As imagens de indígenas isolados registradas pelo fotógrafo brasileiro Ricardo Stuckert ganharam o mundo. As fotos feitas na fronteira entre Acre e Peru foram publicadas em diversos veículos nacionais e internacionais. Ao Portal Amazônia, nesta quinta-feira (21), o profissional premiado contou que fez as fotos “ao acaso”. Confira mais detalhes sobre a experiência na entrevista.
Portal Amazônia – O que você estava fazendo do Acre? As fotos fazem parte de algum trabalho especial?
Ricardo Stuckert – Há um ano e oito meses estou fazendo fotos de indígenas para a produção do meu livro ‘Índios Brasileiros’, que será publicado em 2017. Desde então, venho tirando inúmeras fotografias de dezenas de povos, algumas delas já premiadas. Uma das fotos ganhou em 2016 ‘Travel Photographer of the Year‘, o maior concurso mundial de fotografia. Eu estava indo de helicóptero para um território do povo Ashaninka, no Acre. Durante o percurso, o piloto avisou que teríamos que voltar devido a chuva forte que caía. No caminho de volta, da aeronave, eu vi o povoado indígena e na hora puxei minha câmera. Eles parecem ser muito diferentes de outros povos da região.
PA – Você não estava muito longe para fazer as fotos?
RS – Sim. Por sorte eu tinha levado uma lente fixa de 400 milímetros(mm) e outra de 800 mm da Canon. Foi muita sorte encontrar aquele lugar e mais sorte ainda por eu estar com essas lentes. Outra coisa que ajudou muito foi que minha câmera estava com uma configuração que dão as fotos a melhor qualidade possível. Do helicóptero, eu consegui tirar algumas fotos, a grande maioria desfocada ou tremida. Eu não tinha me preparado de maneira alguma para a situação e uma pequena parcela das fotos ficou boa. Tudo isso foi muita sorte.
PA – Você disse que os indígenas parecem ser diferentes daqueles que vivem na região. Por quê?
RS – Na foto dá pra notar que muito deles têm traços asiáticos. Um tinha a cabeça toda raspada. Outro utilizava uma pintura corporal imitando pele de cobra. O Acre tem atualmente 16 etnias e é um Estado com uma preocupação latente pela preservação. Das etnias que eu visitei, nenhuma tinha sequer a aparência dos indígenas que fotografei.
PA – O que você sentiu ao fazer as fotos?
RS – Medo eu não tinha. Se você perceber nas fotos eles não estão olhando diretamente para mim. Da visão deles eu era apenas um ponto negro, talvez não desse pra notar nem que haviam humanos dentro do helicóptero. No momento tudo foi muito rápido. Depois, quando eu percebi o que tinha acontecido, só pensava o quanto eu tinha sido sortudo.
PA – Qual opinião você tem sobre os indígenas isolados?
RS – Alguns desses povos isolados se distanciam de maneira consciente. Nós precisamos respeitar a decisão deles. Não são eles que estão se aproximando da cidade, é a cidade que cada vez mais está se aproximando deles. É preciso ter uma política pública, acompanhar esses povo por imagens de satélite, para assegurar que vamos continuar respeitando a decisão que eles tomaram de ficar longe da nossa sociedade.
Ricardo Stuckert
Ricardo faz parte da família de fotógrafos Stuckert, dona da Stuckert Press, uma das primeiras agências de fotografia do Brasil. Junto com o pai, Ricardo trabalhou para enviar fotos dos principais eventos da nação para as mais diversas empresas jornalísticas do Brasil. Ele já trabalhou como fotógrafo oficial de dois ex-presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rouseff. Atualmente, Stuckert trabalha na produção do seu livro ‘Índios Brasileiros’, que será lançado em 2017.