Portal Amazônia responde: existe camarão de água doce?

Facilmente encontrado no oceano, o camarão é chamado de fruto do mar. Porém, também existem registros de espécies na bacia amazônica.

Um dos crustáceos mais famosos dentro da culinária e cultura brasileira é o camarão, tipicamente encontrados nas regiões litorâneas dos oceanos Atlântico e Pacífico, esses seres invertebrados artrópodes são da mesma classe das lagostas e caranguejos. A maioria dos animais possui pequeno porte, os comuns chegam a atingir cerca de vinte centímetros de comprimento.

Uma das características marcantes nos camarões são suas longas antenas e seu conjunto de apêndices bucais utilizados durante a alimentação. De modo habitual eles costumam nadar para frente, mas quando amedrontados costumam se mover para trás.

Mas afinal, existem registros de camarões na bacia amazônica? O Portal Amazônia conversou com o doutorando em Aquicultura, Adry Trindade, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), para responder perguntas sobre a espécie. 

Foto: Reprodução/ Guia Animal

Afinal, existe camarão de água doce?

Dentre as diversas espécies de peixes que fazem parte da bacia Amazônia, na água doce existe o Camarão-da-Amazônia (Macrobrachium amazonicum), a espécie pode ser dividida entre camarão costeiro ou continental. A diferença entre os dois está principalmente relacionada ao período de reprodução. O continental costuma ser encontrado no Baixo Amazonas e Médio Solimões, completando seu ciclo reprodutivo em água doce. Já o costeiro tem o hábito de se deslocar para água salobra, ou seja, os rios que sofrem influência direta do mar, e assim concluem seu período de reprodução.

“A diferença entre as espécies de água doce e água salgada na sua maioria se dá pela fase de reprodução. Geralmente os camarões de água doce (Macrobrachium), nascem em um estágio mais avançado, sendo chamado de zoea. Já os camarões de água salgada nascem em um estágio anterior, nascendo como náuplios, outra fase da larvicultura dos camarões. Uma outra diferença é que o Macrobrachium amazonicum precisa de água salobra para o nascimento das larvas de camarão”, destacou Adry Trindade. 

Essa espécie possui diferentes morfotipos que estão relacionados ao isolamento genético que a espécie sofreu ao se isolar geograficamente das outras populações. A alimentação do Camarão da Amazônia é rica em algas, restos de peixes e materiais em decomposição. Na aquicultura ele se alimenta de rações específicas para o cultivo dessa espécie.

“A comercialização dessas espécies se dá de forma comum, como os outros peixes, só que o diferencial dos camarões é que eles fazem processo de salga, eles são colocados em salmouras e fervidos, depois disso são colocados em exposição nas feiras. O camarão é bastante apreciado na culinária amazônica, principalmente quanto mais próximo da foz, maior é a intensificação da pesca e consumo dessa espécie”, revelou o especialista. 

Foto: Reprodução/ Guia Animal

Camarão de água doce pode ser encontrado no oceano?

Durante o período reprodutivo, o Camarão-da-Amazônia costeiro passa por um deslocamento voluntário realizado durante a larvicultura. Esse fenômeno natural surge através da necessidade da riqueza de nutrientes presentes na água salobra, que contribui com um melhor desenvolvimento larval.

“Essa espécie se aproxima da costa durante sua fase reprodutiva, no período em que ele desova, despejando e favorecendo o nascimento das suas pós-larvas. Porém, a concentração salina que ele se adapta durante a fase de larvicultura é uma salinidade que varia entre 12 e 15. A concentração oceânica vai em torno de 30 ou mais, dependendo do local, então ele se aproxima da costa, não chegando ao oceano aberto”, esclareceu o pesquisador.

Uma pesquisa divulgada em março de 2022, pela Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, revelou que o Camarão-da-Amazônia está sofrendo forte exploração vinda dos pescadores, sendo uma espécie com poucas informações relacionadas a manejo e pescaria. 

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