Uakari dos Kanamaris: conheça a nova e exclusiva espécie de macaco da Amazônia

O primata possui características genéticas e coloração diferentes de outros macacos do gênero, de acordo com estudo.

Naturalmente diversa, a Amazônia possui uma riqueza incalculável de espécies de fauna e flora na região. Considerada a maior floresta tropical do mundo, são mais de 40 mil espécies de plantas descritas, cerca 300 espécies de mamíferos e 1,4 mil espécies de aves.

Em relação aos primatas, a Amazônia é uma das regiões com a maior diversidade do mundo. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a região abriga cerca de 20% de todos os táxons descritos do grupo e 16 espécies ameaçadas de extinção nacionalmente.

E, de acordo com um estudo recente publicado na revista Molecular Philogenetic and Evolution, mais uma espécie de macaco agora faz parte do grupo descrito. E este é exclusivo, só existe na Amazônia. 

Espécies do gênero Cacajao. A primeira é a recém descoberta do gênero. Foto: Divulgação

Uakari dos Kanamaris 

Nomeado como uakari dos Kanamaris (Cacajao amuna), trata-se de um macaco de pelagem totalmente branca no corpo e a face sem pelos e de tom avermelhado. A espécie foi observada inicialmente na região do Rio Tarauacá, que banha os Estados do Acre e Amazonas. O nome escolhido para batizá-lo é uma homenagem ao grupo indígena Kanamaris, do Juruá. 

Uma das principais diferenças entre o uakari para outras espécies do mesmo gênero está na morfologia, explicou o autor principal do artigo ao Portal Amazônia, o pesquisador Felipe Ennes da Silva, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Marirauá.

“A principal característica que esta espécie de uakari recém descrita tem é a coloração branca. Há outra espécie de uakari, denominada Cacajao calvus, que ocorre na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, e que também possui uma coloração da pelagem clara, mas esta possui regiões do corpo com a pelagem amarelada e alaranjada, como a região do tórax e a parte interna dos membros. A distinção entre esta espécie e a nova espécie, Cacajao amuna, só foi possível porque revisamos o material de coleções científicas no Brasil e no exterior, e conseguimos então fazer esta comparação de forma mais detalhada”,

esclareceu.

Foto: Marcelo Santana

Felipe também estudou exemplares das outras espécies existentes em museus do Brasil, Estados Unidos e Europa para comparar os diversos espécimes.

Área de ocupação

O macaco uakari tem como habitat uma área próxima ao Acre e ao Amazonas que fica a 700 km de onde as demais espécies são encontradas.  Felipe Ennes salienta o porquê desse fenômeno acontecer:

“Um importante fator que estamos considerando para explicar este padrão de distribuição geográfica dos uakaris é a dinâmica geomorfológica da região do centro-oeste da Amazônia. Rios muito sinuosos como o Juruá, por exemplo, mudaram de direção nos últimos 100 mil anos, aproximadamente, em razão desta dinâmica. Isso, por sua vez, promoveu diferentes episódios de contato e isolamento de populações de uakaris”.

Felipe Ennes da Silva.

Desmatamento e ameaças à espécie

Apesar de ser uma espécie recém descrita na ciência, fatores como as mudanças climáticas e o desmatamento podem afetar a sobrevivência da espécie. Análises preliminares do artigo publicado mostram que os uakaris são sensíveis às mudanças climáticas, porque a mudança do clima também afeta a estrutura da floresta, habitat dos primatas neotropicais. 

Esse processo é conhecido na ciência como a “savanização da Amazônia”. Apesar de o status de conservação da espécie não ter sido avaliado ainda, o cenário pode ser preocupante.

Leia também: Processo de savanização da Amazônia deixará 11,5 milhões de pessoas expostas a risco extremo de calor até 2100

Em relação ao desmatamento, este pode ser outro fator que prejudique a existência da espécie. O autor do artigo comenta que nesse caso, não há “adaptação” ao desmatamento, uma vez que os primatas da América do Sul, Central até o México são essencialmente arbóreas.

” No caso dos uakaris, embora algumas espécies se encontrem em áreas de relativa baixa densidade populacional humana, como no médio Rio Solimões, por exemplo, há espécies mais ao sul que sofrem com perda de hábitat por desmatamento na BR-364, que liga Rio Branco à Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre. Neste casos, temos uma preocupação dupla: desmatamento e mudanças climáticas. O uakari dos Kanamaris, por exemplo, encontra-se nesta região”,

destacou o zoólogo.

Mas este é apenas o início dos estudos acerca da nova espécie. “Ainda há muito para estudar sobre os uakaris e sobre a Amazônia. Temos que manter nossa floresta de pé ou estaremos perdendo uma riqueza que sequer conhecemos! Extinção é para sempre! Então protejam nossas florestas e nossa fauna!”, alertou Felipe Ennes.


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