A cerimônia de abertura, na Maloca do campus da Universidade de Brasília (UnB), teve a presença de cerca de 200 pessoas, a maioria educadores indígenas, estudantes e pesquisadores. Eles prestigiaram as apresentações culturais dos grupos indígenas Bayaroá, Cuiá-Mirim, Aicüna e Kangapeba, composto por crianças Saterê Mawé,Tikuna e Kambeba do Amazonas. A cantora DjuenaTikuna contou o Hino Nacional Brasileiro. Autoridades do Movimento Indígena e do governo federal dividiram a mesa de abertura.
“Muito se disse aqui da crise e dificuldades e os povos indígenas sem tutela, fazendo valer seus direitos que estão estampadas na Constituição e no conjunto de leis que justificam a existência da Funai. Os senhores e senhoras não são devedores de nada. Uma educação que procure libertar deve ser a palavra de ordem”, disse Netto.
Em sua fala o professor Gersen Baniwa, representando o Fórum Educação Escolar Indígena do Amazonas (Foreeia), destacou o protagonismo do movimento indígena e a participação autônoma das lideranças presentes evento. “A delegação do Amazonas fez questão de trazer dois grupos de estudantes indígenas, porque essa é a única razão de estarmos aqui, pela enorme preocupação que temos com nossas crianças, nossos filhos e netos. É em nome desse futuro, que queremos e não temos nenhuma segurança, que hoje fazemos o esforço necessário para estarmos aqui”, declarou.
“Este fórum é um dos poucos eventos sociais autônomos. Não temos chefe, não temos patrão. Não precisamos. Quando nos reunimos sempre abemos o que fazer em coletivo, nossos antepassados nunca escreveram livros planejando o que fazer, no entanto fizeram e fizeram bonito. Viveram milhares de anos, desenvolveram civilizações fantásticas, verdadeiramente humanas, solidárias, coletivas”, completou Gersem.
A liderança Kayapó, Paulinho Payakã, também discursou na cerimônia. Ele lembrou a importância dos ensinamentos tradicionais como forma de proteger as comunidades indígenas. “Parentes, nossa tradição está diminuindo cada vez mais sem que percebamos. É através da educação que vamos fortalecer nossas comunidades usando o ensino para guardar nossa cultura e tradição. Hoje não é mais como antigamente, quando eu dormia no colo do meu avô. Ele era um professor pra mim, me acordava de madrugada e andava comigo no mato, mostrando para eu aprender bem e não esquecer da nossa cultura”, refletiu.
A representante da Articulação Povos Indígenas do Brasil (Apib) e liderança indígena feminina, Sonia Guajajara, homenageou aqueles “que tombaram na luta pelos direitos indígenas”. “E é com a força dessas lideranças, que viraram encantados, que estamos hoje aqui mais uma vez. Eles nos dão energia para fazermos a luta em defesa dos nossos direitos. Para que cada comunidade seja guardiã de sua cultura viva. Essa é a real importância, nosso compromisso”, disse.
Sônia também aproveitou a oportunidade para se posicionar contra a nomeação de militares para o comando da Funai. “Não à militarização da Funai”, protestou. A liderança encerrou convidando os participantes do fórum a engrossarem as fileiras da manifestação contra a PEC 241 e pela ocupação da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai).
II FNEI
O Fórum acontece em Brasília de 24 a 28 de outubro e pretende discutir a questões sobre a educação diferenciada nas comunidades indígenas, além do financiamento estudantil e a implementação da Universidade Indígena.