“Um olhar mais social”: quatro problemas para refletir sobre consumo da água na Amazônia

Mudanças climáticas, contaminações, poluições dos rios e falta de saneamento básico para a população ribeirinha são problemáticas que precisam de atenção urgente, apontam pesquisadores.

Comemorado no dia 22 de março, o Dia Mundial da Água foi instituído pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em alusão à conscientização sobre a discussão de assuntos relacionados ao uso desse recurso vital.

O maior rio do mundo em extensão e volume pode ser encontrado na Amazônia, o rio Amazonas, mas infelizmente sofre com as consequências de diversas ações humanas, como a poluição, que acabam revertendo em problemáticas preocupantes para quem mora nos Estados da Amazônia Legal, principalmente falta de acesso à água potável.

Uma pesquisa recente realizada pela GlobeScan em parceria com a Circle of Blue e o WWF, apontou que 81% dos brasileiros estão muito preocupados com a escassez de água potável. “A distribuição de água no Brasil é bastante desigual em termos geográficos e sociais, embora o país detenha 12% de toda a água doce do planeta”, explica Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil. 

“Na Amazônia está a maior parte da água doce do país e, ao mesmo tempo, os menores percentuais de acesso a serviços de água potável e esgoto”, afirma.

Foto: Adriano Gambarini/WWF Brasil

Mudanças Climáticas

As mudanças climáticas já começam a afetar a Amazônia e, com isso, afetam também o rio Amazonas. Estudos apontam que, em 40 anos, o bioma ficou 1ºC mais quente e teve uma redução de chuvas de até 36% em algumas áreas. Um estudo publicado em agosto de 2022, afirma que a floresta amazônica produz grande parte de suas próprias chuvas por meio de um sistema de reciclagem de umidade entre a floresta e a atmosfera e que este sistema será fortemente impactado por secas mais frequentes, que estão previstas no atual cenário de aquecimento global.

Os cientistas descobriram que mesmo que um período de seca afete apenas uma região específica da floresta, seus danos se estendem além dessa região por um fator de 30%: como a falta de chuva diminui fortemente o volume de reciclagem de água, também haverá menos chuvas em regiões vizinhas, colocando ainda mais partes da floresta sob estresse significativo. 

“Secas mais intensas colocam partes da floresta amazônica em risco de secar e morrer. Subsequentemente, devido ao efeito de rede, menos cobertura florestal leva a menos água no sistema geral e, portanto, desproporcionalmente mais danos. E embora tenhamos investigado o impacto da seca, essa regra também vale para o desmatamento. Isso significa essencialmente que, quando você derruba um acre de floresta, o que você está realmente destruindo é 1,3 acres”, explica Nico Wunderling, autor do estudo, pesquisador do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, co-orientado pelo pesquisador brasileiro Henrique Barbosa.

A situação já pode ser vista e cenários de secas extremas tem sido chocantes, tal como ocorrido no Amazonas em 2022, com extremas vazantes entre as cidades de Tabatinga e Tefé. Em outubro do ano passado, a Defesa Civil do Estado registrou 41 municípios em situação de alerta, o equivalente a quase 70% de todas as cidades amazonenses. 

Foto: Ana Cláudia Leocádio

Contaminação das águas do rio Amazonas

As águas do rio Amazonas e seus afluentes estão parcialmente contaminadas. Inicialmente, a preocupação era a poluição dos rios por dejetos e lixos despejados, que ainda é uma problemática atual. Entretanto, nos últimos anos, as águas amazônicas vem sofrendo com a alteração química, devido a atividades como desmatamento, garimpo ilegal e agropecuária. 

Os dados foram revelados em 2021, por um grupo de cientistas de universidades da China, Estados Unidos e Reino Unido, publicado na revista Nature Communications. A análise foi feita por meio de uma base de dados sobre a concentração e o fluxo de substâncias químicas nas águas de 149 rios no planeta ao longo de uma década. O resultado mostrou que os rios sofrem com fortes aumentos nas doses de sedimentos (68%), de cloreto (81%), de sódio (86%) e de sulfato (142%).

