A verdade por trás do mito: Acre foi trocado por um cavalo?

De acordo com o historiador Marcos Vinicius, a documentação diplomática sobre o episódio é restrita, então, muito da história se torna obscura.

Em 2006, o até então presidente da Bolívia, Evo Morales, criou uma tensão entre o Brasil e o país vizinho. Durante uma entrevista à imprensa estrangeira, ele afirmou que o Acre foi “trocado” por um cavalo. Mas será que essa história é verídica? 

A equipe do Portal Amazônia entrevistou o historiador e escritor acreano Marcos Vinicius, que falou sobre o polêmico acordo entre o Brasil e a Bolívia.

“Na verdade, essa história do cavalo é mentira, mas, também é verdade”, 

disse Marcos, que usa a “brincadeira” em suas aulas de história.

De acordo com ele, a documentação diplomática sobre o episódio é restrita, então, muito da história se perdeu durante os anos, mas de fato existiu um acordo e um cavalo branco, só que não da maneira como as pessoas imaginam.

Espanha e Portugal

A questão de limite entre o Brasil e Bolívia, ou melhor, Portugal e Espanha (que regiam os países), era regulado pelo tratado de Madrid, que tinha criado uma linha imaginária reta na região da fronteira entre os países, isso em 1750. O acordo ficou valendo por mais de um século. Quando em 1867, no início da guerra do Paraguai, a Bolívia pressionou o Brasil para regulamentar a questão das fronteiras.

Na época, as autoridades bolivianas pressionaram o Brasil para que houvesse uma revisão da fronteira, especialmente, a área com as linhas imaginárias como era o caso da área da região da Amazônia Sul Ocidental, que ainda não era chamada de Acre.

Já em meados de 1867, a Bolívia e o Brasil, agora independentes das suas metrópoles, Espanha e Portugal, decidiram fazer um novo tratado de limite, que ficou conhecido como o “Tratado de Ayacucho”. Na época, quando o cônsul brasileiro estava criando as condições para estabelecer o tratado, ele apelou para os gostos do presidente boliviano, Mariano Melgarejo, conhecido por ser um ditador sanguinário.

Do “jeitinho brasileiro”, o cônsul descobriu que Malgarejo era apaixonado por cavalos, então, antes de sentar para conversar sobre a fronteira, o Brasil presenteou o presidente da Bolívia com uma medalha de honra, daí surgiu a lenda de que o Acre foi trocado por uma medalha de latão, e um belo cavalo branco, a origem das estórias que o Acre foi trocado por um cavalo.

Iludido com os presentes, Malgarejo decidiu, na hora da revisão do tratado, onde existia uma linha imaginária reta, do tratado de 1750, passou a existir uma linha oblíqua. No momento do acordo, o presidente da Bolívia mediu dois dedos no mapa, explicou que na área não haviam habitantes e o Brasil ganhou um triângulo de terra, mas, calma, essa parte ainda não era o Acre, na prática integrava o território do Amazonas.

Finalmente, o Acre

No ano de 1899, começou a ocupação boliviana no Acre. O estado já estava povoado por brasileiros desde 1880, por isso, eles entraram em atrito com as regras do governo boliviano, que chegaram a cobrar impostos sobre a borracha e aplicavam punições com chicotadas.

A partir deste período surgiu uma nova interpretação do tratado de Ayacucho, que aumentou as terras para o Brasil. Essa releitura ficou conhecida como nova inteligência do “Tratado de Ayacucho”, entretanto, a mesma não foi aceita pela Bolívia, e então iniciou a Revolução Acreana.

A batalha perdurou por quatro anos, de 1899 a 1903. O cenário mudou quando José Maria da Silva Paranhos Júnior, também conhecido como barão de Rio Branco, passou a ser ministro das relações exteriores do Brasil. A trégua resultou no Tratado de Petrópolis, assinado em 17 de novembro de 1903, e tido como a certidão de nascimento do Acre.

Tratado de Petrópolis foi assinado no dia 17 de novembro de 1903. Foto: Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Elias Mansour

Documentos obscuros?

Ainda segundo o historiador Marcos Vinícius, há alguns anos, o Senado discutiu a extinção dos documentos ultra secretos. O Itamaraty foi contra e argumentou que existem documentos que remetem a questões diplomáticas, que seriam inconvenientes para os países da América do Sul, em especial a Bolívia, citaram inclusive a criação do Acre.

“Alguns documentos falam de suborno, corrupção de autoridades bolivianas, no qual o governo brasileiro teria dado dinheiro, além de viagens extraordinárias e festas com prostitutas de luxo. Por esse motivo, os senadores mudaram a legislação que liberaria os documentos ultra secretos ao público”, informou o historiador. 

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