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Terça, 16 Abril 2024

Em Manaus, Eva Wilma revela bastidores do teatro em 'Azul Resplendor'



MANAUS
- Com uma trajetória brilhante na bagagem, não há homenagem mais perfeita para uma atriz da envergadura de Eva Wilma, que a montagem de uma peça, que celebra com inteligência o próprio fazer teatral. Em 'Azul Resplendor', espetáculo que estreia neste fim em Manaus, Eva dá vida a Blanca Estela, uma atriz que alimenta um amargo desprezo pelo mundo do teatro, o que motivou sua aposentadoria precoce. "Ela abandona o ofício, mas acaba resolvendo retornar aos palcos. A peça fala do 'fazer teatral', ela mergulha na arte dos atores, diretores, dos bastidores e de três gerações, que através do humor crítico, mostram os problemas concretos da profissão", revela Eva Wilma, em tom bem-humorado ao Jornal do Commercio.
No texto, a ironia dos jogos de poder, afetos, ambições, inspirações, vaidades, ilusões, carências, as invenções, manias e frustrações dos atores quando se juntam para ensaiar uma peça. Para desvelar os bastidores dos palcos, o dramaturgo Eduardo Adrianzén, apresenta algumas personalidades típicas do universo teatral: a célebre atriz dramática aposentada precocemente, o eterno coadjuvante recalcado, o diretor arrogante e prepotente, a assistente de direção sem identidade e os atores jovens em busca de fama e poder a qualquer preço. É um retrato do ofício de ser ator, com humor 'ácido', mas sem perder a delicadeza da poética teatral.
Diferente da personagem, e prestes a completar 62 anos de carreira, Eva Wilma demonstra muita disposição e explica o segredo para o sucesso de tantas personagens. "Quando a gente faz o que se gosta, nos sentimos realizados. É o prazer de se sentir útil, e isso é um estímulo para a criatividade do ator. A realização de continuar trabalhando -é o ideal de qualquer profissional. Fiz teatro, cinema e televisão, ao mesmo tempo e, desde então, venho equilibrando o trabalho em cada uma delas. Mas foi nos palcos que aprendi meu ofício. É lá onde ficamos ao vivo diante do público, que nos entregamos de corpo inteiro”, conta entusiasmada. 
Além de Eva Wilma, elenco é formado por Renato Borghi, Guilherme Weber, Luciana Borghi, Débora Veneziani e Carlo Porto. Foto: João Caldas/Divulgação

“Em uma época de culto às celebridades, "Azul Resplendor" trata de maneira crítica e bem-humorada o ávido interesse que o público tem dedicado à vida privada dos artistas”, reforça Renato Borghi, que assina a direção ao lado de Elcio Nogueira Seixas. Além de Eva Wilma, elenco é formado por Renato Borghi, Guilherme Weber, Luciana Borghi, Débora Veneziani e Carlo Porto.
Tudo começou com a dançaA menina já mostrava vocação para a arte, desde os 9 anos de idade. Incentivada pelos pais estrangeiros e artistas, integrou o prestigiado corpo de balé de Maria Olenewa. "Foi em Manaus, no belíssimo Teatro Amazonas, que costumo dizer que os palcos me pegaram para valer. Eu estudava na escola de Olenewa, na época com 14 anos de idade, e me lembro que dancei entre outros 40 bailarinos, naquele palco sagrado, e no meio de tudo aquilo, tive certeza que nunca mais deixaria a arte", relembrou emocionada.
Dentre os papéis importantes de sua trajetória como atriz, Eva coleciona 22 filmes, mais de 40 trabalhos em televisão (entre novelas, séries e minisséries) e inúmeras peças teatrais. "Tive a honra de trabalhar autores, como Tenesse Williams, Arthur Miller, Martins Pena e Shakespeare; e com diretores como Antunes Filho e José Renato, este último fundador do Teatro de Arena, onde iniciei minha formação como atriz", relembra Eva, que ainda cita o espetáculo Esperando Godot, que encenou ao lado de Lilian Lemmertz.
No cinema sua atuação em "Cidade Ameaçada" e "Veias e Vinhos - Uma História Brasileira" são os destaques, para a artista. A atriz que começou sua carreira, ainda na época da televisão ao vivo, recorda de alguns papéis que emocionaram muitos aficionados pelas telenovelas. No hall das personagens mais marcantes, Eva Wilma elege, a maquiavélica Maria Altiva (de A Indomada), a italiana sofredora Marieta Berdizanni (de O Rei do Gado), a bondosa Maria da Cunha (de Os Maias), a médica Martha Corrêa Lopes (do seriado Mulher) e as gêmeas Ruth e Raquel (da primeira versão de Mulheres de Areia, em 1973). 
Como se não bastasse tanta 'diversidade' na TV, a atriz de 82 anos, encarnou esplendorosa, em 2015, a personagem Fábia, de “Verdades Secretas”. A mãe de Gianecchini na ficção, mostrou os dilemas de uma mulher rica, que perde tudo e se afunda no alcoolismo. A atriz atribui o sucesso da história, ao fato da ousadia dos autores em trazer com tanta profundidade, assuntos polêmicos do cotidiano. "Foram temas muito difíceis de serem abordados, mas sempre que assistia de casa, gostava muito do resultado. A iniciativa deste formato de 'mininovelas' é excelente para se falar de temas fortes, até por conta do horário. Além disso achei tudo de extremo bom gosto, pois a direção apostou em uma linguagem cinematográfica. A história, ainda tinha um 'que' de Nelson Rodrigues e cinema Noir", comenta.
Em seu livro biográfico “Eva Wilma - Arte e Vida", de Edla van Steen, em uma das páginas, a reprodução de uma foto da jovem Eva, com seu tutu de bailarina, traz a seguinte frase: "Esperando ser brilhante minha carreira, deixo aqui uma recordação do início desta". Parece que a menina tinha certeza das coisas!
Serviço
Espetáculo “Azul Resplendor”
Onde: Centro de Convivência da Família Padre Pedro Vignola (rua Gandú, 119, Nova Cidade)
Quando: Sexta-feira (23), às 19h
Quanto: GratuitoEspetáculo “Azul Resplendor”
Onde: Teatro Amazonas – Largo de São Sebastião
Quando: Sábado (24), às 20h; domingo (25), às 19h; segunda-feira (26), às 20hQuanto: R$20

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