Em março de 2022, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com a Fiocruz e o WWF Brasil mostrou que mais da metade dos moradores da zona urbana de Santarém, no Pará, apresentaram níveis de contaminação por mercúrio até quatro vezes superior ao limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

O estudo coletou o sangue de 462 pessoas entre os anos de 2015 e 2019 e concluiu que todos os participantes da pesquisa apresentaram níveis elevados de mercúrio no sangue. A análise também mostrou que dos participantes, 203 pessoas viviam na área urbana de Santarém e 259 em oito comunidades ribeirinhas pelo Estado, 7 delas localizadas nas margens do rio Tapajós e uma na margem do rio Amazonas. A contaminação dos ribeirinhos chegou a uma porcentagem mais alta pela exposição de mercúrio, a mais de 90% dos entrevistados.
Foto: Reprodução / Estudo ‘Mercury Contamination: A Growing Threat to Riverine and Urban Communities in the Brazilian Amazon’

Outro estudo já havia chamado a atenção em relação a região ser contaminada pelo mercúrio despejado no rio Tapajós por dragas de garimpos ilegais. Em 2021, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou sete estudos em que mostram que 60% dos indígenas da Terra Indígena Sawré Muybu tinham sido intoxicados pelo metal tóxico no organismo acima do limite tolerável pela OMS. As mulheres e crianças são as mais vulneráveis e a contaminação se deu devido ao consumo de peixes. 

Também no ano de 2021, foi detectada poluição por medicamentos nas águas dos rios Amazonas, Negro, Tapajós e Tocantins. As amostras de água retiradas dos rios e de pequenos afluentes que passam pelas cidades da região, incluindo Manaus, Santarém, Belém e Macapá, continham 43 contaminantes, em concentrações que podem afetar de 50% a 80% das espécies aquáticas locais. O resultado foi apontado pelo Projeto Silent Amazon (Amazônia Silenciosa) e coletou amostras de água em 40 pontos ao longo de 1.500 quilômetros.

Falta de água potável e saneamento básico

A região em que se encontra a grande parte da Amazônia Legal sofre com problemas de consumo de água potável e de saneamento básico mesmo com a abundância de água. De acordo com o relatório de 2023 do Instituto Trata Brasil, a falta de acesso à água potável impacta quase 35 milhões de pessoas e cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto, refletindo em problemas na saúde da população que diariamente sofre, hospitalizada por doenças de veiculação hídrica no país. Os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apontou que apenas 51,20% do volume gerado de tratamento de esgoto é tratado.

Segundo o relatório, em uma perspectiva onde foram analisadas 100 municípios, dentre os 20 piores do Ranking de 2023, metade é de cidades localizadas em Estados da Amazônia Legal, principalmente no Estado do Pará.

Acontece que a falta de acesso a água atinge 40% da Região Norte, afetando 7.153.938 pessoas. Mas, você deve estar se perguntando, como uma região com o maior rio do mundo, responsável por um quinto da água doce do planeta tem uma porcentagem tão alta com falta de água? A resposta é simples, não é a quantidade, mas sim, a qualidade dessa água consumida. 

Foto: Reprodução / Instituto Trata Brasil

O Portal Amazônia conversou com alguns especialistas para ajudar a entender a dimensão da problemática abordada. Segundo a engenheira sanitarista e doutora em recursos hídricos e saneamento ambiental, Katiucia Adam, os piores índices no Pará se encontram na Ilha do Marajó.

“Aqui no nosso Estado os piores índices ficam pra Ilha do Marajó. Mas isso não significa que as outras regiões estejam atendendo as demandas. Isso não acontece. O Norte do país é uma das áreas com os índices mais baixos de acesso ao saneamento básico. Incluindo água potável. Então, essa realidade se deve a aspectos sociais, econômicos, a localização geográfica. Na maioria das vezes o acesso à água potável é relacionado a uma rede de abastecimento. Então como é que chega com uma rede de abastecimento em zonas ribeirinhas? É possível? Sim, mas isso exige um custo maior, uma intenção política maior. Enfim, o Norte acaba sendo um local de abundância em água doce, porém sem acesso a água tratada pros seus moradores, para os usuários, infelizmente”,

explicou.

Katiucia enfatizou a presença de elementos de contaminação dos rios da Região Norte e as problemáticas que isso causa: “Estamos numa região de muita água doce. A gente tem água doce em abundância, mas a gente não tem água potável para as pessoas. Isso a gente vê em Belém, nos interiores. Quanto mais remoto da capital, a tendência é piorar. Mas, isso é uma questão aqui no Pará, no Norte. A gente tem outras cidades que têm índices um pouco melhores, se a gente colocá-las dentro do contexto de interior”.

De acordo com a doutora, o problema não é só o esgoto urbano ou o esgoto doméstico. “A gente tem contaminação dos garimpos, a contaminação por medicamentos e isso vem da falta de tratamento de esgoto, chamamos isso de substâncias emergentes. Então, a gente tem resíduos de antibióticos, anti-concepcional, cafeína, na água, que não são removidos no tratamento convencional da situação do tratamento. Isso é uma questão séria que a gente tem que pensar. A saúde está condicionada ao saneamento”, afirma.

