Professor da Amazônia é selecionado ao ‘Prêmio Nobel’ da Educação

Professor Valter Menezes percorrendo as ‘estradas’ da Amazônia. Foto: Reprodução/Facebook

Uma boa ideia impulsionada por uma boa intenção levou professor do município de Parintins, no Amazonas, Valter Pereira de Menezes, a ser um dos 50 selecionados para o Global Teacher Prize, prêmio internacional equivalente o ‘Prêmio ao Nobel’ da Educação.

Valter trabalha há 22 anos na Escola Municipal Luiz Gonzaga, localizada na comunidade ribeirinha Santo Antônio do Tracajá, na zona rural. A iniciativa que projetou o docente internacionalmente é intitulado ‘Água limpa para os curumins do Tracajá’. Com o projeto, o professor conseguiu movimentar os alunos e juntos utilizar as ciências biológicas para resolver o problema do esgoto na comunidade de Santo Antônio do Tracajá.

Tudo começou em 2014, durante a semana de meio ambiente da Escola Municipal Luiz Gonzaga, um evento anual onde os alunos apresentam projetos ambientais. Durante a semana, um dos alunos questionou o professor sobre a relação entre o nível dos rios e o aumento de casos de diarréia. Por que os casos de diarréia aumentavam durante o período de cheia e cheia? Segundo o professor a água que abastecia a comunidade é de um poço artesiano não encanado. Sem esgoto todos os dejetos humanos vão parar nos lençóis freáticos contaminando o poço durante a subida e descida dos rios.

A partir daí o Valter passou a investigar o problema e tentar levantar possíveis soluções. A primeira delas foi entrar em contato com duas organizações não governamentais, a Asas de Socorro e a Tearfund, que instalaram 180 filtros bioativos de areia nas casas das famílias que moram à beira do rio e que não tinham água encanada. Assim, foram mais de 20 fossas instaladas para os ribeirinhos da comunidade Santo Antônio do Tracajá.

Mas com o tempo ficou perceptível outro problema. O que fazer quando as fossas ficarem completamente cheias? Foi aí que o projeto ‘Água limpa para os curumins do Tracajá’ passou a funcionar. Bananeiras foram plantadas pelos aluno junto às fossas da comunidade. As plantas se tornam catalisadores ambientais por se alimentarem do líquido das fossas. Conforme o educador, as fossas biológicas de bananeira são construídas como as convencionais, porém revestidas para isolar os dejetos humanos do lençol freático e filtrar a água através da bananeira.

Práticas sólidas

A partir do projeto os alunos tiveram que utilizar na prática o conhecimento aprendido nas aulas de biologia da escola. Segundo o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pesquisador na área de educação, Jardel Claudino, práticas que vão da teoria à prática solidifica o conhecimento dos alunos e os fazem interagir com problemas reais. “Se você perguntar desses alunos que participaram do projeto a resposta mais provável é que o projeto foi algo bem diferente para eles. Provavelmente a assimilação dos mecanismos biológicos foi muito mais profunda e a prática em campo fizeram eles ressignificar o conhecimento aprendido em sala de aula”, afirma o pesquisador. 

Professor Valter Menezes junto com os alunos do projeto. Foto: Reprodução/Facebook

A professora parintinense, Norma Medeiros, avalia que projetos de educação fora da sala de aula têm se tornando cada vez mais comuns. “Hoje é que as escolas estão adotando práticas como a do professor Valter, com projetos que trabalham tanto com a parte teórica quanto a prática. Algo muito diferente do básico: tarefa, trabalho e prova, que acontece no dia-a-dia das escolas em todo o Brasil”, diz Norma.

Professor Nota 10

O Professor Valter Menezes também venceu em 2015 o prêmio Educador Nota 10, promovido Fundação Victor Civita no Brasil, e que destaca os melhores professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental e também gestores escolares de todo o país. O Prêmio seleciona todos os anos a partir de uma comissão, composta por profissionais da Educação, os dez  Educadores Nota 10. Em 2015 mais de 3.000 educadores, professores, gestores escolares e coordenadores pedagógicos, de diversos segmentos de ensino, enviaram seus projetos.

*Com informações da Tearfund

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