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Relatório técnico aponta risco crítico no Sítio Arqueológico de Paricatuba

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Foto: Jacqueline Lins/Cedida

As ruínas de Paricatuba, localizadas no município de Iranduba, no Amazonas, estão em risco iminente de desabamento. Segundo relatório técnico da Defesa Civil no município, emitido após inspeção no local em 29 de maio, o estado de deterioração do patrimônio é classificado como “crítico”.

A vistoria contou com a presença de engenheiros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), representantes do Governo do Amazonas, da Prefeitura de Iranduba e moradores da comunidade. O relatório aponta a existência de “rachaduras profundas, muros desabando, infiltrações generalizadas e avanço da vegetação”, comprometendo gravemente a estabilidade das estruturas históricas.

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De acordo com a engenheira civil Jéssyca Lever Dantas, autora do laudo técnico, a situação é agravada pela ausência de infraestrutura adequada.

“A deterioração acelerada é agravada pela ausência de drenagem e impermeabilização, além da fragilidade dos tijolos originais, que foram assentados deitados”, detalha a engenheira.

Leia na íntegra a nota sobre relatório feito pela Defesa Civil:

Ações Emergenciais para as Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio da Superintendência no Amazonas, tem acompanhado de perto a situação das Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba, em Iranduba/AM e informa que realizou vistorias técnicas e uma série de reuniões com órgãos parceiros e representantes da comunidade com o objetivo de assegurar medidas de proteção imediata ao local.

Como resultado desse processo, foram pactuadas ações emergenciais, formalizadas por meio do Ofício nº 498/2025, encaminhado às instituições envolvidas, como UGPE/SEDURB, SEC, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil do Estado, IPAAM, Defesa Civil e Secretaria de Meio Ambiente de Iranduba, e a Associação de Moradores da Vila de Paricatuba.

Entre as medidas definidas estão:
• Cercamento e escoramento das estruturas;
• Poda de árvores que oferecem risco às estruturas;
• Inventário das espécies vegetais para subsidiar os serviços de poda;
• Capina e limpeza da vegetação no entorno;
• Restrição de áreas de visitação, conforme recomendação da Defesa Civil.

Além das ações emergenciais, foi instituído um grupo de trabalho responsável por acompanhar e fiscalizar a execução das medidas, fortalecendo a atuação integrada entre os órgãos públicos e a comunidade.

área externa das ruínas foi interditada pelo Iphan após visita técnica. Foto: Jacqueline Lins/ Cedida

O Iphan também informa que está em andamento a construção de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que visa garantir intervenções estruturantes no sítio, incluindo reforço estrutural, melhorias na acessibilidade e implantação de iluminação no entorno das ruínas, assegurando condições adequadas para sua preservação e uso público.

O Sítio Arqueológico de Paricatuba é protegido como Patrimônio Cultural Brasileiro, conforme a Lei Federal nº 3.924/1961. Também conta com reconhecimento como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado do Amazonas, pela Lei Estadual nº 4.260/2015, e proteção municipal, de acordo com o artigo 215 da Lei Orgânica do Município de Iranduba.

O Iphan reafirma seu compromisso com a preservação do patrimônio cultural e reforça que essa é uma missão coletiva, que depende da colaboração permanente entre instituições, gestores públicos e comunidade local.

Leia o relatório completo:

Vegetação avança e ameaça visitantes

Os problemas nas ruínas de Paricatuba não representam risco apenas à memória histórica, mas também à segurança dos visitantes. Árvores centenárias e suas raízes já invadiram as fundações, empurrando paredes e provocando trincas perigosas.

“Rachaduras, muros caídos e o avanço do mato colocam em risco não só as estruturas centenárias, mas também quem visita o lugar”, informa trecho do relatório da Defesa Civil.

A situação fez com que o Iphan solicitasse ao Governo do Estado a realização de medidas emergenciais, como o cercamento da área e o escoramento das estruturas mais comprometidas.

