“Ele era muito simples, humilde e isso me chamou atenção. Até brincava com ele, perguntava como ele iria viver em uma caverna se não sabia nem fritar um ovo. Falei que ele teria que caçar, fazer fogo, esse tipo de coisa e que era melhor ele comprar um apartamento e ficar lendo os livros dele. Mas ele falou que tinha vontade de ser assim, que queria que a vida dele fosse assim no futuro, se não pudesse ser agora, mas um dia seria assim”, conta.
O amigo afirma que o estudante relatava que quando estava em jejum e fazia meditação conseguia acessar o mundo das ideias e gostava de pegar coisas desse mundo e trazer para a realidade. “Ele só bebia água, dizia que era melhor para ele trabalhar assim. Eu ficava até preocupado com ele, sempre chamava a atenção e dizia para ele comer. O Bruno emagreceu muito nos últimos dias para concluir o projeto. Mas, ele não me deu nenhuma outra informação para que eu possa dizer o que era o projeto”, afirma.
Apesar de ter ajudado a carregar e colocar a estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) no quarto de Borges, Gaiote afirma que não sabe mais informações sobre o projeto do estudante de psicologia. Bruno teria confidenciado a ele que queria publicar alguns livros, mas antes precisava montar uma teoria e ler para formular melhor a sua ideia.
“Ele disse que era uma coisa bem secreta, não me deu muitas informações. Perguntei porque ele queria colocar uma estátua no quarto e ele disse apenas que fazia parte do projeto. Quando ajudei, ele tinha começado a escrever alguma coisa no chão do armário, mas a parede ainda estava intacta”, lembra.
O estudante teria dito a Gaiote que “pessoas ignorantes” poderiam acabar com o projeto dele e achariam que ele estava louco. Para Gaiote, Borges talvez tenha feito algo similar ao Mito da Caverna, de Platão. “Ele teve um conhecimento que precisou passar para as pessoas, acreditando ele, e já sabendo que as pessoas não aceitariam de primeira resolveu talvez se evadir, ou meditar, não sei. Isso talvez seja para que as pessoas analisem melhor aquilo e deem mais atenção. Acho que pode ter sido por isso que ele fugiu”, acredita.
Desaparecimento
A última vez que os parentes viram Bruno foi durante o almoço de família em Rio Branco. O jovem voltou para casa e todos – mãe, pai e os outros dois irmãos – seguiram o dia normal de trabalho. Mais tarde, o pai de Bruno, o empresário Athos Borges, retornou à residência da família e percebeu que o filho não estava.
No quarto do estudante, que ficou trancado por 24 dias enquanto os pais viajavam, foi encontrada uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) orçada em R$ 7 mil, e 14 livros extremamente organizados, escritos à mão. Alguns deles copiados nas paredes, teto e chão. Todas as obras – identificadas por números romanos – criptografadas.
Junto com os 14 livros criptografados deixados no quarto o estudante também deixou as “chaves” que servem como guia para a decodificação. De acordo com a família, os escritos foram feitos com a utilização de pelo menos quatro códigos diferentes. A investigação do caso é feita pela Polícia Civil do Acre de maneira sigilosa.