Acreana de 17 anos, descendente de indígenas, desfilou para oito marcas na SPFW e deseja “ser reconhecida fora do Brasil”

Gabriely Dobbins é natural de Sena Madureira, no interior do Acre, e se mudou com a mãe para São Paulo.

Foto: Gabriely Dobbins/Arquivo pessoal

Gabriely Dobbins tem 17 anos e nasceu em Sena Madureira, no interior do Acre, distante 143 km da capital Rio Branco. Apesar da timidez, ela conta que sempre sonhou em trabalhar no mundo da beleza, mas nunca imaginou que se tornaria modelo. 

Neste mês de abril, Gabriely participou pela terceira vez do maior evento de moda do Brasil e fez oito desfiles na edição que aconteceu de 9 a 14 de abril deste ano.

Ela conta que durante a 57° Semana de Moda em São Paulo, a SPFW N57, ficou três semanas sem dormir.

“Eu estava literalmente três semanas sem dormir acordando muito cedo e dormindo muito tarde, mas quem estava lá trabalhando comigo sabe que eu estava feliz da vida, nem parecia que eu ‘tava’ cansada”,

garante Gabriely.

A modelo iniciou sua trajetória com apenas 16 anos e acredita que seu diferencial é a sua personalidade. Ela se considera uma pessoa alegre e esforçada. “Independente da situação sempre vou fazer meu trabalho com um sorriso no rosto. Até se for num frio de -0°, num calor de 80°, se eu tiver semanas sem dormir, que foi o que aconteceu no São Paulo Fashion Week”, diz.

A mãe de Gabriely, Aleyxandra Marques, de 45 anos, conta que desde pequena a menina gostava de tirar fotos e fazer poses, mas sempre teve vergonha de participar de concursos de beleza. A situação mudou quando a jovem encarou o ‘Miss Piscina’, tradicional festa da sua cidade natal, e venceu a competição. O vídeo chegou a um produtor e a sorte virou.

“Depois do concurso, o pessoal mandou o vídeo dela para o Sidney [Linas, um produtor e olheiro de modelos], e tinha uma moça que ajudava ela na passarela, que era ex-modelo. Aí ele veio e falou comigo, e convidou ela pra fazer parte da agência”, conta a mãe.

Gabriely venceu ainda o ‘Miss Teen Acre’. A partir daí, foi chamada para várias agências e com a ajuda de Lins, que trabalha com modelos há 20 anos, escolheu a agência Way Model Management

Foto: Reprodução/Elas no Tapete Vermelho

Gabriely foi emancipada aos 16 anos e há um ano está longe de casa. A mãe acompanha a filha e incentiva no sonho de ser modelo.

“No início não foi fácil. Tinha que pagar book, pagar aula de passarela, mas aí quando ela chegou em São Paulo, ela já fez tudo isso, e tinha agendado um editorial pra Vogue, já fez pra Vogue e desde então começou no primeiro São Paulo Fashion Week também, que já foi quando a gente chegou há um ano, em abril, chegou e fazendo três desfiles, aí continuou trabalhando. Fez foto pra muitas marcas, trabalho pra muitas marcas, Duda Reis, a Oakley, muitas”, 

diz a mãe.

Aleyxandra tinha uma academia e largou tudo para seguir a filha. Para ajudar a custear os gastos iniciais, alugou os equipamentos do local. Ela entregou a casa alugada que viviam e vendeu os móveis. Com apenas três meses de preparação na capital, a jovem foi selecionada para trabalhos e participar de castings [processos para a escolha de modelos] em São Paulo.

“Eu não desisti porque eu acredito que ela tem potencial. Não só porque as pessoas falam, mas porque está visível, e assim, eu sou muito orgulhosa. Eu tenho um orgulho muito grande da minha filha. Aonde ela chega, graças a Deus, todo mundo indica ela para outras pessoas, né? Os cabeleireiros, maquiadores, todo mundo tem um carinho por ela e aonde ela chega, ela sabe sair, sabe entrar, graças a Deus”, orgulha-se a mãe.


A mãe de Gabriely diz que é divorciada há muitos anos e que a filha mantém contato constante com o pai. “A mãe da gente sempre é o nosso alicerce, né? E eu acho que se a Gabi viesse para cá sem mim, ela já teria voltado, porque a gente sempre foi muito grudada. A gente senta, conversa, ri, chora. Então, eu sempre disse para ela, minha função é lhe orientar e dar conselhos. Conselhos pro seu bem, porque ninguém no mundo ama mais você do que eu”, assegura a mãe.

Foto: Gabriely Dobbins/Arquivo Pessoal

“Falo que sou do Acre e eles ficam em choque”

A descendência indígena vem de uma bisavó da etnia Huni Kuin, também conhecida como Kaxinawá. Por causa dos traços indígenas, ela conta que sempre é questionada nos testes. 

“As pessoas aqui em São Paulo não imaginam muito que o Acre existe sabe, mas sempre me perguntam assim “hum, imagino que você seja do Pará ou Amazonas”, e aí quando eu falo que sou do Acre eles ficam em choque”, 

conta a modelo.

Gabriely diz estar curtindo muito a correria e pretende ir além. “Muita correria e perrengue chique, mas tenho pra mim que isso é algo que sempre sonhei, e pretendo levar isso muito além, ainda não sei aonde vou chegar até porque é tudo no tempo de Deus. Deus sabe de todas as coisas, mas se ele achar que eu estou pronta para a próxima temporada de moda em Paris eu vou”, garante.

Sobre os sonhos, a adolescente declara que quer ser conhecida mundialmente. “Meu maior sonho é ser reconhecida, aqui no Brasil e fora, não só pelo meu trabalho, pela minha história e pela pessoa que eu sou e a pessoa de quem eu fui. Saberem de tudo que eu fiz e passei até chegar aqui”, diz.

*Por Hellen Monteiro, do g1 Acre

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