“É preciso agir antes que o pouco que resta desse patrimônio histórico seja perdido para sempre”, declarou Beatriz Evanovick, superintendente do Iphan no Amazonas.

Viva Paricatuba: mobilização comunitária em defesa da história

Enquanto os órgãos públicos avaliam intervenções, moradores da região vêm se mobilizando para tentar preservar o espaço histórico por meio do projeto ‘Viva Paricatuba’. A iniciativa reúne comunitários das seis vilas que circundam o sítio arqueológico, com apoio de instituições como Sebrae Amazonas, Bemol, Singulari Consultoria e Impact Hub Manaus.

“Eu sempre ouvi dizer que Paricatuba tem um potencial incrível. Mas falta ajuda, falta que os gestores públicos olhem para nossa comunidade”, relata Jacqueline Lins, moradora da vila e uma das lideranças do projeto.

O projeto busca transformar Paricatuba em uma rota turística de base comunitária, com foco na valorização dos recursos naturais, práticas locais e preservação do patrimônio.

“Hoje, pelo menos doze pessoas que trabalham diretamente nas ruínas estão fazendo cursos de inglês, atendimento ao público, entre outros. Também ajudamos com a sinalização de áreas perigosas e mantemos guias que explicam a história do local aos visitantes”, explicou Jacqueline ao Portal Amazônia.

Leia também: Linha do tempo: conheça a história da Vila de Paricatuba, no Amazonas

Patrimônio histórico em risco

Originalmente construído no final do século XIX para funcionar como hospedaria de imigrantes durante o ciclo da borracha, o edifício de Paricatuba passou a abrigar um leprosário e, mais tarde, foi utilizado como casa de detenção. Atualmente, suas paredes expostas, colunas comprometidas e telhados ausentes são retratos do abandono.

“As áreas inspecionadas do Sítio Arqueológico de Paricatuba apresentam um grau de risco crítico”, diz trecho do relatório técnico divulgado pela Defesa Civil. “Torna-se, portanto, imprescindível e emergencial a realização de uma reforma completa”, reforça a engenheira Jéssyca Lever Dantas.

Além de sua relevância arquitetônica e histórica, as ruínas de Paricatuba representam um símbolo da memória coletiva do Amazonas. Para a comunidade local, o espaço ainda tem potencial para impulsionar o desenvolvimento econômico, através do turismo sustentável.

Leia também: Conheça a história do Leprosário de Paricatuba, “a cidade da dor”

“Sabemos que nada é para sempre, mas é possível mantermos os muros em pé e é isso que toda a comunidade está disposta a fazer”, declarou Jacqueline.

Medidas

Com risco de colapso iminente, a situação das ruínas de Paricatuba exige respostas urgentes das autoridades responsáveis.

O Iphan, por meio da Superintendência no Amazonas, anunciou no início de julho a implementação de ações emergenciais para a proteção das Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba. As medidas foram definidas após as vistorias técnicas e diversas reuniões com instituições parceiras e representantes da comunidade local.

As intervenções, segundo o Iphan, visam garantir a segurança dos visitantes e a integridade do bem tombado, classificado como Patrimônio Cultural Brasileiro. Entre as ações previstas estão o cercamento e escoramento das estruturas, poda de árvores com risco de queda, inventário da vegetação, etc.

Área externa das ruínas de Paricatuba durante visita técnica. Foto: Divulgação/ Iphan

A força-tarefa envolve órgãos estaduais e municipais, como a Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE/SEDURB), a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), o Corpo de Bombeiros do Amazonas, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), as Defesas Civis estadual e municipal, a Secretaria de Meio Ambiente de Iranduba e a Associação de Moradores da Vila de Paricatuba.

Segundo o Iphan, foi instituído um grupo de trabalho para acompanhar e fiscalizar a execução das ações emergenciais, fortalecendo a articulação entre os entes públicos e a sociedade civil. A iniciativa busca reforçar a atuação preventiva diante do estado de conservação das ruínas.

