Morando nas ruas, índios venezuelanos contam com ajuda de manauaras

Cerca de 40 indígenas venezuelanos, entre crianças e adultos, estão vivendo há mais de um mês debaixo de um viaduto na Avenida Constantino Nery, ao lado da estação rodoviária municipal. Um grupo da etnia Warao recebeu a equipe de reportagem do Portal Amazônia e falou sobre a situação que os fizeram abandonar a Venezuela. Nesta quarta-feira (19), os brasileiros celebram o Dia do Índio, uma data agridoce para os indígenas venezuelanos, mas que com a ajuda dos amazonenses enxergaram alguma esperança no meio deste momento de dificuldade.

Indígenas vivem debaixo do Viaduto na Constantino Nery. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), no início de fevereiro, 117 imigrantes, entre indígenas e não indígenas, chegaram a Manaus, em abril o número subiu para mais de 400 pessoas. “Não tem comida ou trabalho na Venezuela. Os produtos lá estão muito caros, em Manaus, as coisas estão mais acessíveis. As barreiras da língua nos atrapalham muito quanto se trata de encontrar um emprego, mas estamos dando um jeito e também recebendo doações”, contou o cacique.

Emocionada, a indígena Maria Gonzales falou que os mais novos são a prioridade do grupo. Ao todo são 25 crianças, o mais novo tem apenas seis meses. “Quem puder doar fraldas, comida ou até mesmo colchões já nos ajudam. Graças a Deus que as pessoas nos trazem produtos. É muito ruim viajar para um lugar que não conhecemos para escapar da fome que invadiu a Venezuela. A nossa maior preocupação são as crianças, por isso estamos querendo doações”, solicitou.

Local transformou-se em acampamento para os indígenas venezuelanos. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Apesar de receberem ajuda, os venezuelanos afirmam que muitas pessoas são ríspidas. O indígena Javier Morales afirmou que apesar da situação precária, na Venezuela, a vida dos indígenas é muito pior. “Para ser sincero a nossa vida aqui em Manaus nem se compara ao que passamos na Venezuela. Viver dessa maneira é triste, claro que é, mas passar fome é muito pior. Estamos tentando achar oportunidades para sair dessa fase complicada”, contou.

Quartos, cozinha e banheiro, tudo improvisado para que os venezuelanos tenham o mínimo de conforto. O calor da capital não assusta os indígenas, mas eles agradecem quando chove. Rindo e interagindo entre si, os integrantes do grupo acreditam que dias melhores virão. “Soubemos no Brasil que na quarta-feira será celebrado o Dia do Índio, tomara que as pessoas olhem por nós também”, falou Javier.

Indígenas passavam fome na Venezuela. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Doações

Pouco tempo depois que nossa equipe de reportagem chegou na Rodoviária para que a primeira doação chegasse. A copeira Luciana Pereira Pimentel levou uma sacola com várias peças de roupas infantis, ela trabalha próximo ao local e decidiu ajudar aos venezuelanos. “É tão triste, né? Ainda mais porque amanhã é o Dia do Índio, e apesar deles não serem do Brasil, ainda são seres humanos e precisam ser tratados como tal”, disse.

Em seguida, uma moto parou próximo ao acampamento e o entregador deixou comida para os indígenas. “Eu trabalho para uma peixaria e meu patrão decidiu fazer uma doação para os indígenas. Trouxemos peixe assado e guarnição. Espero que eles conseguiram sair dessa situação o mais rápido possível, afinal eles não tem culpa da crise que a Venezuela enfrenta atualmente”, contou entregador Sebastião Barbosa.

Doações são feitas diariamente. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Flagramos a idosa Maria Isaías conversando e entregando várias sacolas de roupas para os venezuelanos. Ela afirmou que não é a primeira vez que leva doações para os indígenas e pediu para a população manauara se mobilizar para ajudar. “Eu penso muito nas crianças que estão aqui, eu reúno o máximo de ajuda que consigo e trago para eles. Acho que as autoridades deveriam ser mais ativos nestas situações, afinal os pequenos dormem ao relento, passam frio e calor. Enquanto eles ficarem aqui, eu vou ajudar”, declarou.

Quem também decidiu abraçar a corrente do bem foi a turismóloga Dayane Nunes que não escondeu a emoção ao entregar as roupas para os indígenas. “É um ato de amor ao próximo. Eles saíram de uma situação de extrema pobreza, onde ninguém conseguia ajudá-los, ou seja, aqui no Brasil ainda temos a oportunidade  de cuidar dessas pessoas. Se você tem recursos ou conhece alguém que tenha não perca tempo. São pessoas que estão em um país estranho e com pessoas que em sua maioria não falam sua língua”, pediu a jovem.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Volta para casa

No dia 2 de abril, os indígenas voltariam para a Venezuela em dois ônibus alugados pelo Governo do Estado e Prefeitura, mas a ação foi interrompida pelo Ministério Público Federal que que se reuniu com o Grupo de Trabalho composto por instituições públicas e da sociedade civil que acompanha a situação e atua no atendimento desses migrantes. Em nota, a Sejusc afirmou que a justificativa do MPF se dá pela falta de garantias de que os migrantes cruzariam a fronteira Brasil/Venezuela, pois, o fim do trajeto da viagem seria o município roraimense, Paracaraima, cidade fronteiriça.

Segundo a titular da Sejusc, Graça Prola, as tratativas para marcar uma nova data para o retorno dos migrantes, envolve, agora, a Presidência da República, que informou estar analisando a situação e articulando ações conjuntas com alguns ministérios como da Justiça, Educação e Desenvolvimento Social para resolver a situação dos que desejam voltar a Venezuela e dos que estão em solo brasileiro.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
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Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
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