Descubra a história real sobre o ‘Espelho da verdade’ no Teatro Amazonas

Ideia percorre o imaginário popular e o historiador Allan Diego Carneiro, que trabalha no Acervo Histórico do Teatro Amazonas em Manaus, explica o que verdade e o que é mito.

Muitas pessoas desconhecem, mas existe uma história – entre tantas –  no mínimo intrigante sobre o Teatro Amazonas, em Manaus (AM): o ‘espelho da verdade’. A história gira em torno do fato que o espelho do corredor que dá acesso ao Salão Nobre, no primeiro andar, seria confeccionado de cristal e, por isso, refletiria a imagem de quem se vê nele como a pessoa é de verdade, ou seja, sem nenhum tipo de distorção como acontece com os espelhos comuns que todos tem em casa. Mas será que isso é verdade?

O Portal Amazônia conversou com o historiador Allan Diego Carneiro, que trabalha no Acervo Histórico do Teatro Amazonas, e ele revela: “Essa história do ‘espelho da verdade’ é mais semântica, é de algo mais levado para o imaginário popular, que eu costumo dizer, que se construiu a partir da visão dos visitantes, dos guias”.

Foto: Allan Diego Carneiro/Cedida

De acordo com o historiador, já se foi buscado nos registros históricos do teatro algum documento que corrobore essa afirmação. Mas…

“A moldura do espelho é a original e já até foi restaurada, mas o espelho em si já não é o original da época. Os originais foram comprados por uma representante na França e eram de cristais com fundo de cobre e prata”.

Allan Diego 

Ou seja, não, o espelho que está lá não reflete “a verdade”. O historiador explica que na época em que o Teatro Amazonas recebia os objetos não havia registro exato de quais ou quantos eram. 

Nos ofícios do Tesouro, entre outras diretorias, eles fazem a menção à pacotes, mas não detalhavam o que tinha neles. Dizia ‘pacote com 50 volumes’, por exemplo, e nesses pacotes é quem vinham os espelhos, como esse, mas também o outros dois do Salão Nobre, os três do térreo. Eles pediam os espelhos de cristais com o fundo de prata, mas com o tempo eles provavelmente foram quebrando, na viagem mesmo ou com deslocamento, a gente não tem registros que especifiquem o que ocorreu de fato, então buscamos interpretar de acordo com os registros que existem”, conta.

Depois de 125 anos, completados este ano, seria mesmo difícil ter tantos espelhos grandes originais. “Com o tempo eles criam oxidação, ficam manchados, é horrível, então é necessário trocar. Mas a ideia dele ser o ‘espelho da verdade’ ficou no imaginário popular. Isso é o bacana, porque as pessoas imaginam mesmo que ele reflete a verdade e a gente está dentro de uma casa de espetáculos, então por que não manter no imaginário? Claro que historicamente a gente explica como funciona, mas também mantemos o encantamento dos visitantes”.

De acordo com a Associação Brasileira de Cerâmica, atualmente os espelhos são confeccionados com três camadas: uma camada de vidro, uma superfície de metal (normalmente prata) e uma camada escura (tinta). Tudo isso é para que haja estabilidade no que ele reflete, além de usarem outros produtos para aderência das superfícies e impermeabilizantes.

Para quem gostaria de se ver refletido em um espelho de cristal, Allan Diego revela que há esperança: na área da cafeteria do teatro ainda existe um pequeno espelho original, com 30 centímetros de largura e um metro de altura. Por isso, basta ativar o imaginário e prestar bastante atenção em todos os detalhes e mistérios que o Teatro Amazonas abriga. 

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