Culturalmente, enquanto homens ocupavam, no geral, postos de liderança e caça, as mulheres eram responsáveis pela alimentação e cuidar da moradia. Mas muitas delas romperam com essas definições.
Nas últimas décadas, mulheres tem se destacado em diversas áreas do conhecimento e da sociedade. Seja na educação, ciência, cultura, esportes e até mesmo na cultura indígena. Com raízes patriarcais e por vezes machistas, muitos povos indígenas na Amazônia possuíam funções pré-estabelecidas para homens e mulheres.
Enquanto homens ocupavam, no geral, postos de liderança e caça, as mulheres eram responsáveis pela alimentação e cuidar da moradia. Mas muitas delas romperam essa cultura.
O Portal Amazônia encontrou três delas que fugiram desse padrão e se tornaram pioneiras ocupando o posto de pajé em seus territórios. Confira:
Mapulu Kamayurá
Filha de Takumã e Kurimatá, de uma tradicional família dos Kamayurá, Mapulu começou a se tornar pajé aos 15 anos. Nessa época, ela ficou muito doente e passou meses em tratamento, deitada em redes, e esse foi um marco para o seu destino.
Durante sete anos foi treinada por seu pai para se tornar pajé. Na época, ainda jovem, chegou a ficar cinco dias sem comer, ver e escutar, apenas fumando para adormecer e encontrar seu mama (o espírito-guia dos pajés).
Tornou-se referência do seu povo na busca para resolver os males do corpo e da alma e tem uma ação efetiva na busca pelo fortalecimento das mulheres. Tanto, que sua atuação foi reconhecida pelo Ministério dos Direitos Humanos, quando recebeu, em 2018, um dos prêmios Direitos Humanos 2018. A indicação ao prêmio foi feita pela então Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, do Ministério dos Direitos Humanos, como forma de reconhecer sua liderança no Alto Xingu.
Mapulu também é uma das organizadoras da “Festa Yamaricumã”, uma tradicional celebração, exclusiva das mulheres, em que elas se transformam em guerreiras, e também da “Festa do Uluri”, ritual de formação de lideranças femininas das tribos.
Raimunda Putani e Kátia Hashahu (irmãs)
Raimunda Putani Yawanawá é uma indígena que pertence ao povo Yawanawá, no Acre, e nasceu na Terra Indígena do Rio Gregório. Ao lado de Kátia Hushahu, sua irmã, foram as primeiras mulheres da sua tribo a se tornarem pajés.
Educadas na cultura indígena, mas também com influência do homem branco, ambas sempre falaram a língua portuguesa com facilidade. As duas desafiaram as tradições patriarcais do povo Yawanawá.
Em meados de 2005, grande parte do conhecimento xamânico presente na sua aldeia estava centrado na mão de idosos. Foi aí que pediram ao pai para fazer o treinamento para se tornarem pajés. Como não havia histórico de pajés mulheres na aldeia, logo a ideia foi descartada.
Depois de muita relutância, fizeram o treinamento. As irmãs tiveram que ficar um ano isoladas, comendo alimentos crus e sem beber água, somente um líquido à base de milho.
Desta maneira, puderam fazer o juramento à planta Rarê Muká, considerada sagrada nesta cultura porque abre a mente para o conhecimento e para a cura. Agora, elas são uma das únicas duas xamãs e líderes espirituais.
Atualmente, Kátia é pintora e artista. Suas obras são inspiradas em suas experiências espirituais e privilegiam o olhar feminino e indígena na construção e manutenção da memória de seu povo, retratando sobretudo mulheres integradas ao contexto dos seres espirituais.
*Com informações da Fundação Nacional dos Povos Indígenas
E aí? Conhece mais mulheres indígenas que se tornaram pajés?