Além das medidas imediatas, o Iphan está elaborando um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que prevê intervenções estruturantes no sítio. Entre as melhorias propostas estão o reforço das estruturas remanescentes, aprimoramento da acessibilidade e instalação de iluminação, com o objetivo de garantir a preservação do local e seu uso seguro pela população.

O Sítio Arqueológico de Paricatuba é protegido pela Lei Federal nº 3.924/1961 e conta com reconhecimento estadual e municipal, sendo considerado Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Amazonas pela Lei Estadual nº 4.260/2015 e protegido pelo artigo 215 da Lei Orgânica do Município de Iranduba.

Em nota, o Iphan destacou que a preservação do patrimônio cultural é uma responsabilidade coletiva, que exige o comprometimento contínuo das instituições públicas e da comunidade. A iniciativa em Paricatuba representa um passo decisivo para assegurar a integridade de um dos mais importantes bens culturais da região amazônica.

Plantas utilizadas para benzimento no Maranhão são analisadas em artigo científico; veja as mais populares

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Foto: Reprodução/Documentário ‘Mulheres da terra’, de Anderson Mendes

A prática da benzeção, ou benzimento, um costume profundamente enraizado em diversas culturas ao redor do mundo, representa um elo com saberes ancestrais e uma forma de cuidado que transcende o convencional. No Brasil, essa tradição, frequentemente associada à figura das benzedeiras e benzedores, persiste como um importante elemento cultural e social, oferecendo acolhimento e auxílio a comunidades que buscam alívio para males físicos e espirituais.

Longe de ser apenas um resquício do passado, a benzeção se adapta e se mantém viva, transmitindo conhecimentos de geração em geração e resistindo às transformações sociais.

Leia também: Quebranto, peito aberto e mau-olhado: conheça 6 doenças tratadas pelas benzedeiras da Amazônia

Um artigo científico intitulado ‘Plantas Utilizadas por Benzedores em Quilombos do Maranhão, Brasil’, publicado na Revista Etnobiología em agosto de 2022, oferece uma análise aprofundada sobre essa prática.

O estudo teve como objetivo registrar o conhecimento de especialistas locais, identificar espécies vegetais de uso litúrgico e medicinal, sistematizar indicações, formas de uso e partes utilizadas, e associar esses dados ao perfil socioeconômico dos benzedores.

A pesquisa foi realizada no município de Anajatuba, Maranhão, Nordeste do Brasil, por meio de entrevistas semiestruturadas com 13 benzedores, além de turnê guiada e coleta de material botânico.

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Foram registradas 52 espécies, distribuídas em 48 gêneros e 31 famílias, com as famílias Lamiaceae (7 espécies) e Asteraceae (5 espécies) sendo as mais representativas.

As espécies mais citadas pelos benzedores foram:

  • pinhão roxo (Jatropha gossypiifolia L.),
  • vassourinha (Scoparia dulcis L.),
  • manjericão ou alfavaquinha (Ocimum basilicum L.)
  • e erva cidreira (Melissa officinalis L.).

O pinhão roxo e a vassourinha foram indicadas para benzimentos, enquanto a alfavaquinha e a erva cidreira foram citadas para fins medicinais. A maioria das espécies foi obtida em quintais ou terrenos próximos, com algumas sementes e frutas adquiridas em feiras livres da cidade.

Saiba mais: Vassourinha, a planta medicinal usada na Amazônia para realizar benzimentos e curar infecções

Perfil dos benzedores e a transmissão do conhecimento

O perfil dos benzedores entrevistados valida padrões encontrados na literatura. Eles apresentavam idade entre 30 e 90 anos, sendo que 69,02% eram analfabetos, 84,06% católicos e 61,05% citavam a lavoura como principal fonte de renda.

A pesquisa, no entanto, identificou um número maior de benzedores do sexo masculino, o que pode ter relação com a cultura e a herança religiosa local, diferindo de estudos em outras regiões do Brasil que apontam a predominância feminina nesta função.

