O exercício militar de simulação de atendimento humanitário AmazonLog17, marcado para o período de 6 a 13 de novembro, em Tabatinga (AM), na tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru, reforça a presença do estado brasileiro na região e também deixa um legado para a população local, disse o general Antonio Manoel de Barros, designado Chefe do Estado-Maior Combinado do exercício de simulação. Segundo o general, o evento também envolve órgãos públicos na busca de soluções para os problemas da região.
“O primeiro foco, o fortalecimento da presença do Estado brasileiro. Não só o Exército, a Força Aérea e a Marinha, mas outras agências, estão se fazendo presentes nessa sinergia. Então a presença [de militares na Região] fortalece o Estado de Direito fomentando a cidadania”, disse.
Manoel de Barros respondeu a questionamentos levantados pela população local a respeito de um possível legado do evento que deve mobilizar cerca de 2.000 militares.
O militar lembrou que a principal dificuldade da região é o acesso, uma das principais razões para a dificuldade de o Estado resolver problemas estruturais. Segundo o general, a simulação prevista envolve uma série de atividades como treinamento para resgates, incluindo suprimentos, saúde, manutenção e transporte.“O exercício militar visa o atendimento à população em uma ação de catástrofe e isso já é um benefício. É evidente que, como militares, não temos a obrigação e o dever de fomentar a melhoria da estrutura do município, mas colaboramos”, disse.
Durante o exercício serão realizados atendimentos de saúde para a população local, comunidades ribeirinhas e indígenas. Sem acesso de qualidade a diversos equipamentos e serviços públicos, a preocupação da população local é menos com a interação das tropas para o exercício militar e mais com um possível legado em acesso a serviços, especialmente os de saúde. Tabatinga conta apenas com uma Unidade de Pronto Atendimento e Unidades Básicas de Saúde.
O general disse que o conhecimento adquirido com a realização da simulação de desastre natural já é uma maneira de auxiliar a localidade. “Ou seja, em uma iminente catástrofe aqui, típica da área, qual seria a estrutura de apoio que o Estado brasileiro poderia oferecer junto com outros países? Essa que estamos montando e desenvolvendo ao longo da preparação desse desafio”, disse. Daí a sinergia com outras agências nacionais. A solução do Brasil está na mão de todos, não só em uma instituição”, defendeu.
O comandante citou como uma das benfeitorias, a recuperação de parte da rede elétrica da cidade, executada em parceria com a Eletrobras. Foram trocados postes, parte da fiação, com substituição de fios de cobre por fios de alumínio, e instalados quatro transformadores que atenderão ao evento, mas que depois ficarão disponíveis.
A mobilização para a instalação do equipamento começou no início de outubro e envolveu uma equipe de nove técnicos da Eletrobras. Todo o material foi transportado de Manaus. “Essa rede será desmontada e esse material ficará todo aqui na cidade para um eventual uso. Esse material aqui fica para operação, para emergência, se quebrar um poste, tem outro para repor, se quebrar um transformador, a mesma coisa”, disse à Agência Brasil o técnico da estatal, Fábio Nascimento.”
O general Manoel de Barros disse que existem tratativas com a prefeitura para transformar o local que receberá a base de operações do exercício de simulação em uma área de lazer para a população local. Ainda segundo o general, a melhoria de instituições de saúde das Forças Armadas que atendem a população local também ficam como uma espécie de legado. “Há uma parceria de uso do posto médico do nosso do quartel com a população local. Além disso, a nossa engenharia, por meio de um convênio, recuperou dois postos de saúde”, disse.
De acordo com o militar, o evento destinará um dia para a realização de um seminário com lideranças locais e representantes de órgãos públicos, para discutir soluções para os problemas da região. A possibilidade de construção de saídas conjuntas seria uma espécie de legado intangível, disse Manoel de Barros. “O intangível, e eu sei que a gente busca muito a concretude nas ações, é o fomento para as lideranças buscarem soluções perenes para os problemas da região. Sejam elas lideranças locais ou do estado como um todo. Evidentemente não temos a obrigação de solucionar todos os problemas, mas fazemos força na busca da solução”, disse.
Participação EUA
Um dos pontos que têm gerado questionamentos é a participação de militares estadunidenses no exercício de simulação. O tema chegou a ser debatido na Câmara dos Deputados, quando o líder do PSOL, deputado Glauber Braga (RJ), questionou o convite. No início de outubro, o deputado encaminhou um requerimento ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, e ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, pedindo mais informações sobre a participação de militares dos Estados Unidos. De acordo com o deputado, a medida poderia representar a possibilidade de perda de soberania e ou de subordinação do Exército.
De acordo com o general Manoel de Barros, o convite foi feito não apenas aos EUA, mas também a outros países com os quais o Brasil tem relação diplomática, inclusive à Rússia e Venezuela”, disse. “Não há dúvida que somos as Forças Armadas e estamos aqui para proteger os interesses da nossa terra, do nosso povo, seja com ações humanitária ou em qualquer outro contexto. Como países amigos, eles têm interesse em aprender o que é diferente em seus países e por isso que estão conosco, são amigos e queremos mostrar nossa capacidade, e eles podem aprender alguma coisa nesse exercício”, acrescentou.
Manoel de Barros disse que o Brasil é reconhecidamente um país vocacionado para a defesa da paz, mas que, em caso de uma possível hostilidade, a mobilização também evidencia a capacidade das tropas brasileiras em repelir uma possível ameaça externa. “Todos os países que estão aqui são países com os quais temos relações diplomáticas. Então essa troca de experiência faz parte. Felizmente somos um país que não tem inimigos e buscamos sempre a paz, por isso o exercício de ações humanitárias e por isso os observadores. Mas todo o potencial que iremos demonstrar não deixa de ser uma mostra ao mundo da nossa capacidade dissuasória”, disse.
AmazonLog17
São esperados para o AmazonLog17 cerca de 2 mil participantes. Além das três armas do Brasil, da Colômbia e do Peru, também acompanham os exercícios militares dos Estados Unidos. Do Brasil serão cerca de 1.550 militares; a Colômbia deve enviar 150; o Peru, 120, e Estados Unidos, 30. Os outros países levarão menos que dez representantes como a Alemanha, Rússia, o Canadá, a Venezuela, Alemanha, França, o Reino Unido e Japão. A expectativa é de que a maioria dos militares comece a chegar à área do evento a partir de domingo (5).
A atividade envolve unidades de transporte, logística, manutenção, suprimento, evacuação e engenharia. No caso de catástrofes, por exemplo, isso implica planejamento logístico de deslocamento equipamentos e os suprimentos e equipes até o local da ação. Além de preparar a área, é preciso pensar em como atender os feridos e evacuar as pessoas.
Também serão feitos atendimentos às comunidades que vivem na região, inclusive indígenas e ribeirinhos do Brasil e dos países vizinhos, nas especialidades de clínica geral, ginecologia, pediatria, ultrassonografia e um cirurgião, que vai ficar no Hospital de Guarnição de Tabatinga.
O exercício visa não só a capacitar militares das Forças Armadas, como também a promover uma maior integração entre os membros das principais instituições responsáveis por socorrer as vítimas de catástrofes naturais e acidentes, como, por exemplo, Defesa Civil, Corpo de Bombeiro, secretarias estaduais, polícias Militar e Civil.