Visando a utilização do recurso florestal não madeireiro, o Instituto Mamirauá instalou uma máquina para a extração do óleo de andiroba na comunidade Batalha de Baixo, no Amazonas
Desenvolvida pelo Programa Qualidade de Vida (PQV) do Instituto Mamirauá, a máquina funciona a energia solar – uma adaptação fundamental para a região, de difícil acesso à energia elétrica. Após o cozimento e a secagem das sementes, a massa resultante é esquentada pela máquina. Em poucas horas, o aparato produz o que poderia demorar dias para ser extraído do modo tradicional, com a massa secando ao sol. Foram instalados ainda, uma estufa, para acelerar o processo de secagem antes da extração, um sistema de iluminação e um freezer a energia solar, para estocar a massa das sementes.
Além da instalação da máquina, os técnicos e pesquisadores do Mamirauá que visitaram a comunidade ministraram oficinas de capacitação para os comunitários que utilizarão a tecnologia.
A iniciativa faz parte do projeto Mamirauá: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação (BioREC), com recursos do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O projeto
Desde 2014 o instituto trabalha com a ideia de desenvolver um sistema capaz de acelerar e melhorar a qualidade da produção do óleo de andiroba em unidades de conservação do interior do Amazonas.
O Programa de Manejo Florestal Comunitário (PMFC) do Instituto Mamirauá executou uma série de ações para viabilizar o manejo do recurso. Primeiro, foi realizado um levantamento sobre o conhecimento tradicional local. Entrevistas foram feitas em comunidades que possuíam andirobais, à procura de quem soubesse a forma tradicional de extração e pudesse ter interesse em melhorias na produção do óleo.
“Identificamos as comunidades que tinham andirobais. Então fizemos um reconhecimento de área e um inventário amostral neles”, conta Emanuelle Pinto, engenheira florestal do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Em seguida, o PMFC escolheu 24 árvores e passou a monitorar a sua produção, instalando uma tela de 30 metros quadrados abaixo da projeção de suas copas para coletar as sementes que caíam. Assim, foi possível estabelecer um calendário da coleta de sementes, que tendem a uma produção maior entre os meses de abril e junho.
“É importante que se saiba em que época a produção é maior para que se possa extrair em maior quantidade, deixando uma parte para a fauna que se alimenta da andiroba e permitindo a regeneração da floresta”, explica Emanuelle.
As oficinas
Durante as oficinas, uma série de apresentações demonstrou à comunidade as boas práticas para a utilização do recurso – desde o manejo dos andirobais, até o uso da máquina. Foram abordadas questões como a vantagem de um inventário florestal, que determine quantas árvores existem no local, para que o recurso possa ser gerido de forma sustentável, e a higiene, necessária para um produto final de boa qualidade.
“Quando pensamos em uma cadeia comercial de um produto florestal, é importante que eles saibam o que tem na floresta para que possam garantir a sustentabilidade daquilo e conseguir negociar a produção deles”, complementa a engenheira florestal. “Então, se eles sabem quantas andirobeiras tem e quanto elas produzem, eles sabem o quanto de óleo poderá ser extraído.”
A equipe do Mamirauá foi recebida na comunidade Batalha de Baixo, Reserva Mamirauá, que participa desde o início das atividades. “Foram bem receptivos desde o primeiro momento, porque era uma instituição olhando para eles”, conta Emanuelle, que ressalta o interesse dos comunitários no projeto. “Eles percebem que a andiroba tem o potencial de ser uma renda extra na comunidade.”
Em um estudo de mercado, foram identificados 12 pontos de venda, entre feiras, casas produtores e revendedores, nas cidades de Tefé, Uarini, Fonte Boa e Alvarães. O estudo mostrou um bom potencial para a venda do óleo no mercado local. “Esses vendedores disseram que toda vez que o óleo de andiroba chega, ele acaba rapidamente. Compreendemos que existe uma demanda, mas há pouca oferta do produto“, relata Emanuelle Pinto.
“O projeto dá atenção a um recurso florestal não madeireiro que muitas vezes se estraga na floresta. É um olhar para que o recurso seja utilizado e, possivelmente, comercializado”, conclui a engenheira florestal.