Reparação pela educação: jovem indígena conquista aprovação em Programa de Mobilidade Internacional

Alícia acredita que o investimento e o incentivo à educação indígena podem proporcionar a abertura de oportunidades para lutar pelos direitos indígenas e reafirmar a identidade do seu povo.

Reparar quer dizer corrigir, retratar-se, ressarcir. A reparação histórica está relacionada ao dever moral de toda sociedade lidar com a desigualdade social promovida por colonizadores com minorias, como povos originários da AmazôniaE é em busca de procurar alguma justiça histórica, que a jovem indígena da etnia Kokama, Alícia Patrine Cacau dos Santos, vai dar voz ao seu povo no continente europeu.

A jovem conquistou a aprovação no Programa de Mobilidade Internacional Indígena ‘Guatá’, garantindo uma bolsa de estudos na Université Paris 8, na França.

O Portal Amazônia conversou com Alícia sobre sua trajetória, impacto da educação indígena e a importância dessa conquista.

Alícia vai para França através de um Programa de Mobilidade Indígena. Foto: Divulgação/UEA

Foco na educação

Biomédica de formação, Alícia é hoje doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (PPGMT/UEA), em Doenças Tropicais Infecciosas, em uma parceria com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado.

Natural de Tabatinga, no Amazonas, a jovem acredita que o investimento e o incentivo à educação indígena podem proporcionar a abertura de oportunidades para lutar pelos direitos indígenas e reafirmar a identidade do seu povo. 

“Precisamos ocupar esses espaços de debate, para de alguma forma ajudarmos uns aos outros”,

 afirma.

Contudo, ela também conta sobre os percalços enfrentados na educação indígena. 

Segundo ela, o incentivo à educação indígena podem proporcionar a abertura de oportunidades para lutar pelos seus direitos. Foto: UEA/Divulgação

“A educação melhorou nos últimos anos, mas para quem é do interior do Estado como eu, sabe que ela resiste com o que tem. Nem sempre temos todos os professores das disciplinas, às vezes a infraestrutura não é adequada. Em muitas áreas ribeirinhas, as crianças e adolescentes passam uma época do ano sem aulas, porque os rios secam e não há possibilidade de chegar às escolas, que muitas vezes são em comunidades diferentes das quais vivem. Nós resistimos, muitas vezes sem acesso a internet ou qualquer tipo de comunicação”,

relata.

Oportunidades

Em relação aos programas de pós-graduação, Alícia fala que existem diversas oportunidades, mas nem todas são inclusivas com a realidade dos candidatos. 

“Alguns editais infelizmente ainda não propõem soluções para candidatos que passam em seus processos e não podem deslocar-se até a capital do Estado, sem perspectiva de bolsa e alojamento estudantil, perpetuando a ideia de que a universidade não é para todos”, pontua.

A jovem comenta que nem todos os editais são inclusivos. Foto: Divulgação/UEA

Ela contou ao Portal Amazônia que o ‘Guatá’, resultado da parceria entre a Assessoria de Relações Internacionais (ARI) da UEA e o governo francês, por intermédio da Embaixada da França, em Brasília, foi um desses programas inclusivos que encontrou o que buscava. “Esse edital é pioneiro e foi pensado e construído pela embaixada francesa para que indígenas pudesse fazer intercâmbio, considerando suas especificidades”, declara.

Sentimento de reparação

Atualmente, Alícia também faz pós-graduação em Antropologia Cultural, pois acredita que esse é o caminho para a defesa de uma reparação histórica concreta. “Sempre tive o sonho de sair do país para aprender e aprofundar o conhecimento, pois será uma reparação histórica porque durante muito tempo fomos marginalizados e esquecidos”, afirma.

Dicas 

Alicia finaliza dando cinco dicas para outros indígenas que busquem se desenvolver por meio da educação:


  1. “Buscar aprender idiomas, dentro da sua realidade (mesmo com livros, vídeos, professor, aula no Youtube) faça o que for possível no momento;
  2. Não se importar com a opinião alheia se não for incentivo;
  3. Não desistir, com os diversos nãos que virão, até receber o sim. Eu mesma, recebi vários nãos, até ser selecionada nesse edital;
  4. Espelhar-se em pessoas ao seu redor que você admira;
  5. Lutar para aldear esses espaços, porque nós indígenas, merecemos ocupar esses espaços, merecemos estar nesses lugares e nos vamos conseguir. Porque lugar de indígena é onde ele quiser”.
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