A Universidade de Brasília (UnB) é uma das instituições que mantêm Acordo de Cooperação Técnica com a Funai. Firmado em 2015, o Acordo 002 prevê a supervisão técnica do Vestibular Indígena da universidade que abre vagas anualmente para diversos cursos.
A prova, composta por três etapas (objetiva, redação e entrevista pessoal), é aplicada em vários estados do território nacional e construída de maneira a considerar as especificidades que compõem a alteridade indígena.
A presença de estudantes indígenas na universidade, no entanto, é anterior ao Acordo. Em 2004, a Funai já havia firmado convênio com a UnB com validade de 10 anos.
A UnB afirma que, aos poucos, estão sendo criados espaços de diálogo e momentos de aprendizado e respeito à convivência multiétnica e diversa no meio acadêmico e que a presença dos estudantes indígenas na universidade contribui muito para isso. A contribuição é notável nos projetos, pesquisas e trabalhos de conclusão de curso nos níveis da graduação e da pós-graduação voltados para temáticas indígenas. “É o indígena falando e pensando sobre a sua cultura, saúde, religiosidade entre outros temas e escrevendo sobre eles”, ressalta a universidade.
De acordo com a instituição, o protagonismo indígena trouxe diversas mudanças, como a construção da Maloca – Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas na UnB, o Ambulatório de Saúde Indígena, a disciplina “Saúde Indígena”, a criação da Coordenação Indígena, a abertura de vagas específicas na Pós-Graduação em diversos cursos, além da criação de estratégias nos departamentos que valorizem o conhecimento dos povos originários.
Atualmente, a UnB mantém em seu quadro de alunos 142 estudantes indígenas e mais 38 aprovados no último vestibular ingressarão em 2018.
Geraci Aicüna é uma dessas alunas. Cursando o quinto semestre de nutrição, a estudante Ticuna diz que muitos são os desafios enfrentados. Além da ausência das famílias que ficam nas aldeias, as dificuldades financeiras e os entraves na compreensão devido às diferenças linguísticas, alega que os estudantes indígenas ainda não ficaram livres dos preconceitos no âmbito acadêmico.
“Espero que num futuro bem próximo as universidades entendam que os índios estarão presentes sim e cada vez em maior número. Espero que haja respeito, pois a universidade é para todos, inclusive para as diversidades indígenas.”, declarou.
Geraci, no entanto, deixa um animador recado aos novos calouros: “Que todos sejam muito bem-vindos e saibam que aqui somos um grupo forte porque somos todos uma só família!”