Referência na história contemporânea do Amazonas, sinônimo de ousadia e irreverência cultural, o artista e colecionador José Joaquim Marques Marinho, 76, morreu na manhã deste domingo (2), em Manaus, por volta das 11h. Nascido na cidade de Porto, em Portugal, em 1º de maio de 1943, Joaquim Marinho viveu por mais de 60 anos na capital amazonense, onde é reconhecido como expoente da comunicação, cultura e arte na cidade.
Radialista, escritor, dono de um grande acervo cultural e tendo mantido durante décadas cinemas no Centro da cidade, Joaquim Marinho deixa grande legado cultural para Manaus e todo o Estado do Amazonas. Marinho faleceu em sua residência, após uma parada cardiorrespiratória. Há aproximadamente seis anos, vinha lutando contra o Alzheimer.
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, e a primeira-dama, Elisabeth Valeiko Ribeiro, lamentaram profundamente a morte do comunicador e ícone da cultura amazonense. A Prefeitura de Manaus decretou três dias de luto oficial. “Joaquim Marinho se mostrou um grande homem e democrata em momentos importantes do País. Uma pessoa sempre vanguardista, que contribuiu para manter a cultura viva do Brasil e do nosso Estado”, lembrou o prefeito Arthur Virgílio Neto.
O diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura,Turismo e Eventos (Manauscult), Bernardo Monteiro de Paula, lembrou que o artista foi homenageado em 2013 pela Prefeitura de Manaus durante o “Manaú Rock Festival”. Na oportunidade, Joaquim Marinho foi homenageado junto com jornalista e escritor Aldísio Filgueiras por terem promovido o primeiro festival de rock de Manaus, o “Festival do Lixo”, na praia da Ponta Negra, zona Oeste da cidade, onde o “Manaú Rock Festival” também foi realizado.
“O legado deixado por ele é de uma preciosidade inestimável para a cultura amazonense e para o País. Mesmo em tempos difíceis, na época da Ditadura Militar, não abandonou sua essência, mantendo, ao longo dos anos, essa característica única de ousadia e de preciosismo histórico”, afirmou o diretor-presidente da Manauscult. Em 1976, chegou a ser demitido ao publicar o romance “Galvez, o imperador do Acre”, do escritor e dramaturgo amazonense, Márcio Souza, atual presidente do Conselho Municipal de Cultura.
O vice-presidente da Manauscult, José Cardoso, destacou a ousadia e irreverência de Joaquim Marinho. “Foi um homem à frente do seu tempo; quebrando tabus, investindo e insistindo em cultura. Muitos projetos levaram a sua assinatura, dos cinemas de rua a programas de rádio. Joaquim era um homem extremamente refinado, elegante, que recebia os amigos com generosidade, o que era uma marca de sua personalidade”, afirmou. Grandes personalidades como o escritor e poeta chileno Pablo Neruda, Vinícius de Moraes, Ziraldo, Alcione e Fafá de Belém, entrou outros, foram alguns dos que Marinho recebeu em sua residência.
A casa, que funciona como Centro Cultural desde 2017, abriga um acervo expressivo com mais de 12 mil vinis, 25 mil livros, 5 mil CDs, milhares de gibis, além de objetos raros como moedas antigas, selos da coleção de filatelia, além de filmes históricos e de objetos e símbolos pornográficos do País e de civilizações antigas. A Prefeitura de Manaus adquiriu, nos últimos anos, três telas do acervo do artista para compor a Pinacoteca Municipal: duas do Haneman Bacelar e outro do Manuel Borges.
Radialista e empresário, Joaquim Marinho também ficou conhecido como “rei do cinema” em Manaus. Era proprietário dos cinemas Chaplin, Oscarito, Grande Otelo, Carmen Miranda, Renato Aragão e mais duas salas de exibição localizadas em shopping da cidade. Em alguns casos, estreias de filmes chegavam a causar o bloqueio de ruas de Manaus, como foi o caso da avenida Joaquim Nabuco. O artista também foi integrante do cineclube Grupo de Estudos Cinematográficos (GEC), criado em Manaus na década de 60.
O velório de Joaquim Marinho é realizado no Salão Nobre do Palácio Rio Negro, na avenida Sete de Setembro, Centro, desde às 20h deste domingo. O sepultamento será nesta segunda-feira (3), a partir das 16h, no cemitério São João Batista.