Um porto seguro para praticar sua fé. É dessa forma que algumas pessoas enxergam a Fraternidade Amigos do Evangelho (FAE), uma igreja inclusiva que procura acolher as pessoas excluídas pelas congregações tradicionais, sejam elas católicas ou evangélicas. Em 2017, o grupo completou três anos de fundação em Manaus, e apesar de vários obstáculos vencidos, a fraternidade ainda não possui uma sede para as celebrações e reuniões, elas acontecem nas casas dos fiéis que abraçaram a causa.
Em 2013, o Bispo Renato de Souza, tomou conhecimento do formato igreja inclusiva. “Sou pesquisador na área de religião, então no final da faculdade de teologia iniciei uma busca sobre o assunto. Cerca vez recebi um convite para conhecer uma igreja inclusiva que tinha em Manaus. Depois de um tempo comecei a congregar e fui ordenado bispo. Após algumas divergências teológicas sai e abri a FAE, primeiro com encontros esporádicos na minha casa, depois realizando reuniões nas casas dos participantes”, disse.
Segundo o bispo, os encontros da FAE são chamados de celebrações. Por causa dos membros, que são de evangélicos e católicos, o bispo precisou adaptar as reuniões. “Criamos esse meio termo por que temos um público oriundo tanto das igrejas evangélicas, quanto das católicas. Faço um culto voltado para as duas denominações, uso roupas sacerdotais e ouvimos a palavra de Deus. O sermão costuma ser de uma perícope inteira da bíblia para que nada saia de seu contexto”, explicou.
Sobre o trabalho desenvolvido pela igreja inclusiva, o Bispo Renato se diz esperançoso e espera que as pessoas possam buscar aconselhamento na fraternidade. “Até pouco tempo nós éramos a única igreja inclusiva do Norte, agora nós sabemos que existem outras trabalhos recomeçando em Manaus. Nosso objetivo é alcançar as pessoas que os outros cristãos não querem, aqueles que foram excomungados ou expulsos de suas igrejas. Estamos aqui para os excluídos e solitários, ou até mesmos, os que se sentem ligados a essa proposta”, comentou.
Religião e sexualidade
Um dos grandes pontos polêmicos que acerca as igrejas inclusivas é a questão da sexualidade versus religião. “O primeiro argumento que podemos utilizar é que na bíblia você encontra apenas oito versículos que supostamente condenam as práticas homoafetivas, mas você se depara com 200 que falam sobre o amor ao próximo. Então, o que seria mais importante? Depois usamos um método histórico/crítico que lança mão das ciências modernas para reinterpretar os textos. Faço muitos aconselhamentos, converso com as pessoas, procuro sobretudo fazer com que eles se sintam amados por Deus”, revelou.
Para o Bispo, as pessoas não deveriam olhar para a bíblia como um livro jurídico, mas como uma grande carta de amor para a humanidade. “O primeiro critério para se interpretar a bíblia é entender que Deus é amor. Ele jamais condenaria a obra de suas mãos, o homoafetivo é uma obra das mão Dele, ou seja, Deus não criaria alguém para ir ao inferno. Nosso objetivo é fazer com que as pessoas se sintam bem na igreja inclusiva, onde pode ser aceito como é, com suas virtudes e defeitos, e sobretudo amar um Deus que não é juiz, mas um pai amoroso”, comentou.
Encontro nacional
Em dezembro do ano passado, o Bispo Renato participou do primeiro Encontro Nacional de Pastores e Líderes de Igrejas Inclusivas do Brasil. O evento foi sediado pela Igreja Comunidade Atos, em Brasília. Com o evento, as lideranças decidiram criar um Conselho Diretivo com um representante de cada região do país, a participação do Bispo foi quase que automática, uma vez que ele era o único representante do Norte. No final do encontro, os diretores escreveram um documento nacional para ser entregue ao governo.
O texto do documento aborda a questões como a família tradicional e pedofilia. Na visão do Bispo, as pessoas precisam conhecer uma causa para que a mesma seja julgada. “Queremos desmitificar que i cristão inclusivo é contra a família tradicional, afinal somos filhos de uma família tradicional, como podemos ser contra isso? E também abordamos a questão da pedofilia, afinal muitas pessoas acham que todo homossexual é pedófilo e as coisas não são bem assim. Estamos programando outro encontro, mas dessa vez em São Paulo”, contou o Bispo.
Sede
Os fiéis da FAE se reúnem duas vezes na semana, o primeiro acontece nas terças-feiras, já a celebração é realizada nos domingos. A fraternidade não possuí uma sede, então as reuniões são feitas nas casas dos membros. “Estamos trabalhando desde o início do ano para encontrar uma sede, nesse meio tempo, a gente realiza os encontros na minha casa ou na dos participantes. Queremos também adicionais mais um dia de encontro que é um projeto para a escola bíblica. E estamos estudando a possibilidade de criar pequenos grupos, uma espécie de célula, para manter a espiritualidade dos participantes”, afirmou.
Para divulgar o trabalho da FAE, a diretoria pretende fazer um encontro para desenvolver relacionamentos. “É uma forma de aproximar as pessoas, principalmente daqueles que querem conhecer o trabalho que desenvolvemos. As pessoas não podem ficar longe da palavra de Deus, e muitos por medo acabam se afastando, mas como eu já falei, Deus é amor. Não se prenda a coisas pequenas em frente ao amor Dele por nós”, aconselhou o Bispo. FiéisO servidor público Rafael Farias acompanha o trabalho da fraternidade desde de sua fundação. “Aos 19 anos, entrei em contato com um pastor de São Paulo, ele me remeteu para outra pessoa, mas o tempo acabou passando, então conheci o Bispo Renato em outra igreja, depois que a mesma fechou, o Bispo decidiu iniciar a fraternidade. Ao longo dos anos conseguimos perseverar, não é fácil, mas mantivemos as reuniões apesar dos obstáculos”, falou.A fraternidade começou aparecer mais nos últimos meses, os membros criaram uma página na internet, canal no YouTube e até mesmo cartões que são distribuídos nas ruas de Manaus. “A visibilidade é necessária. Todo tipo de discriminação precisa ser vista para que a sociedade consiga refletir. Antes os nossos encontros eram limitados, mas agora estamos conseguindo alcançar mais pessoas”, disse o jovem.O biólogo, Lucas Dias, conheceu a fraternidade através de alguns amigos e decidiu participar de uma das celebrações dominicais. Já na primeira reunião ele se sentiu abraçado pelos fiéis. ” Na FAE me senti muito acolhido por todos, diferente de alguns templos onde me sentia excluso por não acreditar nesse Deus que castiga por não cumprirmos as regras. Na fraternidade encontrei o Deus que é amor, que enviou seu filho para remição dos pecados, que ama todas suas criaturas. Além de mostrar esse Deus Pai, o real significado do Abba Pai”, contou.A Fraternidade Amigos do Evangelho (FAE) conta com dois encontros semanais, nas terças-feiras e domingos. Os interessados podem acessar a fanpage da igreja para saber onde acontecem os encontros.