Na época, o Iphan explicou que já havia um projeto de restauração planejado desde 2014, mas, após a cheia do rio, precisou passar por modificações.
Símbolo da luta ambientalista e um dos patrimônios históricos mais importantes do Acre, a casa do líder seringueiro Chico Mendes foi reaberta nesta sexta-feira (10) após ficar cinco anos fechada para reforma na cidade de Xapuri. O imóvel chegou a ficar fechado também para revitalização após a enchente histórica em Xapuri em 2015. A conclusão das obras de manutenção e reforma totalizou um investimento de R$ 92 mil.
Na época, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) explicou que já havia um projeto de restauração planejado desde 2014, mas, após a cheia do rio, precisou passar por modificações. Após essa obra, a casa foi reaberta em junho de 2017 e voltou a receber visitas. Contudo, o lugar precisou ser fechado novamente, em 2018, para mais obras.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, destacou a importância dessa reabertura para a manutenção da história do Acre e do Brasil e destacou ainda que o instituto fez uma reparação histórica.
“Hoje a gente reabre ao povo brasileiro para que aqui as pessoas entrando possam sentir e possam se conectar com a luta em defesa dos povos indígenas, em defesa da biodiversidade. Nós temos aqui relatos nas placas desses últimos momentos da vida do Chico, da família dele, das pessoas que estavam com ele. E que ilustra também a violência, infelizmente, que acontece até hoje com aqueles que defendem a Amazônia, que defendem os mais pobres, que defendem a justiça social. O que o Iphan fez, na verdade, é uma reparação, uma reparação histórica, uma reparação com a família do Chico, com a comunidade de Xapuri, com o Brasil, porque esse lugar precisa estar aberto para que as pessoas, além de conhecerem a história do Chico, penetrarem também na sua intimidade, no seu dia a dia”, disse.
Grass também disse ainda que é um momento para que a história de Chico seja mantida e perpetuada. “A entrega dessa casa que ficou muito tempo fechada e que é do povo, é da família do Chico, mas também é do povo brasileiro, é um grande patrimônio da nossa sociedade, do nosso país”, destacou.
Para o prefeito da cidade, Bira Vasconcelos (PT), destacou que o local onde viveu Chico Mendes não é apenas um simples espaço, mas um símbolo que representa os povos extrativista.
“Representa toda a luta dos povos da Amazônia pelas ideias de Chico Mendes. A ideia do não desmatamento, do uso econômico mais sustentável da floresta e principalmente as gerações futuras terão a oportunidade não de só ver o local, mas também de partilhar as ideias, os ideais e toda a luta que o Chico tinha com todos os outros companheiros como Raimundão, Julio Barbosa e tantos outros”, disse.
Ele disse ainda que a família de Chico Mendes firmou um contrato de aluguel com a prefeitura, mas que é algo simbólico, diante dos benefícios desse ponto turístico e histórico estar em funcionamento.
“Agora vai funcionar todos os dias, inclusive nos finais de semana e os guias turísticos aqui são filhos de seringueiros, são pessoas que vivenciam essa luta no dia a dia e nós queremos que as pessoas visitem Xapuri e, logicamente, isso reativa a economia, o turismo, mas, principalmente, o resgate dos ideais do Chico”, finalizou.
Para quem vive na cidade, é uma oportunidade de fazer a economia girar. Maria Helena tem 65 anos, é comerciantes, e lembra, inclusive do dia da morte de Chico Mendes.
“Foi uma comoção muito grande. Muito grande mesmo. Muita gente. Eu assisti tudo. Quando mataram ele. Acredito que ele morreu para dar vida a outras pessoas. Porque aqui naquele tempo matavam muita gente. E depois da morte dele, parou. Vem gente de todo lugar do mundo, dos Estados Unidos, de todo canto mesmo para conhecer a casa e acaba nos ajudando nas vendas”, disse.
A filha de Chico, Ângela Mendes, esteve presente na reinauguração disse estar emocionada em ver a casa do pai sendo reaberta à população novamente.
“Essa casa tem muita história e ela é, de fato, muito importante. A emergência climática tá tão presente na vida da gente como toda a luta que emergiu aqui de Xapuri, do movimento socioambiental daqui, do movimento dos extrativistas liderado por meu pai. Ela é importante e ela é, hoje, os ideais e o legado que Chico nos deixa a partir dessa luta, a partir desse lugar. A casa também representa tudo isso, sabe, essa luta de todos que estão espalhados hoje fazendo essa grande resistência, fazendo esse enfrentamento contra essas emergências climáticas”,
disse.
Quem foi Chico Mendes
Chico Mendes foi morto com um tiro de escopeta em 22 de dezembro de 1988 enquanto tomava banho nos fundos de casa, uma semana antes, o líder seringueiro havia completado 44 anos.
Nos dias que se seguiram à morte de Chico Mendes, houve comoção mundial pela partida do seringueiro. Diferente dos casos de outros líderes sindicais mortos no Acre dos anos 80, os suspeitos de planejar e matar Mendes foram logo identificados e presos.
Eram eles, o fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves Ferreira. A viúva de Chico Mendes, entretanto, chegou a pensar que eles sairiam impunes: “Na hora eu até achava, a exemplo de outros casos como o do Ivair [Higino, morto em junho de 88] e do Wilson Pinheiro [morto em junho de 80], que todos ficariam impunes”.
Darly e Darci foram condenados em 1990 a 19 anos de detenção. Eles fugiram da prisão em 1993, e foram recapturados em 1996. Em 1999, Darly saiu do presídio para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. Darci, no mesmo ano, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime semi-aberto.
Cartas a Chico
Há um espaço totalmente dedicado ao líder seringueiro Chico Mendes no Museu dos Povos Acreanos, em Rio Branco. Na sala, há um monumento, uma caixa, que guarda mensagens escritas em 2010. No dia 22 de dezembro de 2010, data que marcou os 20 anos do líder seringueiro, a Biblioteca da Floresta, na época sob direção de Edgar de Deus, selou uma caixa contendo mais de 5 mil cartas, desenhos e depoimentos de crianças, jovens, adultos e idosos inspirados na “Mensagem para o Futuro”, escrita por Chico Mendes. A caixa só será aberta em 6 de setembro de 2120.
“São mensagens enviadas para um tempo que não veremos. Registros da resistência e a esperança de toda uma geração que lutou para preservar e promover o meio ambiente, dando a sua contribuição para um futuro melhor aos homens e mulheres, povos da floresta, que aqui habitam e sonham”, diz a mensagem a baixo da caixa.