Oficinas promovem prática de jornalismo para indígenas em Manaus

Entre as oficinas oferecidas pelo projeto realizado no Parque das Tribos estão: Introdução às crônicas do Jornalismo, Produção da Notícia, Fotografia, Diagramação e Entrelaçamento de culturas.

Considerado um dos principais instrumentos para a prática da democracia, o jornalismo possui a versatilidade de disseminar informações sobre as mais diversas temáticas. Na Amazônia, as principais produções jornalísticas envolvem cultura e meio ambiente, por ser uma região rica em diversidade. Nesse contexto, é necessária a responsabilidade no momento de transmissão de uma notícia. Quando passada de forma errônea, é capaz de gerar consequências irreversíveis.

Quando se trata de cultura e meio ambiente, existe a necessidade de produzir reportagens que representem os povos originários da Amazônia. Tendo em vista essa necessidade, os povos indígenas que moram na comunidade Parque das Tribos, no bairro Tarumã-Açu, em Manaus (AM), solicitaram aulas para entender como praticar um jornalismo responsável, capaz de transmitir as informações sobre o ponto de vista desses povos indígenas.

Para atender essa demanda, docentes da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em conjunto com líderes indígenas do Parque das Tribos – entre eles o cacique Ismael Munduruku e as lideranças Isael Franklin Gonçalves, da etnia Munduruku, e Danielle Delgado Gonçalves, da etnia Baré – decidiram iniciar oficinas de jornalismo no local.

Portal Amazônia conversou com a coordenadora do projeto, mestre e doutora em Comunicação Social, Mirna Feitoza, líder do Mediação Grupo de Pesquisa em Semiótica da Comunicação, sobre a importância dessa iniciativa..

O projeto, que iniciou em outubro de 2022, disponibiliza oficinas gratuitas com temáticas jornalísticas e suas práticas aplicadas ao cotidiano da comunidade indígena. 

Ao todo serão disponibilizadas nove oficinas, com previsão de conclusão em julho de 2023. Segundo a coordenadora do projeto, o objetivo do projeto é apoiar a prática do jornalismo feito pelos próprios indígenas, expressando sua diversidade cultural e cosmovisão.

“O objetivo específico é favorecer o desenvolvimento do jornalismo praticado pelos próprios indígenas e apoiar a inclusão do ponto de vista indígena na cobertura dos acontecimentos por meio do jornalismo indígena. Além de promover a preservação e a expressão da diversidade cultural, étnica, linguística e a cosmovisão dos povos indígenas por meio do jornalismo protagonizado por indígenas”,

explicou Mirna.

A estimativa é que cerca de 4 mil pessoas morem na comunidade Parque das Tribos atualmente, divididas em 700 famílias de 35 etnias, comoApurinã, Baniwa, Bara, Barassana, Baré, Dessana, Hupda, Kambeba, Karapãno, Kokama, Kuripako, Marubo, Miranha, Miriti Tapuio, Munduruku Mura, Piratapuia, SateréMawé, Tariano, Tikuna, Tukano, Tuyuka, Yurupari Tapuio, Wanano.

Ao todo a equipe que faz parte do projeto ‘Jornalismo Indígena’ é composta por 15 pessoas, entre lideranças indígenas, professores, estudantes e jornalistas, além de professores e alunos da Faculdade Martha Falcão. Entre as oficinas ofertadas pela FIC estão: Introdução às crônicas do Jornalismo, Produção da Notícia, Fotografia, Diagramação e Entrelaçamento de culturas. 

“O jornalismo é importante porque nós indígenas podemos expressar a nossa cultura e mostrar os nossos artesanatos e moda indígena, mostrar para o mundo o que nós temos para apresentar e esse é o objetivo, mostrar de uma forma que as pessoas venham entender e chamar atenção para a nossa cultura, artesanato e danças”,

contou a advogada Danielle Delgado, da etnia Baré, moradora do Parque das Tribos.

O projeto ‘Jornalismo Indígena’ é uma iniciação científica vinculada ao projeto de extensão ‘Diário de campo das oficinas de jornalismo indígena no Parque das Tribos’ e ao ‘Mapeamento das experiências de jornalismo indígena no Brasil.

“Eu estou gostando muito do curso, pude aprender bastante com as oficinas ofertadas até o momento. Eu acho que enriqueceu muito meus conhecimentos. Eu posso agora fazer trabalhos mais elaborados, um trabalho melhor, principalmente no que se diz respeito à cultura e o fortalecimento da cultura dos povos indígenas. Eu acredito que está sendo bem enriquecedor, pois os professores que vieram aqui são muito bons, gosto muito da didática, é uma linguagem acessível”, acrescentou Danielle.

As aulas acontecem às sextas-feiras, de 14h30 às 16h30, na Maloca dos Povos Indígenas do Parque das Tribos.

“A experiência está sendo maravilhosa, estou gostando de tudo. É tudo muito novo e superou minhas expectativas. Sinceramente acho que todo mundo deveria fazer isso. Eu acredito que é importante fazer o jornalismo e não só pelas informações, pela cultura, é a visão do povo indígena, somos nós passando o que a gente aprendeu, do jeito que a gente aprendeu”,

explicou a artesã e estilista, Keyla Moura, da etnia Mura.

Parque das Tribos

Considerado o primeiro bairro indígena de Manaus, o Parque das Tribos completou nove anos no dia 18 de abril. As oficinas são ministradas na maloca, onde os moradores se reúnem para cerimônias e rituais. 

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