Em Manaus, professor Valdely Kinupp diz que ‘geleia da vitória-régia é possível’

Você já imaginou comer pipoca da semente e geleia da flor de vitória-régia? É isso mesmo. De uma das maiores plantas aquáticas do mundo, que é o símbolo da Amazônia, pode-se comer a flor, as sementes, os caules subterrâneos e o talo. De acordo com o professor do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), o biólogo Valdely Kinupp, a vitória-régia (pertencente à família Nymphaeceae) é uma hortaliça que poderia ser produzida na Amazônia.
Foto: Reprodução/Shutterstock
A informação foi dada nesta segunda-feira (18), em palestra de abertura do V Congresso de Iniciação Científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Os pesquisadores do Inpa Cid Ferreira e Carlos Bueno escreveram uma cartilha, ainda não publicada, sobre o cultivo da vitória-régia, que traz a ocorrência, histórico e como cultivar a planta heliófila (prefere ambiente ensolarado) que pode ter até 2 metros de diâmetro e ocorre principalmente em águas paradas e lagos. “Inclusive já tentamos cultivar aqui no Lago Amazônico, no bosque da Ciência, mas as tartarugas são predadoras”, contou Ferreira. 
“A vitória-régia é a hortaliça mais emblemática da região. Dentre os nomes populares também é conhecida como milho-d’água ou cará-d’água. Não é consumida pela população, mas é uma delícia”, revela Kinupp, pesquisador e entusiasta das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). “O problema é que as pessoas só vão à feira para comprar tomate, pepino, pimentão, cebola, dentre outras”, diz o professor, autor juntamente com Harri Lorenzi do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) no Brasil, que traz 1.053 receitas ilustradas. Editado em 2014, já foram comercializados cerca de 20 mil exemplares. 
Para Kinupp, as PANCs ainda são pouco consumidas pela falta de conhecimento da população. “Eventos como este de Iniciação Científica, que é a pesquisa básica e aplicada, são importantes. O que falta é a matéria-prima. Você sai por aí e não encontra feijão macuco, sapota e nem pupunha, a não ser na safra e muito sazonalmente e continuamos a sofrer com o imperialismo gastronômico-alimentar”, destaca Kinupp. 
Segundo o professor, o assunto é muito interessante e há uma demanda, não só na Amazônia, mas no Brasil inteiro. “Temos 516 anos de conquista e o Brasil não come sua biodiversidade. Por outro lado, nos Estados Unidos já tem supermercado que vende taioba importada de Belo Horizonte”, destaca o professor. 
Kinupp comenta que na Amazônia e em alguns lugares do Brasil e do mundo as pessoas sofrem do que ele classifica de Transtorno de Defict de Natureza (TDN), ou seja, praticamente todos são analfabetos botânicos. “As pessoas olham para as plantas, mas não sabem lê-las”, diz. 
Para o professor, isso acontece porque ninguém, até agora, trouxe para um processo de manejo adequado, por exemplo, uma castanha-de-galinha, que é uma PANC e é uma castanha “maravilhosa” que se pode fazer, por exemplo, farinha, leite, queijo e bolo. 
Kinupp explica que nem todas as PANCS são espontâneas, algumas delas precisam de cultivo, como a araruta, o cubiu, o ariá. “PANCs é tudo que não é corriqueiro e que a maioria das pessoas não sabe o que é, ou já ouviu falar e nunca comeu, ou não sabe identificar e não encontra em lugar nenhum”, diz. Para exemplificar, Kinupp cita as hortaliças folhosas como sendo “mato”, porque não estão no prato. “São as caapebas, a urtiga, a taioba, a vitória-régia, o aguapé. Todas elas são alimentícias”, explica. 
O V Conic prossegue até nesta sexta-feira com mesas-redondas, exposições de 196 trabalhos desenvolvidos pelos bolsistas e orientadores das diversas áreas de pesquisas do Inpa. Nesta terça-feira (19), inicia a oficina de Elaboração de relatório e técnicas de apresentação oral com duas uma turma de 30 alunos, uma pela parte da manhã e outra à tarde. As oficinas acontecerão na sala de aula do Programa de Grande Escala da Atmosfera-Biosfera (LBA), até nesta quinta-feira (21), e serão ministradas por Elen Góes e Eleilza de Abreu.  
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