Segundo ela, existe um dado de que, para cada um real investido em saneamento, se economiza quatro em saúde. “Essa temática precisa ser tratada para ontem e as pessoas têm que ter acesso a essa informação, o potencial que elas estão perdendo, Imagina todos os nossos canais, se houvessem tratamento de esgoto na cidade, como seriam os nossos canais urbanos? Como seria a Doca, por exemplo? Como seria tomar um no Ver-o-rio? A gente está perdendo principalmente no contexto de saúde, porque as doenças de veiculação hídrica elas ocupam 60% dos leitos no mundo inteiro, são uma média mundial”, destacou.

As análises realizadas por Katiucia são a partir do Índice de Pobreza Hídrica (IDH), que é um parâmetro utilizado para gestão dos recursos hídricos, para melhor gerenciamento das águas. Ele indica a escassez de água e associa isso ao aspecto socioeconômico aplicado para todo o Brasil. “O índice de pobreza hídrica é uma ferramenta interdisciplinar. Então a ideia é associar o bem-estar doméstico à disponibilidade de água. Isso para indicar o grau de escassez de água. Como que esse grau de escassez vai impactar na população que está sendo avaliada? Eu utilizo esse indicador como um recurso do quanto que eu tenho de água disponível, e aí, eu vou ajustando essas exigências a condições de segurança de disponibilidade. Eu faço uma pesquisa num determinado bairro, por exemplo, e vou avaliando. Vou até as casas e aí eu pergunto como é que é o acesso e vou linkando isso a algumas condições. Se o consumo é alto ou não, se é possível se higienizar com essa água. É criado um checklist e a partir dessas respostas que eu vou obtendo, a partir dessa pesquisa que eu faço, posso associar qual o índice de pobreza hídrica para aquela dada área de estudo”, relatou.

Falta de investimento

Em outra perspectiva, também há a ausência de investimentos para levar acesso, como relata a pesquisadora do GPIDATS e coordenadora do Programa de Qualidade de Vida (PQV) do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Maria Cecilia  Rosinski Lima Gomes: “eu acho que o motivo da falta de água potável é a falta de investimento mesmo, investimento público. Tem um artigo que fala que a Região Norte é a pior de investir no saneamento básico. Mas essa falta de investimento tem várias justificativas. Então é mais rentável para uma empresa, por exemplo, prestadora de serviço, trabalhar em uma cidade que tem o maior número de clientes do que uma população ribeirinha, uma comunidade de vinte e até menos casas. Tem que ter um investimento de outra forma, um olhar mais social”, defendeu. 

Segundo o seu estudo, em parceria com Leonardo Capeleto, na Amazônia Central, diversas comunidades ribeirinhas vivem em meio às águas, mas sem acesso a sistemas de abastecimento de água. Em comunidades estudadas, oito em cada dez casas captam e armazenam a água das chuvas para diferentes usos, incluindo beber e cozinhar. As volumosas chuvas desta região somam cerca de 2500 litros por metro quadrado ao longo de um ano – mais intensas e frequentes em torno de abril e menos da metade deste volume por setembro. Porém, enquanto a maioria (73%) destes domicílios possuem reservatórios de água, apenas 35% têm capacidade para mais de 100 litros por pessoa. Ou seja, estas famílias dependem das chuvas frequentes para não sofrerem com a falta de água.

A pesquisadora destacou também que enquanto comunidades maiores têm algum tipo de abastecimento centralizado, as pequenas dependem das soluções individuais. As que vivem mais próximas (até 26 km) de centros urbanos costumam utilizar a água de poços – o que não garante a qualidade para beber. E quando não conseguem coletar a águas de poços, nem das chuvas, a única fonte de água são os rios e lagos amazônicos, que possuem muito sedimento ou matéria orgânica. “O tratamento domiciliar das águas (feito dentro de cada casa) é uma atividade rotineira das comunidades amazônicas. Porém, o hipoclorito (cloro) – método mais comum de desinfecção de água no Brasil – é utilizado em pouco mais da metade dos domicílios. Em alguns casos, a água dos rios é consumida após ser apenas “assentada” (decantada) e coada em um pano comum”, informou.

