Durante as noites do Carnaboi, artistas e agremiações folclóricas de Parintins e de Manaus, cidades amazonenses, apresentam-se em palcos ou trios elétricos, a depender da organização de cada ano.
Manaus, a capital do Estado do Amazonas, é conhecida por sua rica diversidade cultural e pela exuberante floresta amazônica que a rodeia. É nesse ambiente diverso que muitas “misturas” acontecem, gerando inclusive festivais que são a cara da região.
Entre as festividades que revelam essa identidade única, destaca-se o Carnaboi, uma festa popular que mescla a alegria do Carnaval com o ritmo das toadas do Festival Folclórico de Parintins.
Criado em fevereiro de 2000, tornou-se um evento que une os torcedores dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso para celebrar a folia de momo valorizando a regionalidade.
Pioneirismo regional
Durante as noites do Carnaboi, artistas e agremiações folclóricas de Parintins e de Manaus se apresentam em palcos ou trios elétricos, a depender da organização de cada ano. Assim como a maioria dos blocos de Carnaval, o Carnaboi conta com um “abadá”, que em Manaus ficou conhecido como “tururi” (não, não se trata da árvore, mas sim de uma vestimenta típica do festival). Dessa forma, os brincantes tinham acesso à pista e podiam seguir os ‘bois elétricos’.
O jornalista Arnoldo Santos participou da transmissão da primeira edição do Carnaboi, em fevereiro de 2000. Na época, ele chefiava o canal Amazon Sat e conta como foi trabalhar para levar ao telespectador amazônida o evento que viria a ser um ícone carnavalesco do Estado.
“Eu vinha da TV Amazonas, que já realizava a transmissão do Carnaval de Manaus e do Festival de Parintins. E, em 1999, surgiu a ideia do Carnaboi e a possibilidade de exibir o evento. Lembro que nos inspiramos muito no Carnaval do Rio de Janeiro como parâmetro para o Carnaboi. Já que a estrutura do Festival de Parintins era completamente diferente, enquanto a disputa dos bumbás acontecia no Bumbódromo [em Parintins], o Carnaboi era feito na passarela do Sambódromo [em Manaus]. Por isso, usamos muito a expertise que adquirimos na transmissão do Carnaval para o Carnaboi”,
explicou.
Em uma época, onde não existiam drones ou celulares com câmeras de alta definição, Arnoldo afirmou que o maior desafio foi “mostrar o clima da galera”, ou seja, a participação dos brincantes que entravam na passarela do samba para acompanhar os ‘bois elétricos’.
“A cada ano, a gente anotava o que devia melhorar e tentava aplicar na edição seguinte. Essa experiência do Carnaboi rendeu muita matéria de cunho nacional. As pessoas ficaram encantadas quando descobriram que no Amazonas existia um Carnaval com ritmo de boi bumbá”, destacou.
Feira de artesanato
Com essa ideia em mente, a equipe do Carnaboi desenvolveu uma feira de artesanato, um pré-evento para a venda dos tururis dos artistas, comidas regionais e itens que ajudam a enfeitar os brincantes. “Uma coisa muito interessante é que a venda do tururi era uma forma de pagamento e de divulgação dos artistas, além de jogar no mercado os novos talentos do boi-bumbá”, afirmou Santos.
O jornalista destacou ainda que o Carnaboi gerou um novo formato, o ‘Boi Pop’, ou o boi de bandas. “Eu cito um grande nome pioneiro deste gênero que é a banda Canto da Mata, que lançou, literalmente, um estilo de batida, aquela que inicia com o violão e tudo mais. O evento sempre foi um trampolim para os artistas de Parintins ganharem o mercado”, afirmou.
Hiatos
Nos primeiros anos, o Carnaboi foi realizado no Sambódromo de Manaus e reunia milhares de brincantes dos bumbás de Parintins, além dos bois de Manaus. Aos poucos, a dinâmica do evento ganhou novas nuances, como na edição de 2014, que apostou em uma disputa de torcidas, no qual cinco desafios foram apresentados.
Já em 2015, o evento saiu do Sambódromo e ganhou as ruas da capital amazonense. As apresentações aconteceram nos bairros Campos Salles, São José 3, Japiim, Compensa e Alvorada 2.
No entanto, durante três anos o Carnaboi não aconteceu. O cenário econômico foi um dos motivos para o cancelamento da festividade. O Governo reuniu com os representantes dos bumbás de Parintins e Manaus, mas não chegaram em uma conclusão e o evento não aconteceu, retornando para o calendário amazonense somente em 2018.
A outra pausa ocorreu já devido a pandemia de Covid-19, quando os amazonenses também ficaram dois anos sem o ‘dois pra lá, dois pra cá’ do Carnaboi. Com a programação retornando em 2022, foi permitida a entrada de apenas cinco mil brincantes. Na época, para acessar o Sambódromo – para onde regressou o evento – era obrigatória a apresentação da carteira de vacinação atualizada contra a Covid-19 e um documento com foto.
Carnaboi 2024
Este ano, o Carnaboi ocorre nos dias 9 e 10 de fevereiro em Manaus, em um novo local: no Studio 5 Centro de Convenções, na Zona Sul. A entrada é gratuita. A expectativa é que mais de 15 mil pessoas acompanhem diariamente o evento deste ano.
“A escolha do Studio 5 para receber o Carnaboi 2024 foi para oferecer conforto e segurança para os milhares de brincantes de boi-bumbá. O centro de convenções possui uma das melhores infraestruturas da Região Norte, com cobertura, iluminação adequada, sistema de refrigeração e ventilação, banheiros, palcos, amplo estacionamento e segurança local. Além de possuir fácil acesso das linhas de ônibus de diversas zonas da cidade”, destacou Matheus Aquino, especialista de projetos da Fundação Rede Amazônica.
O evento será ainda transmitido por meio do projeto Carnaval Amazônico, realizado pela Fundação Rede Amazônica, correalizado pelo Grupo Rede Amazônica, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM). O projeto visa resgatar a importância histórica das tradicionais bandas e blocos de Carnaval de Manaus.