Lendas da jiboia na Amazônia envolvem rituais mágicos e porões de embarcações

Enquanto a jiboia é apreciada como ‘animal de estimação’ em diversos locais, para muitas pessoas ela serve como proteção 

A jiboia, uma cobra nativa do Brasil, é facilmente encontrada na Região Norte do país. Acontece que na Amazônia esse animal está presente em uma série de representações cultuais, como por exemplo, ser usada nos porões de barcos para controlar os roedores e comercializada nos mercados clandestinos para ser usada em rituais de magia.

A pesquisadora Lucileyde Feitosa, que se dedica ao estudo das comunidades ribeirinhas e à importância da educação ambiental nesses locais, lançou um livro infantil que aborda as representações da jiboia na Região Norte, para tentar entender melhor suas representações.

Foto: Arnaud Aury / iNaturalist

Controle de roedores 

A origem dessa prática é um mistério, mas segundo as narrativas regionais, as cobras começaram a ser empregadas nos porões de embarcações por volta de 1999.

Essa peculiar tradição cultural surgiu como uma solução engenhosa adotada pelas comunidades ribeirinhas que habitam às margens dos rios e igarapés para combater a infestações de roedores.

Com isso, a cobra se transformou em uma inusitada guardiã dos porões, controlando as infestações e garantindo a saúde daqueles que comeriam os alimentos.

A busca pelo amor 

Para alguns, a jiboia é apreciada como uma espécie de “animal de estimação”, mas para outros, ela possui o poder de atrair aqueles que estão em busca do amor.

De acordo com as lendas, a busca incessante pelo amor faz várias pessoas recorrerem á práticas de magia. Essa ‘porção do amor’ é uma mistura de sexos de algumas espécies de animais, como o uso de botos fêmeas e machos, e os olhos de jiboia.

Essa mutilação não acontece somente com as cobras, mas como outros animais silvestres comuns na região Amazônica, que podem acabar tornando raro o aparecimento dessas espécies na região, revelam os contos.

Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros

Comércio ilegal dos órgãos 

A lenda que envolve o comércio de banhas e peles de animais silvestres na região é enigmática e carregada de histórias de geração antigas. Conta-se que essas práticas culturais são comuns e não é raro deparar-se com essas valiosas partes de animais sendo discretamente negociadas nos mercados locais.

Parte dos corpos desses animais são usadas de diversas formas: elas podem ser essenciais em rituais tradicionais, onde acreditam que os espíritos dos animais oferecem proteção e bênçãos.

Além disso, esses materiais são vistos como fontes de cura e remédios naturais, com propriedades mágicas e terapêuticas. Vale destacar que, profissionais da saúde não recomendam o uso dessas substâncias para o tratamento de doenças.

Foto: Reprodução/

‘A cobra encantada’

Essas narrativas, sobre os contos relacionados a jiboia, surgiram a partir dos encontros da professora e pesquisadora Lucileyde Feitosa, do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Rondônia (Unir), com ribeirinhos, após longas viagens pela Amazônia.

Recentemente, ela lançou o infantil ‘A Jiboia Encantada’. Este livro é resultado da vivências da pesquisadora e conhecimento adquirido junto aos habitantes da região e representa a importância da literatura infantil na preservação de animais silvestres na Amazônia.

Segundo ela, o livro explora o mundo encantado e as representações culturais das comunidades ribeirinhas amazônicas. A jiboia encantada, personagem principal, enfrenta diversos desafios na luta pela sobrevivência na floresta e ressalta a importância da sua preservação para a floresta.

Em Porto Velho, os exemplares serão destinados às crianças ribeirinhas e as escolas locais, permitindo que a obra seja utilizada como recurso educacional, e garantindo que todas as crianças do Ensino Fundamental tenham acesso aos conhecimentos sobre a preservação cultural e ambiental da Amazônia Ribeirinha. 

*Por Emily Costa, do Grupo Rede Amazônica

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

MPF pede suspensão do licenciamento das obras na BR-319 entre Manaus e Porto Velho

Órgão exige que as licenças ambientais sejam emitidas somente após a consulta prévia às comunidades indígenas e tradicionais que serão impactadas pela pavimentação da rodovia.

Leia também

Publicidade