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Sexta, 19 Abril 2024

Você sabia que um acreano escreveu a letra do hino do Amazonas?

Instituído pela Lei nº1404 no dia 1 de setembro de 1980, o Hino do Amazonas foi resultado de um concurso público. A melodia ficou sob a responsabilidade do maestro amazonense Cláudio Santoro, enquanto a letra foi escrita pelo poeta acreano Jorge Tufic Alaúzo, que carregava o Estado amazonense no coração.

Além de escrever o hino do Amazonas, Jorge Tufic foi um dos fundadores do Clube da Madrugada, em 1954, um dos mais importantes movimentos literários do Amazonas.

Natural de Sena Madureira, no Acre, Tufic era membro da Academia Amazonense de Letras (desde 1969), onde ocupava a cadeira número 18, do patrono Jonas da Silva. Fez parte igualmente da Academia Acreana de Letras.

Histórico

Descendente de uma família de comerciantes árabes, seu pai desenvolveu atividades comerciais nos seringais, mas com o declínio da produção de borracha, transferiu-se na década de 40 para Manaus, onde foi jornalista. Tufic teve sua estreia literária em 1956, com a publicação de 'Varanda de Pássaros'. Após isso, escreveu mais de 30 obras, envolvendo crônicas, romances, poesia, conto, entre outras produções literárias, como 'Chão sem mácula' e 'Retrato de Mãe'. 

A partir do início da década de 1990, fixou-se em Fortaleza (CE), dedicando-se exclusivamente à literatura. No entanto, por sua longa ligação com o Amazonas, é considerado um dos poetas mais expressivos da literatura amazonense. Tanto, que o Sindicato dos Jornalistas do Amazonas o homenageou com o prêmio 'Poeta do Ano' em 1976.

Ao lado do maestro Claudio Santoro venceu em primeiro lugar o concurso nacional para escolher o Hino do Amazonas promovido  pelo então governador José Lindoso, no ano de 1980. 

Jorge Tufic faleceu em fevereiro de 2018, em São Paulo, vítima de câncer de pulmão aos 87 anos. Sua jornada como escritor é uma das mais produtivas da literatura do Amazonas, pela qualidade e diversidade temática.

Homenagem

Ainda em 2018, o trabalho do poeta foi explorado na dissertação de mestrado 'A poesia de Jorge Tufic: diálogo entre a tradição literária e a experimentação poética', de Diogo Sarraf Soares no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Na dissertação os três primeiros livros de Jorge Tufic (Varanda de pássaros (1956), Chão sem mácula (1966) e Faturação do ócio (1974)) são analisados. "Julga-se que o procedimento poético de composição dos poemas destas obras é heterogêneo e vai além da estética renovadora aspirada pelo modernismo brasileiro, chegando a ter elementos da poesia clássica [...] projeta-se a ideia de que a obra poética de Jorge Tufic é multifacetada", defende em seu resumo.

Por sua contribuição, o autor da letra do Hino do Amazonas foi o escolhido para ser homenageado na próxima edição da Feira de Livros do Sesc Amazonas, que será realizada em outubro de 2023. 

"Jorge Tufic é uma das personalidades literárias mais importantes da Amazônia, pela qualidade estética de sua obra e a riqueza temática de sua produção criativa. Como poeta foi um espírito inquieto e um renovador da arte do verso, ao mesmo tempo em que buscou um diálogo com a realidade e ancestralidade amazônica. Sua literatura é fundamental na construção identitária regional e nos ajuda a compreender o nosso processo cultural. Mais que uma homenagem, o Sesc presta um tributo e um reconhecimento pela vida e obra desse artista da palavra, que é um dos fundadores do Clube da Madrugada", explica o curador da Feira de Livros, Tenório Telles.

A Feira de Livros do Sesc Amazonas reúne as principais editoras e livrarias da região, promove encontro de leitores com autores regionais e nacionais, conta com uma extensa programação multicultural, além de palestras, oficinas, mesas temáticas e o tradicional Café Literário, onde são realizados debates, lançamentos de livros e sessão de autógrafos.

Hino do Amazonas

Nas paragens da história o passado
é de guerras, pesar e alegria,
é vitória pousando suas asas
sobre o verde da paz que nos guia.

Assim foi que nos tempos escuros
da conquista apoiada ao canhão,
nossos povos plantaram seu berço,
homens livres, na planta do chão.

Amazonas, de bravos que doam,
sem orgulho nem falsa nobreza,
aos que sonham, teu canto de lenda,
aos que lutam, mais vida e riqueza.

Hoje o tempo se faz claridade,
só triunfa a esperança que luta,
não há mais o mistério e das matas
um rumor de alvorada se escuta.

A palavra em ação se transforma
e a bandeira que nasce do povo
liberdade há de ter no seu pano,
os grilhões destruindo de novo.

Amazonas, de bravos que doam,
sem orgulho nem falsa nobreza,
aos que sonham, teu canto de lenda,
aos que lutam, mais vida e riqueza.

Tão radioso amanhece o futuro
nestes rios de pranto selvagem,
que os tambores da glória despertam
ao clarão de uma eterna paisagem.

Mas viver é destino dos fortes,
nos ensina, lutando, a floresta,
pela vida que vibra em seus ramos,
pelas aves, suas cores, sua festa.

Amazonas, de bravos que doam,
sem orgulho nem falsa nobreza,
aos que sonham, teu canto de lenda,

aos que lutam, mas vida e riqueza. 

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