Portal Amazônia responde: a mandioca é tóxica?

Resistente à seca e adaptável à diversidade de clima e solo, a mandioca é um dos principais meios de sobrevivência da população rural amazônica.

A partir desse insumo, é feita a fabricação de farinha, biscoitos, bolos, alimentos processados, tintas e até mesmo medicamentos. Pode ser consumida frita, cozida, em purê e está na produção de várias iguarias. Estamos falando da mandioca.

Considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) o alimento do século XXI, a mandioca é um alimento fundamental no Brasil, inicialmente para os indígenas, desde a colonização brasileira e, até hoje, possui extrema importância na alimentação e economia da Amazônia e do País como um todo.

A mandioca é resistente à seca e se adapta a diversidade de clima e solo, sendo um dos principais meios de sobrevivência da população rural. Talvez você já tenha escutado que a mandioca é tóxica, mas será que essa informação é verdadeira?

O Portal Amazônia entrevistou o pesquisador da Embrapa, mestre em Extensão Rural e pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Mandioca e Fruticultura Tropical, Joselito Motta, para falar sobre essa questão que ainda instiga muitas pessoas.

Foto: Divulgação/Embrapa

Para contextualizar, é necessário entender a importância da mandioca. O pesquisador reforça que é necessário saber que a mandioca tem papel fundamental no País desde o período da colonização. Quando os portugueses chegaram, encontraram a mandioca como alimento base para os nativos indígenas.

“A mandioca teve um papel decisivo na questão da energia alimentar para o trabalho dos indígenas e depois de forma mais intensa em todo o processo de colonização. Assim, a primeira carta encaminhada ao rei de Portugal por Pero Vaz de Caminha, quando se referia ao alimento básico dos indígenas, há uma menção importante: ‘eles não comem se não doutra coisa, a não ser do nhame que brota da terra'”,

relata.

Essa referência ao nhame, explica Joselito, decorre do fato de Portugal ter algumas colônias na África e de lá ia para Lisboa um nhame e, como os colonizadores não conheciam a mandioca, achavam que fosse esse mesmo nhame.

Além disso, vale ressaltar que em 1564, chegou o Padre Anchieta e batizou a mandioca de pão-da-terra ou pão-dos-trópicos. “Então, não há dúvida de que a mandioca é a raiz do Brasil. Essa fonte de carboidrato que está presente em todo o território brasileiro e um carboidrato de valor inestimável”, completa o pesquisador. 

Mandioca brava e mansa? 

Mas afinal, a mandioca é tóxica? De onde vem essa afirmação? A resposta é sim, mas depende. Parece confuso, mas é porque existe uma variação no entendimento da mandioca: a brava e a mansa. 

“A mandioca brava, em um plano técnico, é aquela que tem um princípio tóxico mais acentuado, que é o ácido cianídrico. As mandiocas bravas possuem o teor de ácido cianídrico mais elevado que 100 ppm (partes por milhão). E essas são as variedades normalmente destinadas a fabricação da farinha”,

descreve Joselito.

Já a mandioca mansa, também chamada de mandioca de mesa, aipim, macaxeira ou mandioca doce, dependendo da região, possui uma polpa mais adocicada -a brava é amarga – e com princípio tóxico mais leve. Ambas são utilizadas para fazer a popular farinha de mandioca. 

Diferença da mandioca na Amazônia para o resto do país 

Joselito Motta também ressalta o fato de que tirar a toxicidade da mandioca não é um processo difícil, basta processar o insumo. Ao processar as raízes e folhas para consumo, o princípio que a torna tóxica é volatilizado (evapora).

Porém, há um aspecto interessante: esse processamento é diferente em regiões como o nordeste e o sudeste quando comparados à Amazônia. No restante do País, como explica Joselito, “você descasca a raiz, processa no ralador, prensa, leva ao forno e tem-se a farinha. Já na Amazônia, por ter áreas alagadas como igarapés e igapós, ocorre o processo chamado como farinha d’água”. 

“A raiz é colocada nos igarapés, no Amazonas, Pará e no Acre, por exemplo, onde há a abundância de chuvas e isso é uma herança ancestral: a farinha de puba, na qual a raiz fica no igarapé, passando por um processo de apodrecimento na água e depois de três a cinco dias as cascas se desprendem e são colocadas em embalagens feitas com folhas de carnaúba ou de babaçu e são levadas para o ralador, mas a raiz sofreu um processo de fermentação, diferente no restante do país”,

explicou o pesquisador.

E aí? Você conhecia as diferenças?

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