Espécie amplamente caçada entre as décadas de 1930 a 1950, é considerada vulnerável à extinção. De 2016 até 2021, foram reintroduzidos 44 peixes-boi de volta na natureza.
Explorado indiscriminadamente desde o século passado, o peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) está listado como “Vulnerável” à extinção no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e também na lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
Quem caça o peixe-boi tem como objetivo na maioria das vezes exportar o couro para aplicações industriais, como mangueiras, correias de transmissão, polias e peças de teares. Com isso, algumas associações surgiram com intuito de preservação e manutenção da espécie.
É o caso do ‘Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia’, realizado pela Associação Amigos do Peixe-Boi (AMPA) em Manaus (AM). Os principais objetivos são resgate, reabilitação e reintrodução dos animais em seu habitat natural.
Apesar dos esforços, são muitas as dificuldades enfrentadas por pesquisadores. Mas a esperança é grande: recentemente foi publicado um estudo que trouxe o surgimento de indícios de crescimento da população de peixes-boi na natureza.
O Portal Amazônia explica como está atualmente o processo de reintrodução. Confira a seguir:
No Brasil, a proibição da caça foi decretada em 1967. Apesar disso, em comunidades distantes de Unidades de Conservação, como a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus, no Amazonas, a atividade de caça ainda é comum.
A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Vera da Silva, é líder do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) e do Projeto Peixe-Boi. Ela conta que não há uma estimativa exata da população, mas que indícios como plantas comidas, fezes e a visualização dos animais em si sugerem a recuperação da população de peixes-boi na região.
“O monitoramento é feito acompanhando os animais que carregam um transmissor do tipo VHF. Cada transmissor tem uma frequência única e é possível acompanhar esses animais. Em junho de 2021, dos 13 animais liberados, cinco foram liberados com esses transmissores e ainda estão sendo monitorados por ex-caçadores de peixes-boi treinados para executar essa atividade de monitoramento”, explica a pesquisadora, que também afirma que é utilizado um equipamento chamado hidrofone para ouvir os animais mastigando embaixo d’água e computar presença ou ausência dos animais na área amostrada.
Reintrodução
A espécie costuma se alimentar principalmente em épocas chuvosas, quando há uma disponibilidade maior de plantas. Às vezes chegam a consumir 10% do seu peso em um único dia (eles chegam a pesar 300 kg). Por isso, quando resgatados com vida de cativeiros clandestinos, os peixes-boi na maioria das vezes apresentam condições nutricionais debilitadas.
“Desde 2008 que o LMA/Inpa reiniciou o Programa de Reintrodução de peixes-boi reabilitados em cativeiro. Tivemos problemas com a adaptação desses animais na natureza e implementamos o período de semi-cativeiro de um a dois anos. Também, com a falta de verbas, só reiniciamos nossas atividades em 2011″, comentou Vera da Silva.
Depois do resgate, os animais passam de dois a três anos no plantel do Inpa, popularmente conhecidos como tanques. Se bem adaptados, são transferidos para o semi-cativeiro para se habituarem às condições naturais, como sons, cor da água, lama e como buscar seu próprio alimento.
O semi-cativeiro pode durar até três anos e, após bem sucedidas essas fases, eles são finalmente reintroduzidos ao seu habitat.
Desafios
O peixe-boi-da-amazônia é uma espécie endêmica, ou seja, caso entre em extinção na Amazônia, não há registros em nenhum outro lugar do planeta. Além disso, a reprodução do animal é lenta. A gestação das fêmeas dura cerca de 13 meses com apenas um filhote.
Vera complementa dizendo que as chances de crescimento populacional da espécie são grande, mas ressalta os desafios: “O Inpa e a Ampa não possuem recursos disponíveis para novas solturas, embora existam vários animais no plantel do Inpa aguardando serem transferidos para o lago de semi-cativeiro e futura reintrodução“.
Confira o estudo completo aqui.