Idealizada por clientes do histórico Bar do Armando, a Banda da Bica é uma das mais populares do carnaval de rua em Manaus desde 1986.
A Banda da Bica é, certamente, uma das celebrações de Carnaval de rua mais conhecidas da cidade de Manaus (AM). Sendo uma das mais antigas – tem conquistado os foliões desde 1986 – a permanecer no calendário dos que amam o Carnaval, a Banda Independente da Confraria do Armando (Bica) surgiu como uma ideia de antigos frequentadores do Bar do Armando, um dos mais tradicionais do Centro da cidade. E permanece atrelada a cultura boêmia do estabelecimento.
Que inclusive é famoso pelo sanduíche de pernil e pelos bolinhos de bacalhau, por ser um dos mais antigos pontos de encontro de artistas e políticos da capital amazonense e também pelo legado do português Armando Dias Soares, cujo nome batiza o local. Desde então, há mais de seis décadas, o bar é um ícone da cultura amazonense, Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Amazonas desde 2015 e espaço para formação da Banda da Bica.
“A Bica foi declarada como Patrimônio Cultural do Amazonas, então ela passou a ser da cidade, embora a organização ainda fique com a gente. Mas ela tem toda a ligação com o Bar do Armando, já que foi criada dentro do Bar do Armando e por clientes do Bar do Armando, então, ela saiu dali. Então tem sim uma importância muito grande, ao ponto de ter sido reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do Estado do Amazonas”, destaca Ana Cláudia.
E é a irreverência da banda que a torna tão conhecida, principalmente por marchinhas que sempre tratam de assuntos polêmicos, mexendo com a opinião social e incentivando discussões principalmente sobre o cenário político local. A direção, que sempre esteve atrelada ao bar, passou para Ana Cláudia Soeiro, filha de Armando, atual administradora, que mantém a tradição carnavalesca.
“A bica foi fundada pelos clientes do Bar do Armando. Eram aproximadamente seis pessoas, que se juntaram para fazer um Carnaval lá no bar. Ano após ano, esse Carnaval foi crescendo e crescendo, até ficar como está hoje. Sempre com uma marchinha própria, sempre abordando temas políticos ou sociais, relacionados à nossa cidade, à nossa região”,
conta Ana Cláudia.
A banda é realizada todos os anos no Sábado Magro de Carnaval. De acordo com a filha de Armando, os responsáveis atuais pretendem continuar a manter as tradições que tanto fazem a fama da banda.
Relembrando a trajetória, para Ana Cláudia, uma das edições mais marcantes foi a de 2020. “Porque o período da Bica sempre é no Inverno Amazônico. Então sempre chove. Eu fico sempre muito temerosa de como vai ser no dia. Se vai chover, se não vai. E quando a chuva cai, depois que o povo já está lá, não tem tantos problemas. Todo mundo já está na euforia, na folia e acabam não se importando com a chuva. O grande problema é quando a chuva acontece antes do evento mesmo”, relembra.
Foi exatamente o que aconteceu naquele ano. “A gente começava a Bicas às três da tarde. Mas, como esse horário é cedo, as pessoas costumam ir chegando um pouco mais tarde. Às três e meia começou a chover e uma chuva muito forte. Eu pensei ‘pronto, agora acabou’. Achei que ninguém ia sair de casa para ir para Bica com aquela chuva. E o que aconteceu? A chuva não deu trégua! Só foi parar oito e meia da noite. Mesmo assim, as pessoas chegavam, debaixo de chuva, para Bica. Lá pelas cinco e meia, seis horas, a Bica já estava completamente lotada”, conta.
“Outro evento que foi muito marcante para mim foi o do ano passado, de 2023. A gente tava comemorando os 60 anos do Bar do Armando e foi uma das Bicas mais bonitas. Foi tudo perfeito. A festa estava linda. Tudo deu certo, não tivemos nenhum incidente. Foi maravilhoso!”, celebra Ana Cláudia.
E a tradição carnavalesca que consegue aliar temas instigantes ao lazer das famílias segue atraindo multidões para as ruas de Manaus. “A Bica é uma banda que tem muita segurança, que resgata as marchinhas de Carnaval tradicionais. Onde muita gente, que já não frequenta mais nenhuma outra festa, se sente a vontade de estar. Muita gente levando os avós, os pais, os filhos, e isso é um motivo de muito orgulho para gente”, afirma Ana Cláudia.
“A Bica se sente muito orgulhosa por ter ajudado a resgatar o Carnaval de rua, porque quando ela surgiu, que eu me lembre, a grande banda tradicional da época era a Banda do Mendes Bar e só. O que era forte na época eram os Carnavais de clubes, a gente não tinha Carnaval de rua. Hoje a gente vê o movimento oposto, o Carnaval nos clubes perdeu a força e houve a proliferação de bandas pela cidade. Porque a Banda é democrática, livre, gratuita e é o verdadeiro Carnaval tradicional”,
finaliza.
Carnaval Amazônico
O Carnaval Amazônico é um projeto realizado pela Fundação Rede Amazônica, correalizado pelo Grupo Rede Amazônica, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas. Ele visa resgatar a importância histórica das tradicionais bandas e blocos de Carnaval de Manaus.
Flashs ao vivo, clipes das bandas, campanhas educativas (conscientização contra direção perigosa, combate à exploração sexual de mulheres e crianças e infecções sexualmente transmissíveis) e campanhas ambientais (plantio de mudas de árvores em área pré-selecionada, programa de coleta de resíduo e compensação da emissão de carbono) também fazem parte do projeto.
O Carnaval Amazônico busca unir tradição, cultura e entretenimento, levando um pedaço da Amazônia para o público de toda a Região Norte.