A crise econômica no Brasil ainda está feroz, e batendo em todas as portas. Com a cultura não poderia ser diferente. Nesse caso, nem pão e circo se salvaram. Desde 2014 os shows musicais descem a ladeira.
Dados recentes publicados pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad ) mostram que os shows internacionais no país reduziram de 323, em 2014, para 251, em 2015, e apenas 195 no ano passado. A derrocada foi ainda pior com os shows nacionais que despencaram de 37 mil, em 2014, para 25 mil, no ano passado.
Produtores e casas de shows, em Manaus, também sentiram os efeitos do dinheiro escasso. “Realmente começamos a sentir os efeitos da crise de 2014 para cá”, afirmou Leontino Izidório, vice-presidente do Clube Municipal, uma das casas se bolero mais conhecidas e frequentadas da capital amazonense, famosa por trazer shows de cantores considerados velhos e ultrapassados para alguns, mas que têm um público cativo e lotam a casa.
“O Clube Municipal não tem parceria com ninguém. Nos mantemos com o que a casa arrecada. E são custos altos para mantê-la funcionando. Nesses três últimos anos nosso público reduziu em cerca de 50%, mas o cachê dos artistas é o mesmo. Trazíamos uma média de quatro a seis artistas por ano. Ano passado trouxemos apenas a Sandra de Sá”, explicou.
O que o público quer curtir
Na contramão da crise, o empresário Bernard Teixeira parece ter descoberto um filão. Criador da Pump Entertainment, empresa que promove principalmente festas com música eletrônica, Bernard disse que desde que abriu a Pump, em 2013, a cada ano só viu seu faturamento aumentar. “O sucesso da Pump de 2014 foi maior que o de 2013, o de 2015 maior que o de 2014 e o de 2016 maior que o de 2015”, garantiu. Bernard tem uma explicação para o seu sucesso. “O mercado de shows ficou mais seleto. Hoje as pessoas escolhem melhor o que querem ver. Não vão para qualquer show”, ensinou. E ele escolheu exatamente o ritmo que as pessoas querem curtir no momento: a música eletrônica.
O empresário disse também que não é apenas um fator que faz o sucesso de seus eventos, mas um conjunto de fatores. “Primeiro eu escolhi a música eletrônica, um ritmo que está crescendo no mundo todo e o Brasil segue essa tendência. Pagode e sertanejo parecem já ter saturado. Depois diria que a qualidade dos eventos da Pump também são um ponto forte. As pessoas vão sabendo que vão encontrar um bom ambiente para se divertir, segurança, bebida e comida. Nossos equipamentos também são a novidade, os mais modernos encontrados no mercado”, declarou.
Agora, o fator mais importante, segundo Bernard, para atrair um grande público para as suas festas é inusitado. “Eu sou a única empresa que não vende o artista, eu vendo a festa. Quem vai pra Pump sabe que vai encontrar um ambiente bacana, com muita gente bonita. As pessoas não sabem nem quem é o DJ que vai tocar, mas sabem que o som vai ser bom”, garantiu.
“Para a Pump Carnaval, que vai acontecer no dia 24, na praia da Ponta Negra, vou trazer oito DJs, um belga, um alemão, quatro nacionais e dois locais”, bem ao estilo desconhecidos.
Bernard é paraense, mas há sete anos mora em Manaus. Ele realiza anualmente cinco Pumps em Manaus, três em Boa Vista, três em São Luiz, duas em Belém, duas em Santarém e duas em Teresina. Em Belém ainda organiza o Festival de Salinas, com seis dias de festa. “E ainda tenho o flutuante Abaré, que funciona diariamente, sempre com música eletrônica”, avisou.
Quase sobra para o Carnaval
As escolas de samba de Manaus, que há anos se acostumaram a receber dinheiro público para literalmente colocar o bloco, ou a escola, na rua, este ano, por muito pouco não viram a torneira ser fechada. No último momento, tanto Estado quanto município, liberaram dinheiro para os desfiles.
Numa reunião acontecida na segunda-feira (6) entre os representantes das escolas de samba do Grupo Especial e o secretário estadual de Cultura Robério Braga, lhes foi repassada verba de recursos oriundos exclusivamente da iniciativa privada, no valor de R$ 91 mil, dos quais, R$ 31 mil serão destinados ao pagamento da infraestrutura do carnaval e os R$ 60 mil restantes, pagos em espécie. “Pretendo realizar o pagamento em forma de prêmio, via inscrição em edital publicado pela Secretaria de Cultura, com valor viabilizado pela Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural”, disse o secretário.
Para Luiz Alberto Pacheco, diretor de carnaval da Comissão Executiva das Escolas de Samba de Manaus (Ceesma), a mãozinha do governo veio em boa hora. “Queremos agradecer o apoio que estamos recebendo, o qual já não esperávamos. Tínhamos ‘zero’ de apoio e hoje temos o possível”, e lembrou que o evento, criticado por muitos como gasto desnecessário de dinheiro público, “aquece o mercado, gera emprego, renda e incentiva o turismo, num ciclo benéfico para o Estado”.
Enquanto isso a prefeitura, via Manauscult, liberou, através de editais, R$ 1.300.000,00 para os blocos e bandas de rua, e R$ 1.537.995,00 para fomento ao desfile das escolas de samba. Adicionando, ambos editais perfazem um montante de gastos de R$ 2.837.995,00. Até o dia 3 passado estava sobre a mesa do Tribunal de Contas da União (TCU) um pedido de medida cautelar feito pelo Ministério Público para suspender o repasse, mas o pedido foi negado pela conselheira Yara Lins dos Santos.
“Tivemos uma grandiosa participação dos organizadores dos blocos e bandas de rua, com 164 propostas inscritas no nosso edital de apoio, e 100 aprovadas, o que demonstra o crescimento e amadurecimento desse processo transparente de seleção”, afirmou o diretor-presidente da Manauscult, Bernardo Monteiro de Paula. Os eventos contemplados receberão apoio de palco, som e iluminação.