Emocionada, a indígena Maria Gonzales falou que os mais novos são a prioridade do grupo. Ao todo são 25 crianças, o mais novo tem apenas seis meses. “Quem puder doar fraldas, comida ou até mesmo colchões já nos ajudam. Graças a Deus que as pessoas nos trazem produtos. É muito ruim viajar para um lugar que não conhecemos para escapar da fome que invadiu a Venezuela. A nossa maior preocupação são as crianças, por isso estamos querendo doações”, solicitou.
Quartos, cozinha e banheiro, tudo improvisado para que os venezuelanos tenham o mínimo de conforto. O calor da capital não assusta os indígenas, mas eles agradecem quando chove. Rindo e interagindo entre si, os integrantes do grupo acreditam que dias melhores virão. “Soubemos no Brasil que na quarta-feira será celebrado o Dia do Índio, tomara que as pessoas olhem por nós também”, falou Javier.
Pouco tempo depois que nossa equipe de reportagem chegou na Rodoviária para que a primeira doação chegasse. A copeira Luciana Pereira Pimentel levou uma sacola com várias peças de roupas infantis, ela trabalha próximo ao local e decidiu ajudar aos venezuelanos. “É tão triste, né? Ainda mais porque amanhã é o Dia do Índio, e apesar deles não serem do Brasil, ainda são seres humanos e precisam ser tratados como tal”, disse.
Em seguida, uma moto parou próximo ao acampamento e o entregador deixou comida para os indígenas. “Eu trabalho para uma peixaria e meu patrão decidiu fazer uma doação para os indígenas. Trouxemos peixe assado e guarnição. Espero que eles conseguiram sair dessa situação o mais rápido possível, afinal eles não tem culpa da crise que a Venezuela enfrenta atualmente”, contou entregador Sebastião Barbosa.
Quem também decidiu abraçar a corrente do bem foi a turismóloga Dayane Nunes que não escondeu a emoção ao entregar as roupas para os indígenas. “É um ato de amor ao próximo. Eles saíram de uma situação de extrema pobreza, onde ninguém conseguia ajudá-los, ou seja, aqui no Brasil ainda temos a oportunidade de cuidar dessas pessoas. Se você tem recursos ou conhece alguém que tenha não perca tempo. São pessoas que estão em um país estranho e com pessoas que em sua maioria não falam sua língua”, pediu a jovem.
Volta para casa
No dia 2 de abril, os indígenas voltariam para a Venezuela em dois ônibus alugados pelo Governo do Estado e Prefeitura, mas a ação foi interrompida pelo Ministério Público Federal que que se reuniu com o Grupo de Trabalho composto por instituições públicas e da sociedade civil que acompanha a situação e atua no atendimento desses migrantes. Em nota, a Sejusc afirmou que a justificativa do MPF se dá pela falta de garantias de que os migrantes cruzariam a fronteira Brasil/Venezuela, pois, o fim do trajeto da viagem seria o município roraimense, Paracaraima, cidade fronteiriça.
Segundo a titular da Sejusc, Graça Prola, as tratativas para marcar uma nova data para o retorno dos migrantes, envolve, agora, a Presidência da República, que informou estar analisando a situação e articulando ações conjuntas com alguns ministérios como da Justiça, Educação e Desenvolvimento Social para resolver a situação dos que desejam voltar a Venezuela e dos que estão em solo brasileiro.