Guardião da história: japonês eremita cuida de cidade abandonada no Amazonas

Shigeru Nakayama mora há 19 anos na cidade abandonada de Airão Velho. Tornando-se o único habitante do lugar 

Tem gente que ama uma vida pacata e sossegada, inclusive, preferem morar em cidades interioranas, do que enfrentar a correria das metrópoles. Como o caso do imigrantes japonês, Shigeru Nakayama, de 72 anos, que mora há 19 anos na cidade abandonada de Airão Velho.

Nakayama mora em Airão Velho. Foto: Reprodução/Rede Amazônica

A relação de Nakayama com a região amazônica surgiu muito antes de sua morada em Airão Velho. Ele nasceu em 1948 no Japão e mudou-se para o Brasil durante o grande fluxo migratório dos japoneses no início dos anos 60.

Durante alguns anos, Nakayama morou com os pais e três irmãos no Estado do Pará. Em 2001, ele decidiu dar uma guinada em sua vida e quis desbravar a floresta para realizar um sonho.

“Sempre sonhei em passar a vida dentro da floresta amazônica. Cheguei ao Amazonas em 2001 com dois companheiros. Me deparei com a cidade de Airão Velho em um estado de abandono. A floresta estava tomando conta de todos os prédios da cidade. Então, começamos a limpar e abrir caminho”, explicou Nakayama. 

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Eremita

Como eremita, pessoa que foge do convívio social, Nakayama mora sozinho, mas quase nunca fica só. Diariamente, ele recebe a visita de turistas, na maioria estrangeiros. Em troca, o único morador de Airão Velho recebe comida e doações dos visitantes.

Comunicativo, Nakayama conhece cada parte da cidade de Airão Velho. Além de mostrar a localidade para os visitantes, ele narra a vida que os antigos habitantes do município levavam, antes da queda do lugar na década de 60.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Responsabilidade 

Mas como Nakayama tornou-se o “guardião” da cidade abandonada. De acordo com o eremita, a única herdeira do lugar, Glória Bezerra, que faleceu em 2012 e está enterrada no cemitério de Airão Velho, pediu para que ele tomasse conta das ruínas.

“Ela me pediu para ajudar e reabrir a cidade para os turistas. Ela contou todas as histórias daqui”, contou.

A casa de Nakayama é um verdadeiro museu da história de Airão Velho. O espaço de três cômodos tem vários objetos que ele encontrou durante os anos. Entre os objetos, destaca-se uma pintura a óleo que mostra como era a cidade durante o seu apogeu.

Sobre Airão Velho

Entre os anos de 1879 e 1912, a Amazônia viveu o incomparável apogeu da borracha. Nessa época, no ano de 1694, foi fundada a cidade de Airão, sendo considerado o primeiro povoado às margens do Rio Negro.

Por muito tempo, Airão foi uma vila essencial para a fabricação de borracha. Principalmente, durante a Segunda Guerra Mundial, quando os aliados do Brasil compravam pneus e materiais cirúrgicos da Amazônia.

Após o fim da guerra, a busca por látex caiu drasticamente. Os comerciantes não estavam preparados para tal quebra na economia, uma vez que Airão era ponto de coleta e envio de látex.

Aos poucos, a cidade faliu e seus moradores buscaram oportunidades em outros lugares da região.

Para completar a debandada dos habitantes de Airão, um político afirmou que os moradores estavam sendo devorados por formigas e solicitou a mudança da sede do município. Então, na década de 50, os remanescentes foram deslocados para a área onde está a cidade de Novo Airão. 

Confira imagens das ruinas de Airão Velho:

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

1° do Norte: autor amapaense Gian Danton recebe principal título dos quadrinhos no país

Com mais de 30 anos de carreira, Gian Danton consolida posição de Mestre do Quadrinho Nacional entre os principais nomes do país. Título é considerado o mais importante do Prêmio Angelo Agostini.

Leia também

Publicidade