Símbolo de sobrevivência de massacre, indígena Iawí Avá-Canoeiro morre em GO

Foto: Giovanna Beltrão/Encontro de Culturas
O indígena Iawí Avá-Canoeiro, de 56 anos, morreu no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia (GO) na terça-feira (6). Segundo especialistas, ele era considerado símbolo de um massacre que dizimou quase toda sua tribo, Avá-Canoeiro, em disputas de terras com fazendeiros e resistência contra a colonização. Com a morte dele, existem, atualmente, apenas oito índios da etnia, que vivem em uma reserva em Minaçu, no norte de Goiás.

Iawí morreu às 14h40, de acordo com o hospital. Ele estava internado desde o último dia 17 de maio e foi vítima de um linfoma metastático. Segundo o indigenista Renato Sanches, o corpo foi levado para a aldeia, onde passará por um ritual reservado.

Sanches explicou, ainda, que os Avá-Canoeiros ocupavam, desde o século XVII a região do Rio Tocantins e depois migraram para o Rio Araguaia, em Goiás. Desde então, eles começaram a ser perseguidos por fazendeiros da região. “Praticamente toda a aldeia foi dizimada. Eles queriam escravizar os índios. A Avá-Canoeiro era uma tribo muito grande, que dominava o Vale do Araguaia. Mataram muitos índios por disputa de terra, não tinham piedade. Foi horroroso”, disse Sanches ao G1 Goiás.

Os conflitos perduraram até a o final da década de 1960. Apenas Iawí, a esposa, a matriarca e mais uma integrante da tribo sobreviveram. Por mais de dez anos, eles viveram escondidos em cavernas até serem acolhidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que destinou uma reserva para eles viverem. Iawí teve dois filhos – um homem e uma mulher. Esta última casou-se e teve outros três filhos.

O indigenista ressaltou a importância e o legado deixado por Iawí. “Ele era muito inteligente, gostava de agricultura e de trabalhar. Também tinha muita sabedoria e conhecimento do Cerrado. Foi um índio muito importante para Goiás”, afirmou.

Educação

Desde 2016, Iawí e sua tribo participavam de um projeto educacional na aldeia. Todos estavam aprendendo a ler e escrever tanto em português quando na língua materna dos Avá-Canoeiros. A proposta foi implementada em parceria com três universidades.

Em nota, a Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) “lamentou profundamente” a morte de Iwaí, o qual foi um “grande guerreiro que resistiu bravamente ao massacre histórico”.

O comunicado de pesar pontua ainda que, apesar da morte, o espírito do índio “estará presente e provavelmente feliz em ver seu povo tendo oportunidade de estudar numa educação que tem como princípios a interculturalidade e a trandisciplinaridade”. O órgão informou que arcou com todas as despesas para realizar o traslado do corpo até a aldeia.

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