Nos últimos meses as esquinas de Manaus foram invadidas por bananas, mas se prestarmos atenção, várias outras frutas estão tomando conta das feiras da cidade; melancias, mamões, abacaxis, entre outras mas, de onde está vindo toda essa fartura?
“Essa banana que invadiu, e vai continuar invadindo Manaus, vem de Roraima. E o motivo é simples: nossa economia é totalmente focada no Polo Industrial de Manaus. Não temos um plano agrícola, mas temos enormes dificuldades no licenciamento ambiental, baixíssimo acesso ao crédito rural e inadimplência alta”, reclamou Thomaz Meirelles, administrador e especialista em agronegócios.
“Segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), a produção de bananas em 2017 foi de 66.966 toneladas, mas com enormes dificuldades de escoamento até Manaus. Temos 4.109 produtores e uma área plantada de 5.028 hectares. O Amazonas é responsável por 7% da produção na região Norte, sendo Manacapuru e Manicoré os municípios com maior produção. Essa produção ocorre dentro de um certo período, e com custos elevados de insumos e escoamento, o que viabiliza a entrada de Roraima”, revelou.
Francinei Carvalho tem um estande de venda de bananas prata na Manaus Moderna e confirma que todas as frutas que vende no local, vêm de Roraima, “mas agora ela está um ‘pinguelo’, como chamamos, fina e pequena, por causa do verão, lá em Roraima. Mas nos próximos meses vão começar as chuvas e as bananas vão ‘engordar’ e o preço melhora”, garantiu. “A banana maçã é mais difícil se encontrar em Manaus porque vem de Rondônia. Como não dá pra vir por estrada, como as de Roraima, e de balsa é mais demorado, os compradores ficam temerosos de comprar e elas não chegarem boas a Manaus”, explicou. Atualmente duas palmas de banana estão sendo vendidas a R$ 5, mas as que não se desenvolveram devido o calor roraimense podem ser vendidas até três palmas pelo mesmo preço.
Mamões do Rio Preto da Eva
Outra fruta que tem surgido bastante em Manaus é o mamão, com preços que começam a R$ 2,50 o quilo, chegando, em alguns lugares a R$ 4. “Os maiores produtores de mamão são Manacapuru e Iranduba. O Amazonas ocupa a segunda posição na região Norte com participação de 30%. Tem 14.125 produtores catalogados pelo Idam, ocupando uma área de 10.227 hectares e uma produção de 110.475 toneladas em 2017”, explicou Thomaz.
Edinaldo e o filho Edyschumacker Silva estrearam seu estande na Feira da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS), quinta-feira, no Manaus Plaza Shopping com um grande carregamento de mamões. Edinaldo é proprietário, há seis anos, de um sítio no Rio Preto da Eva onde planta banana pacovã, coco, biribá, macaxeira e principalmente, mamões. “Temos quatro mil pés plantados e vamos aumentar a área plantada porque a demanda por mamões está grande e crescendo”, assegurou Edinaldo. “Trazemos três mil quilos do fruto, por semana, para vender nas feiras da ADS, em Manaus, e vendemos toda a nossa produção”, comemorou. O mamão plantado por Edinaldo é o calimosa, uma variedade híbrida entre os dois grupos existentes de mamão: o solo, com fruto conhecido pelo nome genérico de papaia, de pequeno porte e sabor adocicado; e o formosa, cujo fruto pode pesar quase dois quilos e é mais utilizado pela indústria de alimentos. O calimosa reúne boas características dos dois grupos, apresentando fruto de 1,2 quilo e alto teor de açúcar.
Abacaxis de Itacoatiara
Melancias também sempre existem em abundância nas feiras de Manaus, praticamente o ano inteiro. “Ano passado, a produção de melancias foi de 128 mil toneladas, sendo Manicoré o maior produtor do Estado, mas também as frutas vêm de Manacapuru, Iranduba, entre outros. A cultura conta com 14.127 agricultores familiares e uma área plantada de 7.338 hectares”, listou Thomaz.
“A melancia vendida aqui na Manaus Moderna também vem de Roraima e, diferente da banana, ela se dá bem com o verão. Com chuva a safra falha”, disse Francinei Carvalho. “E vem muita melancia aí do Madeira, de barco, e até de Goiás”, afirmou.
Outras frutas que podem ser encontradas nas feiras o ano inteiro são laranja, açaí, cupuaçu, maracujá e abacaxi, tudo de produtores do Estado. “Claro que o grande centro consumidor é Manaus, mas há o consumo da família, na sede do município/origem e o excedente segue para Manaus. O Amazonas ocupa a segunda posição na produção de laranjas da região Norte e é responsável por 3,8% da produção nacional de abacaxi. Essa atividade envolve quatro mil produtores rurais com foco em Itacoatiara (75% da produção) e Careiro da Várzea (6% da produção)”, lembrou Thomaz.
O casal Cláudia e Marinaldo Oliveira também estrearam na Feira da ADS, do Manaus Plaza, com uma carga de abacaxis. Eles têm um sítio há cinco anos, no Novo Remanso, um distrito de Itacoatiara. “Temos cem mil pés plantados. Participamos de sete feiras em Manaus, trazendo cinco mil abacaxis por semana. Revezamos a plantação e temos abacaxis o ano inteiro”, contou Cláudia. O casal vende seus abacaxis a R$ 3,50 a unidade, ou três unidades por R$ 10.
Mas Thomaz acha que Manaus poderia fazer mais. “Pelos números acima, fica fácil concluir que a produção de frutas vem dos municípios vizinhos para abastecer a capital. Por falta de interesse da administração municipal (atual e passadas), não temos nem secretaria de Produção Rural, aliás, Manaus é o único município do Amazonas que não tem essa secretaria. Isso não pode continuar, pois, segundo o IBGE, temos no Amazonas 49,2% da população na pobreza”, finalizou.