Pesquisa sobre malária na Amazônia vence Prêmio CAPES de Tese de 2023

Em parceria com Itaú, Dimensions Sciences, Fundação Carlos Chagas e Instituto Serrapilheira, a CAPES realizou a 18ª edição da premiação nacional dia 14 de dezembro.

A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) premiou, no dia 14 de dezembro, pela 18ª vez, as melhores teses defendidas no Brasil. A cerimônia ocorreu no Auditório Anísio Teixeira, na sede da Fundação, em Brasília, e contou com a participação dos 49 vencedores das áreas do conhecimento. Entre eles, a Amazônia teve destaque com o prêmio destinado a uma autora na área de Biotecnologia com trabalho voltado para inovação e empreendedorismo, por tese que trouxe avanços para o diagnóstico da malária.

Concorrendo com 1.469 trabalhos de todo país, a tese ‘Novas abordagens para o desenvolvimento de insumos e métodos para o diagnóstico de malária’ é de Juliane Corrêa Glória, graduada, mestre e doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM/2022), o último com período sanduíche no Instituto Superior de Engenharia do Porto (Porto-Portugal), onde desenvolveu um sensor eletroquímico de impressão molecular para detecção de antígeno malárico. Atualmente é pós-doutoranda pelo PPGBIO-Interação do ILMD/Fiocruz Amazônia e, realiza estudos com foco no desenvolvimento de anticorpos IgY e scFv para diagnóstico de malária e outras doenças infecciosas.

Orientada por Luis André Mariúba, pesquisador do Laboratório de Diagnóstico e Controle de Doenças Infecciosas na Amazônia (DCDIA), do ILMD/ Fiocruz Amazônia, a tese busca por novos insumos e métodos para o diagnóstico de malária. “No decorrer do trabalho, exploramos técnicas em nanotecnologia, biologia molecular, imunologia aplicada e desenvolvimento de sensores eletroquímicos. Com isso, nós desenvolvemos um novo método de solubilização de nanotubos de carbono para que estes fossem utilizados como carreadores em imunizações de galinhas com peptídeos sintéticos de proteínas do parasita da malária”, explica Juliane Glória.
Foto: Eduardo Gomes/ILMD Fiocruz Amazônia

A patente referente ao desenvolvimento desse método, foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), em 2018 e, os resultados também foram publicados em uma revista internacional em 2020. “Nós pudemos constatar que as galinhas imunizadas produziram anticorpos contra os marcadores alvo. Com isso, extraímos esses anticorpos, chamados de IgY, da gema dos ovos das galinhas, por meio de uma metodologia simples que causa o mínimo de desconforto e dor aos animais, a qual foi adaptada por nossa equipe e, cuja patente referente ao método de obtenção foi depositada em 2020. Esses anticorpos foram capazes de reconhecer a proteína alvo em amostras de sangue total de pacientes com malária, sem apresentar reatividade cruzada com amostras de pessoas saudáveis”, esclarece a pesquisadora.

Durante o doutorado, Juliane teve a oportunidade de ampliar os objetivos de sua pesquisa, utilizando biossensores eletroquímicos, por meio de um doutorado sanduíche. 
“No ano de 2021 surgiu, por meio de uma parceria com o Dr. Walter Brito (UFAM), a oportunidade de realizar um período sanduíche no Instituto Superior de Engenharia do Porto. Então, passei 6 meses morando em Portugal, trabalhando em um biossensor eletroquímico de impressão molecular. Nesse estudo, que foi o primeiro a aplicar a metodologia de estudo, tendo como alvo um antígeno marcador de infecção de malária. Nós trabalhamos com o que chamamos de “anticorpos plásticos”, que são moldes produzidos com polímeros resistentes e econômicos, para que o antígeno seja detectado por meio de sinais elétricos ao encaixar nesse molde”, destaca.

Apesar de ter realizado mestrado e doutorado pela UFAM, Juliane faz parte do grupo DCDIA da Fiocruz Amazônia desde seu ingresso no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC) da Instituição. Sobre a honraria, Juliane afirma que receber o prêmio é um fato marcante em sua trajetória, em especial pela relevância da premiação, em uma categoria que premia teses realizadas por mulheres no Brasil.

