biodiversidade presente no nosso planeta e amá-la, respeitá-la, cuidá-la e defendê-la. Educação climática: Para nos permitir compreender o que são as alterações climáticas, como nos afetam e dar-nos ferramentas para mitigar e adaptarmo-nos a este fenómeno que afeta as nossas vidas e as nossas infâncias. No entanto, este é também um apelo à sociedade civil, porque ensinar as pessoas a amar a vida não é apenas uma obrigação dos governos, mas também das famílias e das comunidades.

Políticas reais de adaptação às alterações climáticas nos territórios

Isto inclui a adaptação das infraestruturas e a inclusão de elementos que tornem as cidades sustentáveis, respeitando todas as formas de vida; não queremos que as crianças do Sul global tenham que pôr em risco as suas vidas sempre que vão para a escola, expondo-se a condições indignas que afetam a sua qualidade de vida e que serão cada vez mais agravadas pela crise climática. Nós, que vivemos no Norte global, estamos conscientes das condições de injustiça geradas pelas desigualdades entre o Norte e o Sul global, e somos solidários com as crianças que não tiveram o mesmo acesso aos direitos que nós tivemos.

Maiores espaços de representação e participação em espaços reais de tomada de decisão

Congratulamo-nos com o fato de existirem cada vez mais espaços de representação e participação em locais de tomada de decisão, mas acreditamos firmemente que esses espaços ainda precisam de ser não só de representação, mas também de participação. Queremos ser reconhecidos como um grupo populacional diferenciado das demais faixas etárias e que possamos desenvolver lideranças que precisam de condições para se empoderar de fato, que nos permitam colocar nossa cidadania a favor da vida e assim gerar as transformações que este momento da história nos exige. Por fim, apelamos aos governos do mundo para que descarbonizem a vida, descarbonizem a economia e façam todos os esforços para não permitir um aumento de temperatura superior a 1,5°C, respeitando os compromissos assumidos no Acordo de Paris. Têm o nosso presente e o nosso futuro nas vossas mãos. Não deixem que a história vos recorde como aqueles que permitiram este atentado à vida! Contem com milhões de nós em todo o Planeta para enfrentar este desafio de construir uma sociedade biocêntrica com #ecohope.

Quem é Francisco Vera 

Francisco Vera é referência ativismo ambiental desde os seus 10 anos, é fundador de um grupo ‘Guardianes por la Vida‘ (Guardiões pela Vida), que pauta emergências climáticas na América Latina por uma perspectiva global. Atualmente o grupo está maior e presente em vários países, como Argentina e México. 

Na Colômbia, Francisco já se tornou bastante conhecido, chegou a discursar no Congresso. Com a repercussão política, infelizmente, recebeu ameaças de morte através das redes sociais, em 2019, por isso, foi exilado aos 12 anos. É a primeira vez que Francisco volta à Amazônia após esses acontecimentos. 

Sobre a Glocal Experience Amazônia

A Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O evento retornará à capital carioca no período de 5 a 8 de outubro. Este encontro deverá ser anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia, a exemplo de Boa Vista (RR), que já recebeu uma mini edição do encontro. Em Manaus são 70 horas de conteúdo gratuito e sua programação completa está disponível no site do evento.

A Glocal Experience Amazônia tem o apoio do Governo do Amazonas, Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Secretaria do Meio Ambiente, Navegam e Parque Mosaico; idealização e operação Dream Factory; e realização Fundação Rede Amazônica. 

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