Amizade e cooperação: intercâmbio cultural entre os indígenas Kayapó e os Ashaninka

O encontro aconteceu na aldeia Apiwtxa, localizada na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no Acre.

A gentileza presente na delicada troca de pinturas corporais entre indígenas Kayapó e Ashaninka deu o tom durante o intercâmbio cultural entre os povos, realizado em março na aldeia Apiwtxa, localizada na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no Acre. A cada traço feito com pigmentos naturais na pele alheia, novos laços de amizade e cooperação eram criados pelas duas comunidades, cujos territórios estão separados por cerca de 2 mil quilômetros.

A barreira do idioma não impediu as celebrações nas trocas de presentes e de conhecimento entre os parentes – forma como os indígenas se referem a integrantes de outros povos originários. Falando em português ou em suas línguas maternas com a ajuda de tradutores, os participantes do evento trocaram experiências sobre técnicas de plantio, segurança alimentar e gestão do território, objetivos iniciais da programação, mas também tiveram a oportunidade de estreitar laços importantes para a proteção das comunidades originárias do país.

“Nossos objetivos são os mesmos: defender nosso território e conservar a biodiversidade para viver em paz e harmonia com a natureza”, 

afirmou o cacique Bepunu Kayapó, da aldeia Môikàràkôem entrevista.

Intercâmbio entre os Kayapó e os Ashaninka. Foto: Dante Novaes/FUNBIO

Viagem 

A comitiva Kayapó foi formada por 30 pessoas, entre lideranças de diferentes aldeias, educadores indígenas e profissionais das três organizações representativas deste povo: os institutos Kabu e Raoni e a Associação Floresta Protegida. Também integraram o grupo gestores do projeto Tradição e Futuro na Amazônia e convidados do povo Yudja, que convive com os Kayapó na Terra Indígena Capoto/Jarina.

A comitiva dos Kayapó viajou de seu território, no sul do Pará e norte de Mato Grosso, ao oeste do Acre. No trajeto, fizeram longos trechos de avião, ônibus e barco. Ao chegarem à aldeia Apiwtxa, foram recebidos com generosidade, como manda a boa diplomacia, na casa de uma das lideranças dos anfitriões. 

Agricultura 

Além das celebrações e dos contatos sociais, a programação do intercâmbio incluiu, por exemplo, visitas à horta de espécies exóticas e aos sistemas agroflorestais locais, plantações cultivadas a partir de técnicas de agroecologia que combinam espécies nativas e frutíferas. Elas são usadas há anos pelos Ashaninka, que, dessa forma, recuperaram uma área degradada antes destinada à pecuária. Com o apoio do TFA, essas técnicas passaram a ser empregadas recentemente também pelos Kayapó. 

“O intercâmbio foi muito bom. Pudemos conhecer um pouco a rica experiência dos parentes Ashaninka com os sistemas agroflorestais. Esse é um trabalho que nós, Kayapó-Mekrãgnoti, precisamos desenvolver na Terra Indígena Menkragnoti. Estamos maravilhados com esse encontro. Foram dias muito produtivos e de muita aprendizagem”,

disse Bep ojo Kayapó, conhecido como Bepte, em depoimento ao Instituto Kabu.

Descendentes do numeroso povo homônimo que habita a Amazônia peruana, a comunidade Ashaninka do Brasil possui grande conhecimento na implementação de cadeias produtivas sustentáveis para a produção de insumos e a geração de renda, bem como em processos de governança e transmissão de conhecimento. As atividades realizadas durante o intercâmbio e o conhecimento compartilhado foram registrados pelo Coletivo Beture, formado por cineastas Kayapó. O material será compartilhado nas aldeias posteriormente.

O intercâmbio foi promovido pelo TFA, projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e gerido pelo FUNBIO, em parceria com as três organizações Kayapó já citadas, a Associação Apiwtxa do Rio Amônia, que trabalha pelos interesses dos Ashaninka, e a Conservação Internacional Brasil. 

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