“Quando nos inscrevemos para concorrer ao prêmio, confesso que achava muito difícil que ganhássemos, porque temos aquela ideia errada de que não conseguimos competir com o restante do país, principalmente na área de biotecnologia. Mas meu orientador confiou no nosso trabalho e isso foi um grande incentivo para que eu quisesse me inscrever. Foi um choque imenso receber um dos prêmios de melhores teses da CAPES, em parceria com a Dimensions Sciences, que é uma categoria especial que premia teses realizadas por mulheres, que tenham biotecnologia, inovação ou empreendedorismo como tema. É incrível ser reconhecida por todo esforço que fizemos, para conseguir os resultados que tivemos pois, geralmente, todos os 4 anos de doutorado se resumem ao momento de defesa e ao recebimento do diploma. No nosso caso, foi possível receber essa honraria que é a maior que um pós-graduando pode receber aqui no Brasil”,

conta Juliane.

Foto: Eduardo Gomes/ILMD Fiocruz Amazônia

Essa é a primeira vez que um estudo desenvolvido nos laboratórios da Fiocruz Amazônia tem uma tese escolhida como a melhor do Brasil pela CAPES. “Ficamos muito honrados com a escolha, pois sempre acreditamos muito no trabalho desenvolvido. Juliane foi uma aluna muito dedicada, focada e soube aproveitar bem as oportunidades que lhe apareceram durante seu doutorado. Os resultados obtidos deram base para a continuação da pesquisa em novos trabalhos, como no atual pós-doutorado que a Juliane está realizando, além de novos projetos de PIBIC, mestrado e doutorado de outros estudantes. Este prêmio nos motiva a continuar buscando inovar cada vez mais no desenvolvimento de insumos e métodos para a saúde”, pontua Luis André Mariúba.

Ao falar sobre a premiação, a jovem doutora fez questão de expressar o sentimento de gratidão, aos pesquisadores e colegas de trabalho que contribuíram para sua formação, bem como experiências acadêmicas e científicas vivenciadas. “Acredito que seja difícil para as pessoas entenderem o quanto é complexo desenvolver um projeto científico. Muito do nosso tempo e energia é requerido para que possamos realizar o melhor trabalho possível. Gostaria de deixar registrada minha gratidão ao melhor orientador que eu poderia ter, Dr. Luis André Mariúba, que me incentivou e apoiou em todos os nossos projetos, durante os 10 anos que estamos trabalhando juntos. Ao meu coorientador, Dr. Walter Brito, pois foi por intermédio dele que foi possível fazer o doutorado sanduíche. E à minha orientadora em Portugal, Dra. Felismina Moreira, que teve muita paciência ao me ensinar algo que nunca havia feito e, a todos os meus colegas do Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP, que me acolheram da melhor maneira possível”, destaca Juliane, ao lembrar sua trajetória.

Foto: Eduardo Gomes/ILMD Fiocruz Amazônia

Prêmio CAPES de Tese

Criado em 2005, o Prêmio CAPES de Tese reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil. A premiação é fruto de parceria entre a CAPES, a Fundação Carlos Chagas, o Instituto Serrapilheira e, a partir desta edição, o Banco Itaú. Para conceder os prêmios, a CAPES leva em conta a originalidade do trabalho e a relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação do País.

No evento, foram entregues os Grandes Prêmios CAPES de Tese (Humanidades, Ciências da Vida e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar) e as honrarias do Banco Itaú, Dimensions Sciences, Fundação Carlos Chagas e Instituto Serrapilheira, parceiros da Agência no evento. Os três vencedores dos Grandes Prêmios de 2023 foram escolhidos entre os 49 que já haviam sido premiados anteriormente. 

O evento serve como termômetro do que tem sido produzido na ciência brasileira, observou Mercedes Bustamante, presidente da CAPES. “Ao celebrarmos os trabalhos dos novos jovens cientistas, indicamos como suas produções impactam a sociedade, a cultura, o meio-ambiente do País”, disse a gestora, que ainda destacou que 25 das 49 áreas foram vencidas por mulheres. Denise Carvalho, secretária de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), adicionou: “Esta premiação reconhece a excelência dentre os excelentes”.

Logo antes da entrega, houve um momento de homenagem. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) celebrou a memória do físico Ennio Candotti. O cientista nasceu na Itália, mas chegou ao Brasil em 1952 e por aqui fez toda sua carreira. Falecido no último dia 6, Candotti foi presidente da SBPC por quatro vezes e, desde 1999, era presidente de honra da instituição. Ele ainda fundou e foi o primeiro diretor do Museu da Amazônia (Musa), deixando um legado de dedicação à ciência do País.

*Com informações da CAPES e da Fiocruz Amazônia

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