Com a temática ‘Fluxos (in) Fluxo: Transitoriedade, Migração e Memória’, o evento contará com representatividade de artistas nortistas.
Pinturas, esculturas, fotografias, instalações artísticas, entre outros trabalhos fazem parte da Bienal Black Brazil Art, uma exposição de arte que, em 2024 chega na sua 3ª edição. O evento tem o intuito promover a diversidade e a inclusão na arte, dando destaque à artistas negros brasileiros, principalmente mulheres.
Com a temática ‘Fluxos (in) Fluxo: Transitoriedade, Migração e Memória’ e pela primeira vez com uma curadoria colaborativa internacional, foram selecionados mais de 100 artistas brasileiros e de outros países.
Desse total, quatro artistas são da Amazônia Legal, sendo um representante do Pará (Maurício Igor), uma do Mato Grosso (Mari Gemma de La Cruz) e dois de Rondônia.
Jornalista de formação, Khauane Farias foi uma dos rondonienses selecionados para expor duas fotografias.
Paixão pela fotografia
Khauane nasceu em Vilhena, no interior de Rondônia e atualmente reside em Porto Velho. Na fotografia, ela encontrou uma maneira de expressar ideias e evidenciar a diversidade da região amazônica.
Ao Portal Amazônia, Khauane conta que a fotografia faz parte da sua vida desde que consegue se lembrar.
“A fotografia expressa muito mais que um espaço de beleza, mas um grito de quem não tem espaço de voz, a denúncia de violências e a continuidade para novas gerações. Tenho o prazer de construir minhas referências através da partilha de tantos outros olhares, cada registro é formado por uma imensidão de sentimentos”,
relatou Khauane.
Vivências amazônicas
Ainda na faculdade, Farias pontua que esse foi um período fundamental em que percebeu a pluralidade da Amazônia, mas foi na vivência como repórter que entendeu a importância de se falar sobre essa região rica em cultura, pessoas e biodiversidade para quem não a conhece.
Nesse contexto, em 2022 conheceu a Black Bienal, porém, a “síndrome da impostora” fez com que Khauane não realizasse a inscrição. Já em 2023, submeteu duas fotografias.
A primeira, intitulada ‘A bailarina na praça’, mostra “uma mulher que alegra o imaginário popular de Porto Velho, livre e dançante, que ano após ano resiste a todas as barreiras do racismo e preconceito estrutural lutando com a mais pura das gentilezas”, como descreve a jornalista.
A segunda faz parte de uma série de retratos realizados na beira do Rio Machado, em Ji-Paraná em homenagem à Iemanjá e é intitulada ‘Odoyá: todo coração é mar’.
“Quando recebi o e-mail que as duas fotografias foram selecionadas fiquei emocionada, foi como uma inspiração que me lembrou que nutrir a crença no futuro construído através da ancestralidade, na potência do meu olhar, que me move em direção ao que desejo construir na realidade”,
finalizou.
Rondônia em dobro
Outro artista selecionado é o doutor em Educação, filósofo e professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Rodrigo Casteleira, escolhido por uma performance artística em vídeo.
O interesse nesse tipo de performance surgiu ao conviver com performers no Paraná, incentivado por uma amiga. Ao Portal Amazônia, Casteleira contou que investiga e propõe ações performáticas há mais de cinco anos e demonstra que não se trata apenas de um mero hobbie.
“Como se trata de um trabalho de investigação, proposições e experimentações não se trata de um hobbie, mas não necessariamente um trabalho, pensando aqui no cenário do proletariado e da destituição de fantasia e pulsões de vida. Penso na performance como ‘artivismo’, por exemplo, um modo de materializar investigações artísticas desde provocações de minhas memórias e vivências”,
pontuou.
Intitulado ‘ORI-ENTE’, o vídeo performance transita entre temas como território sagrado, negritude e tecnologias agrárias. Confira na íntegra a seguir:
Nas palavras do artista:
“ORI-ENTE (CABEÇA-SER) invoca a problemática de um cemitério indígena que foi tomado pelo plantio de algodão ao mesmo tempo em que se planta políticas do esquecimento em solo sagrado em prol de memórias colonialistas. Com isso, o corpo do performer, carregando sua bagagem sustentada pela cabeça, o ORI, invoca o olhar dos sujeitos todos para as (im)possíveis aparições de corpos negros que também transitam pelo solo sagrado como modo de denuncismos para com as existências indígenas e também negras”.
Por fim, Rodrigo Casteleira acredita que os trabalhos que trazem em sua essência a temática amazônica servem como uma espécie de ‘potencializador’ para problemáticas atuais no território e são uma forma de proporcionar soluções para um “futuro menos danosos para as existências e coexistências”.
Bienal Black Brazil
A 3ª Black Bienal terá suas práticas artísticas expostas em quatro espaços entre 8 de março a 31 maio de 2024 no Rio de Janeiro. Além do Centro Cultural Correios, outros locais recebem os trabalhos selecionados: Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Centro de Artes Calouste Gulbenkian e Cidade das Artes.