MANAUS
– Alterações climáticas e poucas ocorrências de chuvas, fatores associados ao efeito El Niño, têm sido evidenciados, nos últimos três meses, pelo prolongamento das altas temperaturas e a consequente seca no rio Negro. Como resultado, produções de fruticultura e hortaliças, assim como o segmento da pecuária, no interior do Amazonas, têm sido prejudicados. O comércio de Manaus já sente o desabastecimento de produtos como banana, mamão e coco. Para representantes do setor primário, é necessário haver investimento em um melhor sistema de irrigação nos municípios, trabalho que deve ser capitaneado pelo governo do Estado ainda neste ano.Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (Faea), Muni Lourenço, o prolongamento do período de estiagem gerou sérios prejuízos ao setor primário. Perdas em fruticultura e hortaliças ocorrem com intensidade em áreas de terra firme onde existem culturas que dependem demasiadamente de irrigação como as bananeiras, coqueiros e plantações de hortaliças. Os principais municípios afetados são: Presidente Figueiredo, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.De acordo com Lourenço, além da agricultura, o segmento agropecuário também sente os impactos decorrentes das altas temperaturas. O presidente da Faea afirma que o gado apresenta dificuldades para ganhar peso devido à escassez dos pastos. Logo, a produção leiteira também é afetada com menores índices produtivos. “Sem as chuvas as pastagens não se desenvolvem e há diminuição na engorda do gado e na produção de leite. Esses prejuízos são preocupantes porque parte dos produtores que contraíram financiamentos com instituições bancárias podem ter problemas para honrar seus compromissos. Não há como precisar a quantidade de produtores envolvidos, mas com certeza, são milhares”, disse o presidente.Na avaliação de Lourenço, a medida necessária para prevenção às possíveis intempéries está na implementação de políticas públicas que incluam o investimento em técnicas de irrigação. Ele alerta que não há mais como confiar somente na ocorrência de chuvas. “A técnica de irrigação precisa ser disseminada entre os produtores. Não dá mais para confiar somente nas chuvas”, comentou.O secretário executivo da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror- AM), Valdenor Cardoso, afirmou que o governo do Estado, neste momento, presta assistência aos produtores nas questões emergenciais e estruturais. Cardoso informou que nas regiões produtivas de Presidente Figueiredo e Iranduba, que dependem fortemente de água para o cultivo, a secretaria busca acesso a crédito rural com o intuito de financiar uma melhor estrutura de irrigação. “Assim os trabalhadores poderão produzir com segurança, como é o caso do ramal 120 de Presidente Figueiredo, onde há produção de dez toneladas de hortifrutigranjeiros por semana, produtos que abastecem Manaus. Isso, está praticamente zerado, com perda de qualidade e tamanho reduzido”, disse. “O Estado, por meio de nossos técnicos atuantes nos mais de 60 municípios, está desenhando projetos técnicos para esses produtores, além de providências quanto à mecanização agrícola e aterro dos solos com calcário”, completou.Conforme o secretário, as irrigações podem ser provenientes de córregos e poços artesianos. “A ideia é de intensificar o financiamento de irrigação para o plantio de bananas por meio do gotejamento que é um sistema consolidado”. Segundo o coordenador de fruticultura da Sepror, Luis Herval, a secretaria aguarda o envio de relatórios dos municípios afetados pela vazante onde apresentarão informações decorrentes dos prejuízos. Herval disse que o documento deve ser concluído na próxima semana. “Não temos como precisar um valor quanto aos prejuízos porque ainda não temos os dados consolidados. Mas, podemos salientar que o mercado já sente falta de frutas como banana. Outro agravante, é a alta dos preços e a má qualidade”, afirmou.
Vazante e previsão para chuvas
Conforme o gerente de hidrologia e gestão territorial do Serviço Geológico do Brasil (CPRM ), André Luis Martinelli, a vazante acontece de forma extrema, neste ano, nas estações do rio Negro e em toda a bacia do rio Branco, em Roraima. Martinelli afirma que o fenômeno climático El Niño atingiu o Amazonas com intensidade, no final de 2015 e ainda hoje persiste. “Este fenômeno traz deficit de chuvas à nossa região, com consequências nos níveis dos rios”, avaliou.
Para o pesquisador e cientista florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Jochen Iorren Schoujart, a vazante que atinge o rio Negro desde o final de 2015 não é considerada como a mais alarmante. Ele afirma que neste mesmo período, nos anos de 1926, 1964 e 1992, o rio registrou menores níveis.
Porém, Schoujart disse que neste mês o volume de água deveria estar aumentando, o que não está ocorrendo. “Está acontecendo um fenômeno chamado de repiquete. Vale ressaltar que já tivemos secas extremas como nos anos de 2005, 2010 e 1963 quando os níveis de água eram bem mais baixos. Atualmente, o nível de água está menor por falta de chuva. A diminuição de chuvas é associada ao efeito El Niño”.
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) – 1º Distrito de Meteorologia AM/AC/RR- Gustavo Ribeiro, adianta que a previsão climática trimestral para fevereiro, março e abril deste ano indica chuvas abaixo do normal na parte norte da região Norte, que é a Região Amazônica, e na região Nordeste do país. “Podemos afirmar que a ocorrência das altas temperaturas está relacionada ao fenômeno El Niño”, informou.