Abóboras de até 80 quilos são produzidas em sítio de Roraima

A produção impressionante é cultivada no sítio Boa Paz, propriedade de João Galdino, localizado no município de São Luiz.

Abóboras que poderiam estar em um típico filme de Halloween ou feitas em um passe de mágica para serem usadas na carruagem da Cinderela. Em um sítio no Sul de Roraima, o agricultor João Galdino, de 42 anos, plantou, irrigou, adubou e na hora de colher, encontrou cinco abóboras gigantes, com pesos de até 80 kg. “Foi uma emoção grande e uma satisfação grande dessa terra produzir com essa qualidade”, diz João.

Os frutos nasceram no sítio Boa Paz, propriedade de João Galdino, localizado no município de São Luiz. Mas as sementes vieram da cidade de Santa Lúcia, no interior do Paraná, terra natal de João e da esposa dele, Rosa Ana, de 37 anos.

Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Do tipo moranga, com 80 kg e 1,96 metros de diâmetro, a maior abóbora colhida pelo agricultor é quase quatro vezes maior do que a maioria das abóboras do mesmo tipo, que medem cerca de 50 centímetros. Além disso, é quase três vezes mais pesada que a maioria delas, que costumam ter 30 kg.

Juntas, as cinco abóboras — que tiveram peso de 45 a 80 kg — podem ter ultrapassado 200 kg. Além delas, a aboboreira também gerou outras duas abóboras menores, que ainda não foram colhidas.

“Foi uma emoção muito grande e uma satisfação grande dessa terra produzir com essa qualidade. A gente fica muito satisfeito”, 

afirmou João Galdino.

O plantio durou cerca de 90 dias. As duas primeiras abóboras a serem colhidas pesaram cerca de 45 e 50 kg. Uma delas foi vendida por R$ 280 e a outra foi cortada pelo agricultor rural, que deve plantar as sementes.

A maior abóbora da plantação deve ser leiloada ou vendida em pedaços em uma exposição do Fórum de Agricultura Familiar de Rorainópolis, município a 83,8 km de São Luiz, no dia 25 de agosto. Uma outra, com cerca de 50 kg, deve ser divida com outros agricultores da vicinal 06, onde a família vive.

João Galdino, a esposa Rosa Ana e os filhos, Victor e Talita. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Sementes diferentes 

Tudo começou depois de uma viagem que a família fez a casa dos pais de Ana, em março deste ano. Na roça do pai dela, a mulher conheceu algumas abóboras gigantes e ganhou sementes dos frutos de presente.

“Meu pai me mostrou a abóbora e ofereceu as sementes, ele disse para mim: ‘leva essa semente porque realmente ela é diferente. Ela é uma abóbora gigante, ela é própria para tratar dos animais, para fazer doces’. Eu nunca tinha visto, achei interessante, a cor dela era bonita, chama a atenção”, disse Ana.

Movida pela surpresa e a curiosidade de saber se as sementes dariam certo em Roraima, onde vivem há cinco anos, a mulher aceitou o presente e entregou para o esposo, que não chegou a ver a “mãe das sementes” e plantou sem imaginar o real tamanho dos frutos, que ficaram maiores do que as do sogro.

“Não imaginava [que seria grande], pois eu nem vi a abóbora lá no Paraná. Eu só tinha a semente. A semente era diferente. Quando eu peguei a semente, notei que era um pouco diferente. Mas eu não vi a abóbora lá, vi apenas as minhas. Então, me informaram que as abóboras produzidas lá foram menores. Aqui elas superaram, cresceram bem maiores”, 

explicou João.

As sementes foram plantadas pouco tempo depois da viagem, em abril. No início, o agricultor não usou adubo ou inseticidas e só passou a cuidar da aboboreira quando percebeu que o fruto era “diferenciado”.

“Quando plantei, não usei adubo. Ao perceber que era uma abóbora diferenciada, comecei a usar adubo de cobertura e também repelentes para afastar os insetos, né? E deu certo”, relembrou.