“As principais conclusões são que a maior parte as comunidades não tem um acesso adequado à água, não tem sistema de abastecimento, que a água de chuva é muito relevante pra população da região, dessas comunidades ribeirinhas. Porém, a condição de aproveitamento não é adequada, porque os reservatórios são pequenos. Também mostrou que as populações das áreas de várzea que são as áreas alagáveis tem uma condição pior de acesso a água. Continuamos com a pesquisa, os dados de qualidade da água, das águas consumidas nas residências e das águas que são tratadas pela pela própria família dentro de casa. É comum que haja o tratamento da água por hipoclorito por exemplo. Porém, será que esse uso tem sido eficiente? Então é a pesquisa que está em andamento agora e que faz parte do meu estudo de doutorado”, 

informou Maria Cecilia.

Localização da região de estudo e comunidades . Foto: Reprodução / Artigo ‘Condições de uso e níveis de acesso domiciliar à água em comunidades rurais na Amazônia’

A equipe do Portal Amazônia também conversou com o pesquisador Associado do Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS) do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e pós-doutorando no Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (CEPAS) do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), Leonardo Capeleto de Andrade, para falar a respeito do acesso à água na região amazônica.

“É lamentável que estas cidades não aparecem apenas com índices ruins de tratamento de esgoto (o que já seria lamentável), mas algumas também com baixos índices de abastecimento de água. E nesta lista, estão cidades maiores. Então, imagine a situação das cidades menores?! Quando avaliamos os índices baseados nos dados do IBGE, em números totais, os valores podem até parecer maiores, puxados pelas capitais – onde se concentra grande parte da população”, comentou. 

Pensando nisso, o pesquisador refletiu sobre a invisibilidade das cidades e comunidades dos interiores dos Estados na região. “E nas áreas rurais dessas cidades, a situação pode ser ainda mais precária. No Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 6, da Agenda 2030 da ONU, a meta é ‘alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos e todas’, até 2030. E ‘sem deixar ninguém para trás’. Desta forma, o maior esforço será alcançar as áreas rurais e as comunidades ribeirinhas mais distantes dos centros urbanos, que algumas vezes estão a centenas de quilômetros. É paradoxal que, na região com a maior quantidade de água doce e prontamente disponível do planeta, ocorram pessoas com dificuldade de acesso à água potável. Talvez justamente por esta grande quantidade, a sensação de que ‘as pessoas não estão passando sede’, que as populações fiquem sem o devido atendimento público”, alertou.

Quais as consequências que o consumo de água contaminada podem causar?

O pesquisador do Instituto Mamirauá também apontou as consequências e riscos sofridos pelo contato com a água contaminada: “Depende do que está contaminando a água. Existem diversos parâmetros na potabilidade da água (no Brasil, do Ministério da Saúde). Que vão desde químicos a microbiológicos. Há por exemplo metais pesados, que causam diversos problemas potenciais, como o mercúrio que causa problemas neurológicos e outros como o chumbo que podem se acumular no sistema gastrointestinal, na gordura e até no leite materno. Mas um dos indicadores mais comuns de contaminação das águas no Brasil são os coliformes, como os popularmente chamados de “coliformes fecais” (ou termotolerantes) e a Escherichia coli, uma bactéria que ocorre naturalmente no intestino de animais (como os humanos) e que se ingerida causa problemas. Estas bactérias podem causar problemas gastrointestinais, desde complexos até uma “simples” diarreia – um problema “evitável” que causa centenas de óbitos anualmente”.

O que podemos esperar para o futuro?

A coordenadora do Programa de Qualidade de Vida (PQV) do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Maria Cecilia acendeu um alerta em relação ao que podemos esperar pelo futuro em relação as consequências geradas pelas ações antrópicas e as mudanças climáticas. 

“A previsão para o oeste da Amazônia é o aumento da duração e intensidade das cheias, e para o sul a previsão é aumento da seca. Nos dois cenários, a população e as cidades mais vulneráveis são as que mais sofrem, por não terem infraestrutura adequada. Então, as comunidades ribeirinhas e as cidades vão sofrer com a escassez de água ou com as inundações, que no final das contas, geram escassez de água potável também. A previsão é ruim nesse sentido. É preciso uma adaptação das estruturas de saneamento básico, sendo resistente à inundação, por exemplo. O uso de mais de uma fonte de água é importante também, contribui com a resiliência”, 

ponderou.

Foto: Karina Pinheiro / Portal Amazônia

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pioneiro no ensino de música no Amapá, Nonato Leal é anunciado ‘Patrono da Educação em 2025’

Leal, aos 97 anos, faz parte dos primeiros professores do atual Centro de Educação Profissional de Música Walkíria Lima.

Leia também

Publicidade