Projeto que impulsiona artesanato Warao recebe novos recursos para expandir seu impacto

Desde 2019, o ACNUR e parceiros fortalecem iniciativa para fazer do artesanato fonte de renda de indígenas Venezuelanos no Brasil; novas etapas contemplam criação de associação e comercialização

Recolocar-se profissionalmente depois de passar por deslocamentos forçados é muito desafiador – mais ainda quando se é indígena fora de seu país de origem. Esse é o caso de mais de três mil Warao que saíram da Venezuela para o Brasil: é uma população em condição de extrema vulnerabilidade e com muitas necessidades específicas, inclusive de ordem cultural, o que representa uma série de desafios adicionais para a resposta humanitária brasileira à situação da Venezuela, a Operação Acolhida.

Peças de artesanato Warao em exposição em Boa Vista, Roraima. (Foto: Alan Azevedo/ACNUR)

Frente a este cenário, a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) e A Casa Museu do Objeto Brasileiro, em coordenação com a Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), desenvolvem desde o ano passado iniciativas para alavancar a geração de renda para indígenas refugiadas, solicitantes de refúgio e migrantes por meio da produção e comercialização de artesanato Warao.

As mulheres Warao lideram esse processo. Segundo pesquisa realizada pelo Ministério Público Federal do Amazonas, 41% das mulheres Warao produzem artesanato como trabalho principal, sendo que muitas delas trazem essa experiência desde a Venezuela.

Um dos grandes marcos desse trabalho se deu em novembro de 2019, com a realização da exposição “Odiju – Árvore da Vida Warao” em A Casa Museu do Objeto Brasileiro, em São Paulo. As artesãs, munidas de suas peças, viajaram mais de quatro mil quilômetros desde Roraima para exporem e comercializarem sua arte tradicional na maior cidade da América Latina. A iniciativa contou também com apoio fundamental da União Europeia.

No mês seguinte, no Fórum Global sobre Refugiados, que aconteceu em Genebra, na Suíça, era possível encontrar também artesanato Warao em exposição. Quem passou pelo stand da Made51, plataforma global do ACNUR para venda de artesanato produzido por pessoas refugiadas, conheceu a beleza dos cestos, vasos, chapeus, bolsas, bandejas, entre outras artes Warao, todas feitos com palha de buriti.

Já neste ano, um espaço exclusivo para venda de artesanatos indígenas venezuelanos foi inaugurado no Centro de Artesanato de Boa Vista (RR), resultado da parceria entre ACNUR, FFHI e o Sindicato de Artesãos de Roraima. A abertura deste espaço é resultado da busca por alternativas de geração de renda para a população indígena venezuelana que vive nos abrigos temporários geridos pela FFHI e ACNUR.

Artesãs Warao durante exposição “Ojidu” em Sâo Paulo. Elas confeccionaram seus vestidos para a abertura da exposição. (Foto:Victoria Hugueney/ACNUR)

Próximos passos

Agora, três novas importantes fases do projeto darão seguimento a este trabalho fundamental de proteção dos povos indígenas refugiados e migrantes, gerando renda e promovendo integração socioeconômica no Brasil.

Em outubro, A Casa Museu do Objeto Brasileiro, com apoio do ACNUR e FFHI, foi escolhida para receber financiamento para implementação de cadeia de valor para produção e comercialização de artesanato Warao em Manaus (AM), Boa Vista e Pacaraima (RR). Os produtos serão comercializados em todo o país com apoio de A Casa.

Esta fase conta com aporte do ACNUR, com recursos doados pelo Governo de Luxemburgo por meio do LEAP (Liderança, Empoderamento, Acesso e Proteção), projeto voltado a mulheres refugiadas, solicitantes de refúgio e migrantes e implementado pelo ACNUR com a ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Ao longo do mês de novembro, ACNUR e A Casa realizaram outra etapa do projeto, focado no trabalho de sensibilização das comunidades, mobilização e organização das lideranças indígenas pela criação de associações de artesanato indígena Warao.

Em paralelo, A Casa, com apoio do ACNUR, inscreveu o projeto no desafio “Juntos é Melhor”, iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). A iniciativa foi selecionada e há a expectativa de que o projeto de apoio às artesãs Warao seja fortalecido com novos recursos. A ideia é ajudar a estruturar um modelo de negócios inovador, estabelecendo parcerias e vínculos de mercado no Brasil e no mundo por meio de plataformas digitais.

Para estruturar a cadeia de valor do artesanato Warao por meio da criação de associações de artesãos indígenas, a iniciativa prevê garantir o acesso à matéria-prima, capacitação para melhorar a qualidade da produção, fortalecimento das comunidades de artesãs, educação e inclusão financeira, estruturação de um modelo de negócio e apoio para comercialização dos produtos conforme o conceito de comércio justo (fair trade), além da valorização do simbolismo e significado do artesanato para as comunidades Warao.

“Essa iniciativa faz parte de umas das estratégias fundamentais do ACNUR de promoção de meios de vida e de geração de renda que colaborem para a dignidade e autonomia de refugiados e migrantes. O resultado é a integração socioeconômica dessas populações no país de acolhida”, pontua Paulo Sérgio Almeida, Oficial de Meios de Vida do ACNUR no Brasil.

Como parte do projeto, ao longo de 2021 e 2022, o ACNUR e seus parceiros realizarão uma série de capacitações e ações para apoio à gestão das associações de artesãs Warao.

Inicialmente 70 artesãs Warao serão envolvidas no projeto ainda em 2020, podendo mais que dobrar até o fim do projeto, chegando a 200 mulheres – atingindo assim, indiretamente, cerca de mil pessoas. “Nós esperamos igualmente que o trabalho fortaleça a identidade Warao, resgatando sua cultura e impactando positivamente a comunidade”, conclui.

Com a intensificação do fluxo venezuelano ao Brasil desde 2018, atualmente são mais de cinco mil indígenas venezuelanos no País, sendo 65% da etnia Warao, 30% Pemon-Taurepang, 3% E’ñepa, 2% Kariña e 1% Wayuú. Para mais informações sobre povos indígenas da Venezuela no Brasil, acesse o Relatório do ACNUR de Atividades para Populações Indígenas de setembro.

Mãe ensina sua filha a arte tradicional de trançar fibra de buriti no abrigo Pintolândia, em Boa Vista (RR). (Foto:Allana Ferreira/ACNUR)

Saiba mais sobre o Projeto LEAP

O Governo de Luxemburgo firmou o seu apoio ao programa Liderança, Empoderamento, Acesso e Proteção (LEAP) para mulheres migrantes, solicitantes de refúgio e refugiadas no Brasil, que é liderado pelo ACNUR, ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em Roraima.

A iniciativa se destina a apoiar o governo brasileiro na resposta adequada às necessidades de mulheres migrantes e refugiadas no Brasil. O programa conjunto tem como diferencial a incorporação da dimensão de gênero para atender de forma apropriada as necessidades das mulheres no contexto de crise humanitária.

Para atender às necessidades das mulheres, o programa promove a criação de espaços seguros para mulheres refugiadas e migrantes venezuelanas e brasileiras, de oportunidades de integração socioeconômica e de mecanismos para incorporar a igualdade de gênero na resposta humanitária.

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