Biblioteca Pública do Estado do Amazonas, a guardiã da história amazonense

Com mais de 150 anos, o local já sobreviveu até à um incêndio, mas conseguiu se reerguer e se tornou parte essencial da cultura local.

As bibliotecas são lugares mágicos, que guardam parte da história de um lugar. Em Manaus (AM), por exemplo, uma das guardiãs da literatura amazonense está localizada na Rua Barroso, no Centro da cidade: a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. Há mais de 150 anos, a “biblioteca do Centro” serve como fonte de conhecimento e lazer para os habitantes da capital amazonense.

Sua história começou em 1870 com a criação da Sala de Leitura, com cerca de 1.200 títulos. Ela foi instituída pelo presidente da Província, Clementino José Pereira Guimarães. A inauguração ocorreu no dia 19 de março de 1871, no então Liceu Provincial Amazonense. Em 1873, a Sala de Leitura passou a ser no térreo do Palacete Provincial e em 1880 no prédio do Seminário São José.

Em 1882, o presidente da Província, José Paranaguá, criou a Biblioteca Pública Provincial do Amazonas, sendo o primeiro nome da instituição. A inauguração foi em 25 de março de 1883, no então aniversário de 59 anos da Constituição Política do Império do Brasil.

Depois de mudar, provisoriamente, para um salão no lado leste da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a biblioteca abriu suas portas ao público. Ela contava com boa parte do então acervo procedente da antiga Sala de Leitura.

Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Transferência 

Transferida para uma das salas do recém-inaugurado prédio do Liceu, situado na Rua Municipal – hoje Avenida Sete de Setembro – , a biblioteca começou a funcionar no dia 31 de julho de 1888.

Em 1897, a biblioteca não tinha mais autonomia devido ao alto custo de manutenção, tornando-se uma seção do Departamento de Estatística, na Rua do Progresso. Além disso, mudou de nome para ‘Repartição de Estatística, Arquivo Público e Biblioteca’.

Já em 1899, o Legislativo Estadual autorizou o então governador Ramalho Júnior a reorganizar a Biblioteca Pública. Porém, só em 1902 a Repartição de Estatística deixou o prédio da Rua do Progresso.

O então arquiteto paraense José Castro de Figueiredo projetou o novo prédio da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. As obras começaram em 1905 e o Estábulo Público foi o local escolhido.

Enquanto a construção do edifício ia a todo vapor, melhorias eram feitas no acervo bibliográfico. Tanto que, em 1906, a administração estadual adquiriu mais de 2.600 títulos. Todos pertencentes a Fernando de Castro Paes Barreto.

Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

A inauguração oficial 

A solenidade de instalação da Biblioteca Pública do Estado em seu prédio próprio ocorreu na administração de Antônio Bittencourt, em 5 de setembro de 1910. A data marca a Elevação do Amazonas à Categoria de Província.

Entre 1914 e 1915, quase 10 mil pessoas frequentaram essa biblioteca. Em março de 1925, ela começou a funcionar também no horário noturno, de 19h às 21h. No início da década de 30, ela tinha um acervo com quase 10 mil títulos, porém, menos de 50% das obras eram catalogadas.

Em 1931, os familiares do escritor Antônio Brandão de Amorim, conhecido como o colecionador das histórias e lendas, doaram para a biblioteca todo o acervo dele. A coleção foi instalada no dia 27 de abril daquele ano, em uma estante que recebeu o nome do escritor.

Entre junho de 1943 e maio de 1944, mais de 24 mil pessoas frequentaram a biblioteca. O responsável por ela era o jornalista Genesino Braga.

Incêndio

Na década de 1940, um incidente marcou a história do palacete da Rua Barroso e, principalmente, da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. Na madrugada de 22 de agosto de 1945, um incêndio aconteceu no segundo piso então usado pela Assembleia Legislativa. O fogo destruiu toda a ala sul do prédio, que dava acesso a Avenida Sete de Setembro. Além disso, queimou os móveis e o acervo de mais de 30 mil títulos da biblioteca.

O incêndio foi tão intenso que a estrutura metálica do telhado da ala sul desabou e destruiu os pisos do segundo andar e do térreo. A área norte não sofreu danos estruturais.

De todo o acervo, apenas uma coleção de 60 livros raros se salvou, por terem sidos transferidos dias antes do desastre para um estande, montado na 1ª Exposição-Feira da Amazônia.

Foto: Michel Dantas/Governo do Amazonas

Doação 

O processo de recomposição do acervo bibliográfico começou já no dia seguinte à tragédia. A primeira ação realizada nesse sentido partiu do próprio interventor federal Álvaro Maia, que doou cerca de 2.500 livros de sua coleção particular.

Alunos do Colégio Estadual e da Faculdade de Direito andavam em um caminhão recolhendo os livros doados pela população. A sociedade amazonense e instituições culturais de outros Estados e até de outros países, também realizaram doações.

Pouco mais de um mês após o incêndio, o então Jornal Amazonas anunciava, em matéria veiculada em 30 de setembro de 1945, que a diretoria da Biblioteca já havia recebido cerca de 10 mil títulos.

Além de Álvaro Maia, ao longo dos anos, a Biblioteca Pública recebeu doações de livros de Arthur Reis, Alfredo da Matta, Agnello Bittencourt, Mário Ypiranga, Ruy Araújo, André Araújo, Henoch Reis, entre outros. Essas obras existem até hoje e são classificadas como Coleções Especiais. Ao todo, são quase 30 coleções, que, juntas, contém um acervo de, aproximadamente, 5 mil títulos.

As portas da então Biblioteca Pública Estadual seriam novamente abertas ao público no dia 21 de novembro de 1947, com um acervo aproximado de 45 mil títulos. O então salão de leitura, juntamente com a seção de referência, foi instalado na ala norte do andar térreo, lado que dá para a Rua Henrique Martins. A seção de periódicos, a diretoria, a secretaria, os setores de aquisição, catalogação e classificação e os cursos passaram a funcionar no outro extremo do prédio. Nessa mesma área, em fevereiro de 1949, foi inaugurada a Biblioteca Infantil, com mais de 700 livros.  

Homenagem

Em agosto de 2022, a Biblioteca Pública do Amazonas passou a se chamar Biblioteca Pública do Estado do Amazonas Thiago de Mello, uma homenagem ao poeta e escritor amazonense que morreu no início deste ano. A mudança ocorreu por meio da Lei 5.983/2022, sancionada pelo governador Wilson Lima em julho.

Thiago de Mello foi membro da Academia Amazonense de Letras, destaque de Personalidade Literária do Prêmio Jabuti em 2018 e possui obras traduzidas para mais de 30 idiomas.

Atualmente, a Biblioteca possui aproximadamente 300 mil volumes, entre livros, folhetos, revistas, jornais, CDs, DVDs e outros itens. Há acessibilidade para deficientes físico, visual e auditivo.

Confira mais informações sobre o espaço: 

*Com informações da Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas e Instituto Durango Duarte

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

‘Uma noite no museu’: projeto possibilita visitação noturna e gratuita aos museus de Belém

O projeto recebe elogios em decorrência do horário, que facilita o acesso a pessoas que, por conta da jornada de trabalho, têm dificuldade em frequentar os espaços.

Leia também

Publicidade