Os finalistas são divididos entre gêneros e somente dois ganham o prêmio de R$ 10 mil reais além de todos os custos para a viagem até o Rio de Janeiro serem cobertos pelo concurso.
Raiz Campos é um dos dez finalistas da Fábrica de Graffite, um concurso para escolher qual artista irá pintar o maior mural de graffite do país, em Barra Mansa (RJ). A votação está disponível neste link e vai até o dia 31/07. Cada usuário pode votar mais de uma vez.
Dentre os 300 artistas inscritos dez foram selecionados por uma uma curadoria artística para concorrer a segunda e última fase do concurso que será decidida por voto online. Os finalistas são divididos entre gêneros e somente dois ganham o prêmio de R$ 10 mil reais além de todos os custos para a viagem até o Rio de Janeiro serem cobertos pelo concurso.
O artista soube do concurso através de um post patrocinado na rede social, realizou sua inscrição enviando currículo e foto de outras obras já expostas pela cidade como a Mãe das Águas que chama atenção na Estrada da Ponta Negra por ocupar uma grande caixa d’água.
Sobre o Artista
Raiz foi criado na Vila do Pitinga, povoado no município de Presidente Figueiredo, distante 107 km de Manaus, a vila foi criada para exploração de minério e em 2015 foi desativada. A proximidade da vila com o território indígena dos Waimiri Atroari estreitou desde cedo os laços de Raiz com a cultura e a luta indígena.
“Com 11 anos dei os primeiros traços e com 14 anos, lá no interior mesmo sem referências, já tinha visto algumas coisas em revistas, comecei de verdade a fazer meus desenhos. Aos 18 vim pra Manaus e comecei a me especializar, saia pra grafitar no fim de semana, comecei a conhecer uma galera, participar e ser convidado para os eventos e entre meus 19 a 20 anos larguei tudo pra fazer isso que é o que faz meu coração bater: estar na rua democraticamente mostrando o meu coração através da arte”, contou Raiz em entrevista ao Portal Amazônia.
Ao se inscrever no concurso Raiz enviou também um esboço da obra que pretende pintar caso leve o prêmio. “São aproximadamente uns 300 metros quadrados disponíveis para a pintura então eu fiz um esboço inspirado na nossa cultura do alto rio negro, nos povos baniwa, tikuna, bares, tukanos, me inspirei nas artes e nas danças, na flauta sagrada, da forma como a arte está presente no sagrado aquele povo, a proposta é pintar um grande ritual amazônico em prol do meio ambiente e questão indígena”, explicou.
“O concurso é patrocinado pelo fabricante de um dos materiais que nós, artistas do grafite usamos, o pessoal meio que ainda não conhece o poder dos artistas amazonense, ir mostrar isso pra esses patrocinadores, pro evento, o respeito e valorização da cultura indígena e meio ambiente, acredito que tem tudo a ver com o momento que o país está passando”.
Arte Urbana e Representatividade
Ainda que os grandes símbolos urbanos de Manaus sejam construções nos moldes europeus, a exemplo do Teatro Amazonas e prédios históricos construídos no período da borracha, o amazonense em suas diversas forças profissionais caminha progressivamente em busca de seu resgate identitário e originário. Como estabelecer esse diálogo através da arte? Raiz Campos vem usando as avenidas e os muros por onde manauaras passam diariamente.
Ao sair da Vila do Pitinga para a capital Raiz notou a ausência de verde na cidade. “Eu vi que tava precisando de floresta, a galera não tava dando muito valor. Já diziam que a minha técnica era plantar no concreto porque eu sempre gostei de fazer isso. Agora meu trabalho é bem voltado pra cultura indígena, os povos nativos e tudo que eles ensinam. Se for pra falar de educação ambiental a gente tem muito a aprender com eles, são eles que protegem, são os donos dessas florestas e merecem estar nos meus murais”.
“Numa conversa entre indígenas ouvi uma vez algo que me marcou demais: eu não me vejo nos filmes, nas novelas, revistas, outdoor, agora posso me ver nos viadutos, nos murais. Faz uns quatro ou cinco anos que ele me falou isso. Não é só pintar pra decorar é pra lutar, numa luta justa. Ainda sem saber nada sobre o resultado eu já estou sendo muito grato ao Estado do Amazonas que tem se mobilizado: lá em Tefé, Parintins, São Gabriel da Cachoeira, Eirunepé, tão apoiando compartilhando, comentando. Se a gente pode se unir tanto para uma votação imagina o que a gente pode fazer em prol do nosso país, do nosso Estado se focarmos numa direção só”, o artista em 2013 mochilou por alguns Estados do país e foi quando percebeu que precisava levar nossa região por onde fosse e que eles que precisavam nos conhecer, não o contrário.
“A gente tem uma cultura massa, um mistério, depois fui mais pro interior, Tabatinga, Benjamin Constant, pintei em Letícia, na fronteira, em Tefé, no Rio Purus, pintei São Gabriel da Cachoeira, Presidente figueiredo, Rio Preto da Eva, Novo Airão, pra mostrar pros interiores nosso nível artístico amazonense, sempre fui muito bem recebido por onde eu passei e a partir de 2017 eu comecei a me inscrever em eventos internacionais e fui passando, a gente tinha pintado em grandes viadutos nossa arte amazonense, nosso grafite manauara, a galera pirou, não conhecia, infelizmente o que se divulga por aí é as coisas lá de baixo [sudeste] ou da gringa, isso criou muita valorização e abriu muitas portas, cada artista que vai pra uma viagem dessa favorece muito a cena artística. Ano passado fui pro Estados Unidos, Alemanha, Uruguai, tudo em prol arte, é o grafite que me leva e a arte indígena, eu sozinho não tenho condição” completa Raiz em tom de gratidão.