Essa predominância masculina pode estar associada à história de formação das religiões afro no Maranhão e ao diálogo entre as práticas de benzimento e a pajelança, onde a figura masculina é forte nos ritos de cura.

Veja: ‘Mulheres que Benzem’: benzedeiras de Santarém são protagonistas em vídeo clipe 

A transmissão do conhecimento sobre os benzimentos e suas origens pode variar. A maioria dos benzedores afirma ter recebido o “dom” desde o nascimento.

Em outros casos, o aprendizado ocorre por meio do ensinamento dos mais velhos, geralmente os pais, a partir da escuta e da observação de gestos, caracterizando uma transmissão vertical de conhecimento, comum em comunidades tradicionais.

A maioria dos entrevistados possui mais de 30 anos inseridos na prática do benzimento, com o mais jovem atuando desde os 20 anos.

Apesar da longevidade na prática, um enfraquecimento da cultura entre as novas gerações é relatado. Um dos benzedores mais jovens, de 39 anos, que não teve o nome revelado, expressou esse desafio: “Eu fiquei querendo fugir no começo, meus parentes da cidade me levaram para morar lá e eu ia nos cultos evangélicos, não queria assumir essas coisas não e nem gosto muito de falar, porque tem gente que não entende o benzimento”.

Essa mudança no estilo de vida das comunidades, a influência da internet e a facilidade de acesso ao sistema de saúde convencional são apontados como motivos para o desinteresse dos jovens, além do preconceito que envolve essas práticas.

Plantas utilizadas e sua finalidade

No que diz respeito às plantas, o estudo ressalta que as benzedeiras conhecem um número superior de espécies para o tratamento de animais e pragas em plantações, mas o foco da pesquisa foi nas plantas para males físicos e espirituais em humanos.

As famílias botânicas Lamiaceae e Asteraceae foram as mais expressivas, o que se justifica pela riqueza dessas famílias no Brasil e sua importância terapêutica.

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Para tratar problemas de ordem espiritual, o pinhão roxo e a vassourinha foram as mais indicadas. Já para a saúde física, plantas como manjericão (Ocimum basilicum L.) e erva cidreira (Melissa officinalis L.) foram citadas.

O manjericão é tradicionalmente usado para tosse, diarreia, febre, gripe e disfunções renais, enquanto a erva cidreira é valorizada por suas propriedades fitoterápicas, sendo utilizada como relaxante e para o controle do sono e emoções. As doenças físicas mais destacadas foram cólicas intestinais (47%), gripe e problemas respiratórios (29%), e ansiedade ou agitação (29%).

Registros fotográficos das espécies vegetais, realizados durante visita às comunidades quilombolas de Anajatuba, Maranhão, Nordeste do Brasil. A) e B) Jatropha gossypiifolia L. (pinhão roxo); C) e D) Scoparia dulcis L. (vassourinha); E) e F) Ocimum basilicum L. (alfavaquinha). Foto: Reprodução/Artigo’Plantas Utilizadas por Benzedores em Quilombos do Maranhão, Brasil’

A pesquisa também apontou que, embora 84,06% dos benzedores entrevistados se declarem católicos, suas práticas mesclam o profano e o sagrado, refletindo a formação da sociedade brasileira, que apresenta uma aproximação simbólica entre culturas africanas, afro-brasileiras e o cristianismo católico.

Os benzedores afirmaram que, em casos de enfermidades físicas graves, recorrem e indicam serviços de saúde pública, direcionando o benzimento para doenças de fundo espiritual ou psicológico, atuando em paralelo aos tratamentos da medicina oficial.

Os dados apresentados no artigo científico reforçam a importância de promover novos estudos na área e de incentivar políticas públicas que atuem na conservação e valorização desses saberes. A benzeção é uma manifestação cultural rica que continua a desempenhar um papel vital na vida de muitas comunidades, necessitando de reconhecimento e apoio para que seus conhecimentos ancestrais possam ser preservados para as futuras gerações. Confira o artigo na íntegra clicando AQUI.