O atendimento é feito por médicos voluntários que, três vezes ao ano, escolhem uma região do estado para fazer o mutirão. Cirurgias como catarata, hérnia, tracoma, e outros procedimentos cirúrgicos, ginecológicos e pediátricos chegam aos indígenas em centros cirúrgicos móveis, que totalizam cerca de 15 toneladas de equipamentos. Voltada a 36 mil índios aldeados na região do Alto Rio Negro, no Amazonas, a ação conta com 45 médicos voluntários, que atuam em hospitais de referência como Albert Einstein e Sírio Libanês, em São Paulo.
“É difícil ir para Manaus. A gente não consegue, tem que deixar a família, fica lá largado até poder voltar. É bom demais poder fazer essa cirurgia aqui”, disse Divinória Gaudi, de 42 anos, da etnia Baniwa, que fez cirurgia de catarata. “Eu tive um pouco de medo antes da cirurgia, porque nós que moramos aqui não temos costume desse tipo de coisa, mas não doeu e já estou bem.”
Os moradores da região precisam esperar a cheia do rio para se deslocarem até Manaus, cidade mais próxima onde há centros cirúrgicos. Quando o problema é mais grave, eles são transportados por aviões da Força Aérea Brasileira, que atua no local e faz o transporte às quartas-feiras e aos domingos usando uma estrada de terra precária para pousos e decolagens. “Quando vem um ajuda dessa, a gente tem que aproveitar bem”, disse o cacique tariano, Gracindo Almeida.
Antes da chegada dos cirurgiões, profissionais de saúde do Distrito Sanitário Indígena do Alto Rio Negro fizeram uma primeira triagem dos habitantes que poderiam precisar de procedimentos cirúrgicos. Em seguida, os médicos fizeram uma análise especializada.
O mutirão teve início no dia 18. Balanço parcial (até o dia 22) mostra que foram feitos 770 atendimentos e 164 cirurgias. Além disso, os expedicionários também distribuem óculos de grau entre os que precisam.
O médico ortopedista Ricardo Ferreira, um dos fundadores da organização, conta que o movimento foi idealizado depois de um passeio de amigos pelo Pico da Neblina. “Nesse passeio vimos tantas necessidades, tanta miséria, que decidimos fazer algo”, relembrou. Além do trabalho voluntário dos médicos, o grupo também consegue doações de equipamentos e medicamentos de grandes empresas. “É tudo doação. O governo entra com a logística, ajudando na triagem, no transporte, na comida e em algumas instalações locais”, afirmou Ferreira. A Expedicionários da Saúde já existe há treze anos e ao todo já foram feitas 36 expedições.
Na última quarta-feira (23), o ministro da Saúde, Ricardo Barros, visitou as instalações da organização. Segundo Barros, até maio de 2017, o ministério deve ter reuniões com lideranças indígenas para elaboração de um novo plano de atenção à saúde indígena que também ajude a melhorar a situação dos que vivem em aldeias isoladas. “A atuação profissional nesses locais é um desafio que temos que resolver juntos [União, estados e municípios], encontrar uma forma de levar atenção à saúde indígena.”
Em sua visita ao estado, o ministro lançou um plano que pretende reduzir em 20% a mortalidade infantil indígena até 2019.