Com uma abordagem de diferentes aspectos sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) representou o Brasil na Semana da Amazônia, promovida pela Embaixada do Brasil em Berlim.
Para o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes, não há dúvida sobre o interesse acerca da Amazônia, especialmente por ser um regulador climático global. A evaporação da floresta é responsável por gerar nuvens, influenciar a circulação atmosférica entre continentes e hemisférios, e estoca relevante reservas de biomassa e carbono no solo.
“A pesquisa científica e a experiência desempenham um papel crítico para a tomada de decisão e na orientação de políticas eficientes. Isso é dramaticamente verdadeiro para o bioma amazônico”
disse.
Moraes destacou ainda que há lacunas de comunicação entre pesquisadores e formuladores de políticas na região, e lacunas de conhecimento científico sobre a biodiversidade. “Resolver essas lacunas é um desafio urgente”, salientou.
Outro desafio sob a perspectiva do MCTI é o desenvolvimento consistente e sustentável, especialmente por meio da bioeconomia de baixo carbono na Amazônia. “É um desafio complexo e multifacetado, mas também é crucial para abordar a sustentabilidade ambiental e econômica.”
Produção científica
O chefe do setor de Ciência e Tecnologia da Embaixada do Brasil em Berlim, Pedro Silva, apresentou números recentes da Elsevier/Scopus, maior base de dados global sobre produção científica. Desde 2005, o Brasil lidera a produção científica global sobre a Amazônia. Até então, a liderança era dos Estados Unidos. Segundo os dados, entre as 20 instituições que mais produzem, 16 são brasileiras, sendo seis localizadas na Amazônia. A Universidade de São Paulo (USP) lidera o ranking.
Segundo Silva, a embaixada tem buscado mostrar, por meio de eventos e publicações, o elevado nível de excelência da ciência e tecnologia brasileira. A iniciativa também é um mecanismo para promover aproximação e cooperações internacionais.
“No caso das instituições amazônidas, essa exposição é fundamental. Por um lado, para que o público alemão saiba que há muita demanda por ciência e, consequentemente, produção científica de qualidade na região. Por outro, para que possam ser forjadas cooperações internacionais que contribuam para o incremento das capacidades de pesquisa locais”
declarou Silva.
Interação entre floresta e atmosfera
O pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), unidade vinculada ao MCTI, e coordenador pelo Brasil do Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), Carlos Alberto Quesada, apresentou a infraestrutura utilizada para conhecer a interação entre a floresta e a atmosfera. O programa de pesquisa é desenvolvido em conjunto com o instituto alemão Max Planck de Biogeoquímica. Com 325 metros de altura, a torre principal é instrumentada com centena de sensores. O local também dispõe de outras duas torres para medir dados dentro da floresta. “É uma infraestrutura incrível”, ressaltou.
Segundo Quesada, o interesse é compreender o que está acontecendo em toda a área do sítio de pesquisa, incluindo solo, plantas, ciclo do carbono. Há 18 temas de pesquisa envolvidos. “É realmente sobre a conexão da floresta com a atmosfera”, comentou.
Idiomas indígenas
A pesquisadora Vilacy Galucio, do Museu Emílio Goeldi, unidade vinculada ao MCTI, abordou os idiomas indígenas presentes no Brasil. Segundo ela, há mais de 150 línguas, sendo que mais de dois terços estão na região amazônica. Apenas no Pará há cerca de 25 línguas nativas. Segundo ela, o número é igual ao da Europa ocidental. Contudo, a pesquisadora alerta que os idiomas estão se extinguindo pela interrupção da transmissão do conhecimento, que é feita de modo oral. “Muitos idiomas têm poucos falantes. Apenas 18% dos idiomas têm mais de 1 mil falantes”, explicou.
Também participaram da sessão apresentando pesquisas feitas na região professores e pesquisadores do Instituto Mamirauá, das Universidades Federais do Pará e do Amazônia, e da Fiocruz Amazônia.