Buraco feito em busca de petróleo é um dos principais atrativos turísticos da Serra do Divisor

Buraco foi feito pelo Conselho Nacional de Petróleo na década de 30 e jorra água constante. O local é atrativo porque o turista não afunda e tem água sempre morna.

Buraco feito em busca de petróleo na Serra do Divisor é uma das principais atrações turísticas da região. Foto: Tácita Muniz/g1 Acre

Próximo à margem do Rio Moa e das pousadas que existem dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor, o buraco central é um dos principais pontos turísticos da região. Em meio a tantos locais formados naturalmente, esse buraco central teve a intervenção do homem.

As literaturas apontam que o buraco foi feito em meados de 1939 pelo Conselho Nacional de Petróleo, que fazia buscas pelo produto do lado brasileiro. Porém, o buraco, de mais ou menos 700 metros, acabou rompendo o lençol freático e virou um olho d’água que jorra uma água com cheiro forte de ferro.

Edmilson Cavalcante, de 59 anos, é um dos moradores mais antigos da unidade e há 5 anos trabalha como guia na região. Ele conta que o buraco central é um dos queridinhos de quem visita a Serra do Divisor.

 “As pessoas acham o melhor de todos os pontos pela água ser morna, estando frio ou quente, a temperatura da água é sempre morninha. A história conta que a empresa procurava petróleo, mas o que surgiu foi essa água limpa e morna”, 

conta.

Edmilson há mais cinco anos é guia na região do Parque Nacional da Serra do Divisor. Foto: Tácita Muniz/g1 Acre

Como guia, eles receberam treinamento para dar algumas informações sobre o local. Ainda ao lado do buraco feito pela empresa há uma grande caldeira de ferro, que, segundo o guia, era responsável por gerar energia.

“Mesmo antes de isso aqui se tornar um parque, começou a ser visitado por turistas. Já os moradores sempre tomavam banho e visitavam esse local”, conta.

Buraco central Serra do Divisor jorra água morna e deságua no Rio Moa. Foto: Tácita Muniz/g1 Acre

No local, ainda é possível ver restos de materiais usados na época em que o acampamento funcionava. Inclusive, o guia conta que antes a água jorrava tão forte que ninguém conseguia mergulhar no buraco central, porém, um dos moradores jogou uma espécie de bola de chumbo e a água diminuiu a intensidade, fazendo com que a pessoa consiga flutuar.

Na queda da água, que cai direto no rio, tem outros espaços em que a pessoa pode entrar e que é chamada pelo guia de hidromassagem. “É um olho d’água, que só jorra pra cima e ele jorrava mais forte e um cidadão soltou um material que ficou aqui, chumbo de aço, uma bola de chumbo de aço, e hoje a gente consegue entrar, tirar foto. Ninguém entrava, jogava bem forte pra fora. É um cheiro de ferro muito forte, devido à profundeza do buraco, ferrugem e a água tem gosto de enxofre”, detalha o guia.

Registro mostra Acampamento Pedernal, na Serra do Divisor, trabalhadores do Conselho Nacional do Petróleo. Foto: Antonio Carlos Boa Nova/Arquivo pessoal

Antonio Carlos Boa Nova, sociólogo e autor do livro “Fora da Ordem: do claustro ao mundo secular”, em seu blog, detalha um pouco de como funcionava o acampamento naquela época no Juruá. Ele é filho de um médico que fazia atendimentos em meio à floresta no Acre.

“Setenta dias após deixar o Rio, aportaria por fim no Acampamento Central − três horas rio acima, havia ainda um outro acampamento, o Pedernal, então “o núcleo de população mais ocidental existente no Brasil”; dali em diante, só se navegava de canoa. Com o insucesso das perfurações buscando petróleo, esses acampamentos seriam posteriormente desativados, e hoje a área está no Parque Nacional da Serra do Divisor”.

Buraco feito pelo Conselho Nacional do Petróleo tem cerca de 700 metros. Foto: Paulo Roberto Parente/Arquivo pessoal

Caverna 

Recentemente, pela primeira vez, o Acre registrou cavernas e foram encontradas justamente na Serra do Divisor. Uma delas, inclusive, leva o nome de seu descobridor, Edson Cavalcante, que era irmão de Edmilson. Os dois nasceram e se criaram na Serra do Divisor.

Em 2020, Edson, que era um dos moradores mais antigos da unidade de conservação, divulgou que havia encontrado uma caverna há muitos anos enquanto fazia trilhas dentro do parque. Apesar de ter encontrado a cavidade há pelo menos 15 anos, ele disse que não sabia que a descoberta era relevante. Logo depois, Edson morreu vítima de Covid. Hoje, a caverna leva o nome dele.

Buraco feito pelo Conselho Nacional do Petróleo tem cerca de 700 metros. Foto: Paulo Roberto Parente/Arquivo pessoal

“A história da caverna é que Edson e eu sempre andávamos pelo parque e um dia caçando a vimos pela primeira vez. Mas, a gente não dava importância para essas coisas e só depois viemos saber que era importante e, após a visita de um repórter aqui, o Edson conseguiu achar onde ela ficava novamente”, relembra.

Questionado sobre como toda essa riqueza natural atrai turistas, Edmilson conta que aumentou o fluxo de gente querendo conhecer a Serra do Divisor, mas garante que muita gente ainda não tem ideia desse espaço no lado mais ocidental do país.: “As pessoas, mesmo sendo da nossa região, não acreditam que o Acre tem isso. Temos montanha, serra e olho d’água e quando chega aqui se surpreende”.

Caldeira usada em acampamento do Conselho Nacional de Petróleo ainda está no parque. Foto: Tácita Muniz/g1 Acre

*Por Tácita Muniz, do g1 Acre

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Grupo se reúnem em Manaus para debater desafios e soluções para conservação do sauim-de-coleira

Cientistas, gestores e sociedade participam de seminário, realizado pelo Instituto Sauim-de-coleira, no Inpa.

Leia também

Publicidade