Projeto ‘Sabores e Saberes’ dá protagonismo para a cultura dos povos indígenas

O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi e a Casa de Comida Indígena Biatüwi foram os escolhidos para dar início à série

A cultura indígena ganhou destaque pela Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) através do projeto ‘Sabores e Saberes’, que tem o objetivo de divulgar a culinária, o conhecimento e a cultura indígena da capital amazonense.

O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi e a Casa de Comida Indígena Biatüwi foram os escolhidos para dar início à série. Ambos os espaços estão localizados na rua Bernardo Ramos, no centro histórico, zona Sul.

“Estamos lançando mais uma série de promoção da nossa cultura, esta em especial, da cultura indígena de Manaus, e estamos falando de espaços acessíveis e que estão no centro histórico, e que poucas pessoas conhecem. Então, essa é uma grande oportunidade de divulgar o que temos de melhor em Manaus”, disse a vice-presidente da Manauscult, Oreni Braga.

Foto: Reprodução/Instagram

Centro de Medicina Indígena Bahserikowi 

O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi é um lugar de atendimento com o viés da medicina indígena praticada no Alto Rio Negro, além de ser um espaço de reforço e validação dos conhecimentos ancestrais indígenas, comenta Ivan Barreto, coordenador do Centro de Medicina Indígena.

“Nosso conhecimento, nosso modelo de tratar as pessoas, sempre foi visto como não medicinal, alternativo; além da demonização pelo viés religioso, os comparando com práticas satanistas, por exemplo. Então, aqui no Centro de Medicina Indígena trazemos os nossos conhecimentos como uma forma de provar para a sociedade não indígena a eficácia da medicina, dos nossos conhecimentos”, disse o coordenador.

No Centro de Medicina Bahserikowi é possível encontrar remédios naturais, óleos e ervas medicinais, além de artesanatos; todos os produtos seguindo os princípios indígenas de não destruição da natureza durante sua produção.

Foto: Divulgação

Além dos medicamentos e artesanatos, no espaço também é possível fazer tratamentos de saúde com a medicina indígena, com o especialista em cura kumüa (conhecido popularmente como pajé), que faz os atendimentos para tratamentos de enfermidades, sejam elas emocionais, familiar, psicológicas ou físicas, explica Carla Fernandes, administradora do Centro de Medicina.

As consultas com o kumüa, como é chamado, podem ser feitas sem agendamento prévio, de segunda a sábado, das 9h até as 16h, no Centro de Medicina Indígena. A consulta custa de R$ 80 a R$ 100. Após o atendimento da primeira consulta, é feito o diagnóstico e se dá início ao tratamento, que podem ser feitas com ervas medicinais ou remédios naturais, tudo acompanhado pelo centro.

“A procura pelos atendimentos no Centro de Medicina Indígena é de diversas queixas, como reumatismo, infecções, depressão, além das pessoas que vêm de outros Estados e países em busca de atendimento para proteção, tanto espiritual quanto corporal”, afirma Ivan Barreto.

O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi fica localizado na rua Bernardo Ramos, n° 97, no Centro Histórico de Manaus, e funciona de segunda a sábado, das 9h até as 16h. Para mais informações podem entrar em contato pelo número (92) 98623-9267.

Foto: Divulgação

Casa de comida Indígena Biatüwi 

Aproveitando a visita ao Centro de Medicina, na mesma casa também se encontra a cozinha indígena do Biatüwi, que oferece uma experiência gastronômica baseada nas culturas das etnias sateré-mawé e tukano.

A casa de comida indígena, como é apresentada, e não como um restaurante, surgiu em novembro de 2020, em meio à pandemia da Covid-19. Devido aos altos e baixos da pandemia e a baixa movimentação, o Biatüwi ficou fechado por alguns meses, e após essa fase, voltou a funcionar, ainda que com muita dificuldade.

Após a diminuição das restrições de combate à proliferação do vírus, seguido do aumento da circulação turística na cidade, o movimento na casa foi melhorando, conta Aline Ramos, da etnia sateré-mawé, filha da chef Clarinda, sateré-mawé.

“Nós apresentamos como uma casa de comida Indígena e não como restaurante. A finalidade é fazer os nossos clientes se sentirem em casa. Aqui também não trabalhamos com talheres, os apoios são colheres e pratos. Mas a intenção é fazer a apresentação das refeições como se estivessem comendo em uma comunidade, com as mãos, com os nossos acompanhamentos tradicionais (beiju e farinha)”, explica Aline.

A ideia da apresentação surgiu com a chef Clarinda e seu marido João Paulo. Clarinda trabalhava vendendo comida em uma feira indígena no centro da cidade, e com João, serviam ocasionalmente em eventos a culinária indígena, daí a ideia de um restaurante, a princípio, um restaurante comum.

Com o apoio da chef Débora, do restaurante Caxiri, e de outros apoiadores, foi se desenvolvendo um projeto para criar e financiar a cozinha do Biatüwi e transformar a ideia de um restaurante em uma experiência imersiva na culinária e cultura indígenas.

Foto: Divulgação

Em 2023, o Biatüwi começou o ano com o pé direito. Ele foi citado em um dos maiores jornais do mundo, o “The New York Times”, e foi um dos responsáveis por colocar Manaus na lista de melhores destinos turísticos do mundo em 2023, com destaque para a culinária.

O jornal conta que grandes restaurantes com estrelas Michelin no país utilizam ingredientes amazônicos em suas cozinhas, mas destaca a experiência gastronômica na cidade, como tomar tacacá em frente ao Teatro Amazonas ou conhecer os molhos e sucos do mercado municipal Adolpho Lisboa.

Para a equipe do Biatüwi foi uma surpresa a citação no jornal americano. “Para a gente foi uma surpresa ter aparecido no ‘The New York Times’, nem temos ideia de como isso aconteceu (risos). Na matéria, eles citam o nosso prato Biatü, que é caldo apimentado de peixe, conhecido no Alto Rio Negro como ‘quinhapira’, que é o nosso carro-chefe”, afirma Aline.

Apesar de estar na lista do jornal como gastronomia exótica, Aline reforça que a comida oferecida no Biatüwi é a alimentação diária das culturas indígenas sateré-mawé e tukano nas aldeias. E tanto na sua apresentação, no modo que a comida é servida e até no próprio nome, que significa Casa de Comida Apimentada (BIA = pimenta, WI = casa), são formas de representar o povo indígena do Alto Rio Negro.

“Nosso cardápio é tido como novidade, uma comida exótica, apesar de para nós ser a nossa comida diária, para o público é novidade”, finaliza Aline.

A casa de comida indígena Biatüwi funciona de quarta-feira a sábado, das 11h30 até as 15h, e fica localizada na rua Bernardo Ramos, n° 97, no Centro Histórico de Manaus. Mais informações sobre o espaço podem ser conferidas pelo telefone (92) 98832-8408 ou pelo e-mail: biatuwi.casadequinhapira@gmail.com.  

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