Apesar de serem frutos de uma semente grande, João acredita que o clima roraimense também fez com quem as abóboras ficassem maiores. Roraima encontra-se acima da Linha do Equador e é um estado quente.

“Aqui [em Roraima] ela deu um tamanho bem maior, né? Quase o dobro do tamanho lá no Paraná. E eu acredito sim que o sol influenciou, aqui é mais forte, né? Com mais tempo de sol e calor, além da chuva. Acredito que foi isso que fez essa abóbora chegar a esse tamanho, a esse porte”, disse João. 

Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Para o professor e pesquisador do curso de agronomia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), José Beethoven, o clima realmente pode influenciar no crescimento das plantas.

“Os hormônios são substâncias que trabalham o que está do lado de fora do organismo para o que está do lado de dentro. Por exemplo, quando você tem medo, você produz uma substância que causa uma reação. Então, os hormônios são algo parecido. Depende muito do clima, do ambiente externo, para que haja essa disfunção hormonal. Então, pode ser que o clima daquela região, o clima mais quente, mais próximo da linha, pode estar causando esse tipo de reforma que as plantas apresentam”, explicou José Beethoven.

De acordo com o presidente do Fórum de Agricultura Familiar de Rorainópolis, Abner Marinho, o evento deve reunir mais de 300 agricultores rurais e a maioria deles devem ir ao local para conhecer a abóbora de 80 kg.

“A ideia é conseguir fazer um leilão, conseguir dividir. Como estamos pensando num leilão, se não der leilão, vamos fatiá-la completamente e dar um pedaço para cada um, com a semente e o compromisso de plantar a semente”, afirmou Abner Marinho.

Terra fértil 

Nascido no Paraná, João sempre se dedicou a agricultura. Em 2018, ele recebeu um convite de um amigo para morar em Roraima e, acompanhado da esposa e do filho mais velho, Vitor, de 10 anos, se mudou para o extremo Norte do país.

“Ele me convidou e decidimos que iríamos ver se era a vontade de Deus. Deus confirmou que me traria para essa terra. Eu nem sabia onde ficava Roraima, não tinha ideia desse estado. Mas ele me disse que me levaria para Roraima e quando cheguei aqui, percebi que é uma terra abençoada, com solo fértil. Tudo o que se planta aqui em Roraima produz, basta plantar para colher”, afirmou.

Em São Luiz, a menor cidade de Roraima, com 7.315 habitantes, ele investiu na plantação de açaí, cacau, macaxeira e frutos como quiabo e maxixe. A abóbora – da pequena – também é cultivada pelo agricultor e junto com os outros alimentos, garante o sustento da família.

Abóbora de 80 kg tem 1,96 metros de diâmetro. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Hormônios de crescimento

Apesar de não serem tão comuns, legumes e frutos gigantes também não são raros, segundo o pesquisador José Beethoven. A reportagem, ele explicou que o excesso de hormônios vegetais podem regular o crescimento das plantas.

“Seres humanos possuem hormônios e os hormônios têm, desde que é o que são chamados hormônios de crescimento, que fazem a gente crescer. Então, as plantas também têm. A ausência de hormônio causa o nanismo e o excesso dele causa esse tipo de situação, de coisas muito grandes. Então, as plantas reguladas por hormônios também podem ter um crescimento a mais do que o normal e dar produtos enormes”, explicou o pesquisador.

É o ambiente de muito calor, luz e água que pode ajudar a planta a produzir muito hormônio. “Pode ser que seja isso, que essas condições tenha criado uma maior produção de hormônios e a maior produção de hormônio produziu frutos maiores”, completou Beethoven.

Ele afirma que não há problemas em consumir a hortaliça, pois os frutos possuem a mesma composição de uma abóbora de tamanho normal. “Não há nenhum problema para o consumo humano. Os frutos dessas plantas são exatamente iguais aos pequenos, com as mesmas substâncias. Apenas os hormônios vegetais que estão a mais. Os hormônios não têm efeito sobre o sabor”, ressaltou.

*Por Yara Ramalho, da Rede Amazônica Roraima

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