Criada na Amazônia, Nossa Senhora do Tempo em Barcarena é tema de pesquisadora no Pará

Uma forma de devoção a Maria que só existe no município de Barcarena foi tema de pesquisa para o trabalho de conclusão de curso de Suzilene Costa, aluna do curso de Licenciatura em Artes Visuais, realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) no município por meio do Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor).

A imagem conhecida como “Nossa Senhora do Tempo” ficava localizada às margens do rio Carnapijó, na comunidade do Cafezal, na zona rural de Barcarena, em um local que fazia parte da rota de diversas embarcações que navegavam pela região das ilhas de Belém e Barcarena.

Foto:Suzilene Costa/Acervo Pessoal

Segundo a coordenadora do curso de Artes Visuais no Parfor, professora Ida Hamoy, a iconografia de Nossa Senhora do Tempo foi criada em Barcarena e só existe no município, reforçando a importância de incentivar uma produção acadêmica dos alunos do Parfor que seja voltada para aspectos locais de suas comunidades.

“É a retomada do próprio patrimônio cultural das cidades. Os alunos são instrumentalizados para fazer esse mapeamento, essa documentação, e também de fazer a devolutiva, que é devolver para a comunidade uma resposta de tudo aquilo que a gente recebeu”, destaca Ida Hamony.

De acordo com a aluna Suzilene Costa, a ideia de pesquisar a imagem surgiu após a professora Ida Hamoy chamar a atenção para o “ineditismo” da devoção a Nossa Senhora do Tempo, quando ministrou aula para a turma de Artes Visuais em Barcarena e abordou o patrimônio do município.

“Quando chegamos na igreja, ela (professora Ida) viu a imagem e falou: ‘tu não estás entendendo, essa iconografia não existe. Ela é de vocês’. Como eu sou muito devota de Maria, eu já peguei o tema para mim”, relembra Suzilene Costa.

História

Durante o trabalho, a aluna se deparou com as pesquisas do professor Luiz Antonio Valente Guimarães, registrando que a imagem foi encomendada pelo português Francisco Bernardo da Silva, um dos primeiros proprietários das terras da Fazenda Cafezal, casado com Josefa Joaquina de Souza, herdeira das terras do Carnapijó.

Foto:Suzilene Costa/Acervo Pessoal

A pesquisadora encontrou documentos distintos apontando para duas datas de instalação da imagem no local: 17 de julho do ano de 1864 e 17 de julho do ano de 1871, porém ambas registram que uma cerimônia religiosa em homenagem a Nossa Senhora foi celebrada no local durante a inauguração.

No entanto, Francisco da Silva teria encomendado, segundo os registros, uma imagem de Nossa Senhora do Livramento. “Como ela se tornou Nossa Senhora do Tempo? Porque, até então, ela foi colocada lá como Nossa Senhora do Livramento, mas a iconografia dela é totalmente diferente”, questiona Suzilene Costa.

De acordo com a pesquisa da aluna, a iconografia se modificou com o passar do tempo devido à própria devoção dos viajantes, que passavam pelo local e pediam a bênção para a imagem que passou a ser conhecida popularmente como Nossa Senhora do Tempo.

“Ela é conhecida como uma iconografia Mariana, mas também é das embarcações, dos viajantes, de todos os que passavam pelo local e pediam a proteção dela, pediam que ela lhe desse um bom tempo e que ela acompanhasse nas viagens”, explica.

Devoção

De acordo com a pesquisadora, a imagem sofreu uma tentativa de vandalismo há cerca de oito anos e foi retirada do local de origem, mas sua pesquisa trouxe à comunidade da igreja a expectativa de que ela seja recuperada.

“Depois da apresentação do trabalho, conversando com alguns membros da igreja, surgiu a possibilidade de voltar para o local. Não com a imagem original, já que ela tem um grande valor. Que se faça uma réplica, mas que ela volte para lá”, planeja Suzilene Costa.

Foto:Divulgação/Suzilene Costa

Hoje a imagem se encontra na sede da paróquia de São Francisco Xavier, em Barcarena, mas para a pesquisadora, o retorno da imagem ao local é fundamental para que se mantenha viva essa forma de devoção, que é exclusiva do município.

“Infelizmente ela continua guardada na sacristia, escondida dos olhares, e isso é lamentável, porque essa história, essa devoção, vai ficando esquecida. Ela está na igreja, mas mesmo assim, as embarcações passam, buzinam, pedem proteção, no local”, conta a pesquisadora.

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