Se você gosta de literatura, seja de livros clássicos, comuns e raros, uma opção econômica pode ser a procura em sebos, que consistem em um lugar que vende diversos itens, como: CDs, DVDs, discos, selos e livros.
Essa possibilidade de fontes culturais diversas pode, além de ser uma opção mais vantajosa financeiramente, contribuir com o resgate de histórias pouco comercializadas em grandes livrarias, por exemplo.
É o caso de livros escritos por indígenas ou que possuem como tema central narrativas sobre os povos originários, englobando a literatura indígena.
O Portal Amazônia visitou um sebo, localizado na Zona Centro-Sul de Manaus, capital amazonense, para verificar se esse tipo de literatura tem se tornado mais acessível ou procurada.
“A arte de garimpar”
“Garimpar” em um sebo nada mais é do que procurar minuciosamente livros, que podem ou não estar dispostos de maneira organizada. É uma das expressões mais comuns entre os que já possuem o hábito de buscar por esses locais.
Joaby Carvalho, dono do Sebo Amazônia, explica que este é um local propício para gerar conexões culturais.
“O Sebo é um ambiente descontraído de literatura, que dá oportunidade das pessoas adquirirem literatura de uma forma diferente, de uma forma que a pessoa venha se introduzir na literatura, oferecendo uma oportunidade para que as pessoas que não tem acesso, por uma questão econômica, sem apelo comercial, mas pelo prazer de ler, pelo prazer de estar em contato com a literatura, com a música, com o cinema. E também fazer amizades e ter conhecimento de outras pessoas que estão aqui no mesmo ambiente, criando conexões”,
afirma Carvalho.
Joaby Carvalho administra o Sebo Amazônia há quatro anos e conta que começou, há mais de uma década, com uma videolocadora, mas que, com o tempo, precisou se readaptar às mudanças do mercado.
Valorização regional e indígena
Ele relata que o local também tem enfoque em literatura regional e busca diariamente ampliar o acervo. São dezenas de livros de literatura amazônica, com grandes nomes como o de Milton Hatoum e, em relação à literatura indígena, é possível encontrar mais de 20 obras no local.
“Antigamente só tínhamos livros que falavam sobre o processo de colonização e falavam somente da questão didática. Hoje nós temos de poesia, de crônicas, as coisas que são vividas no dia a dia do ambiente indígena. E nós, como amazônidas, procuramos ter essas literaturas e se apropriar dessas narrativas, não somente ter a obra disponível, mas ter o conhecimento delas para poder expor para nossos clientes”,
pontuou Carvalho.
Ele comenta que o crescimento editorial de publicações desses autores tem contribuído para aumentar a procura por parte do público.
Outro ponto de destaque é visibilidade que o assunto despertou em todo o território nacional com a recém posse do líder indígena Ailton Krenak, de Minas Gerais, como primeiro indígena com título de Imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL).
“A literatura regional indígena vem ganhando espaço muito grande. Isso ocorre devido a hoje ter a oportunidade de ter mais livros publicados. E isso traz um grande interesse da comunidade literária na busca por esses livros. E estamos apostando nesse mercado, a princípio regional. Esse movimento é relativamente recente e ganhou força quando um indígena se tornou um Imortal na Academia”,
comenta Carvalho.
Outro fator que se soma, há mais de uma década, nesse processo de publicação, é a Lei 11.465/08 de 2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas.
Para conhecer o acervo: o Sebo Amazônia fica localizado na Avenida Djalma Batista, N°1111, abre de segunda a sábado das 9h às 19h e aos domingos das 10h às 17h.